terça-feira, 31 de maio de 2011

Bipedice em obras

Nzamba é elefante em quimbundo. Quimbundo, para quem não sabe, se fala em Angola. Entre outras línguas, é claro. Elefante em bipedês é um paquiderme tatara tatara tatara bisneto em alguns milhões de potência de um mamute, talvez, adorável. E mamute é coisa que a bípede sabe ser em doses homeopáticas, quer seja ouvindo  música, quer seja lendo o Raduan. Raduan, em hebraico, significa filho dos deuses. Em bipedês, a tradução exata é o próprio  senhor deus em papel e  letras bem fortes, o que combina com  ideias e  xícaras de chá e uma enorme bagunça, que a bípede está a desmontar o escritório para transformá-lo em uma piscina de livros. A bípede sempre quis ter uma vista para o mar. Não tem nem vista nem costas porque em Porto Alegre não há mar, mas há tintas azuis, uma imensidão de azuis para colorir as paredes e combinar com a cabeça  cheia de nuvens.

sábado, 28 de maio de 2011

Da arte das nuvens VI

Descortinado o céu, tu fechas os olhos para não me perder de vista. Fecha os olhos, e os meus se abrem em nuvens demarcadas pelo fio das tuas chuvas, rastros de mágoas e gente sem névoas, suspensas no caderno da tua atmosfera  e indiferentes ao arco-íris de gotas com que tu te desenhas sobre as lágrimas das minhas ventanias.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Desafio da Marta, do blog Há vida em Marta

a) A Marta enviou, eu aceitei, mas ainda não respondi. Logo, respondo. Talvez, um logo meio longo, mas ainda assim um logo!
b) Começei a responder.

1 - Existe um livro que lerias e relerias várias vezes?

 Lavoura Arcaica, do Raduan Nassar. Na verdade, já li umas 10 vezes e seguirei lendo e relendo até o livro gastar. O que não será um problema porque eu tenho um segundo exemplar guardadinho para esse dia ahahahaha, e que ninguém chame a polícia ou um analista, que o caso é de amor e não de obsessão!

2 - Existe algum livro que começaste a ler, paraste, recomeçaste, tentaste e tentaste e nunca conseguiste ler até ao fim?

Não. Antes de parar, penso bem. Se abandono de vez, não volto mais.

3 - Se escolhesses um livro para ler para o resto da tua vida, qual seria ele?

Não é se. É é mesmo que já escolhi: Lavoura Arcaica, do Raduan, oh, Raduan!

4 - Que livro gostarias de ter lido mas que, por algum motivo, nunca leste?

Sempre li o que quis. Nenhum escapou da minha bipedice quando meu cérebro fez bip bip em frente a prateleira!

5- Que livro leste cuja 'cena final' jamais conseguiste esquecer?

Lavoura Arcaica, do meu Raduan, oh, Raduan, por que você não sabe que eu existo??? :(

6- Tinhas o hábito de ler quando eras criança? Se lias, qual era o tipo de leitura?

Lia, mas sem fanatismos, que eu adorava bonecas, mesmo quando eram de lixo! Lia Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, contos de fadas (A Dona Baratinha, aquela que tinha dinheiro na caixinha) e adaptações dos clássicos. Achava lindo ser Penélope sem ter a mínima noção de que bom era ser Ulisses!

7. Qual o livro que achaste chato mas ainda assim leste até ao fim? Porquê?

Lucíola. Não lembro o autor. Coisa da escola. Leitura obrigatória. Uma chateação.

8. Indica alguns dos teus livros preferidos. 

Lavoura Arcaica
Os irmãos Karamazov
Crime e Castigo
Antes de nascer o Mundo
O Grande Gastby
De verdade
O nome da Rosa
Lolita
Auto-de-fé
O Retrato de Dorian Gray
Madame Bovary
Luuanda
Cem anos de solidão
O africano

9. Que livro estás a ler neste momento?

Um erro emocional - Cristovão Tezza.

10. Indica dez amigos para o Meme Literário:
Marie - Gavinhas da Alma 
GED - TERRAMAR
Paulo Amaral - DORAVANTE, BRASIL
Lucia Alfaya - Lucia Alfaya
Marcantonio - O Azul Temporário
Tania Contreiras - Roxo-Violeta

Xiii. Tá me batendo uma preguiça :) Então, todos os que estão na coluna ao lado em Outros Bípedes! E estamos conversados.

Oco

Arranca-me do teu rebanho de nuvens, derrama o branco da tua ausência sobre as minhas palavras. Vai, voa, faz delas um espelho no céu e usa a tua tinta para pintar a  chuva. Olha pela tua janela, veja as mãos que agarram-se as tuas e tramam em tua pele  um nó cego de intimidades,  falsa sintonia a quem tu acalentas, oco, oco com  as histórias e com os adjetivos  sem força e distantes de um amor enfim.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Coordenadas

Me empreste os seus olhos para que eu vasculhe a cicatriz que se arremessa sobre os  meus verbos. Os meus verbos tão esmagados pelo abundante egoísmo de algumas palavras, sons  perdidos pelos  tique e taques de erros e frases. Frases sem paralelos e meridianos,   presas a um relógio com as marcas, trópicos e  eixos do círculo polar de seus ponteiros.

sábado, 21 de maio de 2011

Bípede Falante

O clima não é de ano-novo. O aniversário do blog passou em branco porque eu me esqueci. Esqueci do pobrezinho, oh, bloguinho,  para falar a verdade nem sei direito qual é a data, sei que é em abril, que eu sou uma mulher de fases  e também de um pouco de vinho desde que elas aconteçam em abril, e quando pensei em dizer qualquer coisa fiquei com preguiça, bem pouca, que ando tão disciplinada e escrevente, escrevinhando, ruminando, babando e todos os andos sobre o meu livro eterno de uma mente desastrada e  escrevinhando quase todos os dias, exceto um dia como o de ontem em que tive de fazer supermercado. Eu odeio ir ao supermercado. Nem escolher frutas eu aguento mais, porque até gosto da belezura e do sabor das frutas, mas acho um martítiro ter de pesá-las. E acho um martírio entrar em filas. E acho um martírio falar em martírio, então, vou falar  no blog e no cabeçalho novo que foi um presente e mesmo não sendo ano-novo e ano-novo tem hífen (tenho certeza), o que eu não tenho certeza é se hífen se escreve como eu escrevi ahahahaha, o que importa?, mesmo não sendo ano novo, vou comemorar porque o que importa é que o cabeçalho é novo, novinho em folha e lindo de lindo e eu estou muito agradecida e bípede e falante  e  com vontade de rir :)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Macacos se mordam

Nessa cabeça explosiva, computadores e teclados, em que desastres disfarçam-se de boa conduta, redesenhando coordenadas de uma mapa sem mundo, apesar das latitudes e longítudes já tão dissecadas pelos resquícios da geografia da mente, convictas dos seus eixos à prova de ruídos e dos dissabores que desorganizam as mesas do macaco moderno ( variável animal da qual, eu, protótipo sujeito a ajustes pertenço ainda que temporariamente em curto circuito), nessa cabeça explosiva, computadores e teclados revelam a natureza plástica e descartável dos modelos incertos e de difícil gestão, em que as atitudes ultrapassam a obviedade das palavras e intenções e fazem, dos discursos, uma política de inconsciência dos gestos  escondidos por detrás das lamúrias e dos obscuros pingos caídos de cada i.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Da série Posta Restante III

Não abra. E também não jogue fora esse envelope. Controle a curiosidade. Controle o controle. Coloque em uma gaveta sem chaves ou deixe em cima da mesa, deixe diante dos olhos e dos dedos como uma provocação ao capeta. Ordene sua resistência. Mostre ao fogo o quanto você tem chama. E cale o silêncio.  Mande-o abrir a boca. Disfarce o mal-estar enchendo-a  de  palavras e imagens invisíveis. Depois, beba-as de um único gole desse seu único e desastrado copo .

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Da série Posta Restante II

Devagar. O envelope está encharcado. Quase vejo um coágulo. O envelope era colorido antes de partir. O papel era puro, havia uma leve textura e um perfume, o meu perfume. Quando eu o comprei, como me é de costume, alisei-o com a mão e depois o levei até o rosto, esse rosto de prosa, carta branca na superfície do afeto, submerso, perdido, sem gestos, sem lar e sem o seu ninho. 

terça-feira, 17 de maio de 2011

Da série Posta Restante

Hoje acordei lerda nesse mar sem ondas, como nos sonhos em que sou invisível, aqueles sonhos em que flutuo  pela sua casa e espio os gestos escondidos por detrás de suas palavras, as suas palavras derramadas em letras, em poemas desafinados de amor e rabiscados de verdades,  meias verdades e inteiras mentiras, existem mentiras pela metade? E acordei decidida a trocar a xícara de café por uma de chá, uma de chá de frutas tão desambientado dessa água fria e frágil quanto eu, eu que preciso de camadas e camadas de roupa do mesmo jeito que preciso de camadas e camadas de zelo para suportar esse balanço, sensação de queda e desamparo em  madeira firme, desamparo grudado às relíquias do afeto, capaz de alquebrar-se diante da natureza do que é inegável e que eu, a sua covarde, sei até quando mergulho, mas teimo, insisto, prometo nunca nada  dizer.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dedos de Frida Kahlo

Sente, na impaciência das palavras, a força dos dedos. Os dedos de anéis discretos, dedos  de Frida Kahlo, afiados como agulhas, dedos que viajam pelos extremos da mente e não retiram do corpo as pequenas cores de nubladas imagens, dedos humanos antes de  selvagens,  presos a momentos, distantes de todos os remorsos, sempre presentes, sem presentes e  doloridos de nós e  memórias

domingo, 15 de maio de 2011

Danação II

Inevitável danação essa transparência que inunda a invisível fenda e restaura, em minha nudez, a tinta e o antídoto com que teço a tua geografia tão incerta quanto necessária no redemoinho das minhas respostas  deslocadas das tuas perguntas.

sábado, 14 de maio de 2011

Da arte das nuvens alcançáveis I

Fia os traços com histórias sem tempo. Ouve as bogagens que escapam da própria boca para encher-se de risos e acumular, na incerteza do ar, as fragrâncias de seu desejo de quebrar o céu enquanto há força e de ancorar, no corpo,  a  inviolável nudez de suas nuvens.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Da série verdades da minha bipedice I

Pra começar, lá vai uma confissão: eu adoro ouvir a conversa alheia.  Aliás, tem duas coisas que adoro fazer e que são confessáveis: ouvir a conversa alheia e espiar as casas alheias. Que fique claro que nunca fui presa por invasão de domicílio. Já bati em algumas portas, uma porta em específico para ser mais exata, com um pouco mais de força que o habitual. Bati porque achei que o ding dong da campainha não fazia altura à importância do momento. E o momento agora não interessa. Interessa que eu estava de salto alto, alto para época, que, hoje, os de quinze centímentros, circulando como se fossem Nikes, acabaram de vez com as minhas referências e com o meu equilíbrio. E bati porque tinha ouvido a conversa alheia, nem tão alheia assim, e porque queria espiar mais do que a mobília. Eu adoro móveis, quadros, tapetes, blablabas. Se forem antigos, do tempo do avô do avô de meu avô, me emociono. Deve ser porque tenho assim um  jeito meio fora de moda e porque sou do interior. Eu uso o interior para me justificar. Todo o meu interior, se é que me entendem. E, além de usar o todo do meu interior, eu  uso  também a palavra antigamente, porque falar an-ti-ga-men-te é pra-ti-ca-men-te uma mastigação. A gente fala, enche a boca, fica satisfeito e não engorda um grama. A minha modernidade em sua máxima potência se revela é aqui nessa coisa de teclar. Teclar é quase tão delicioso quanto datilografar. Falta o som. Já tentei converter  o tequeteque desse teclado no maravilhoso som da máquina de escrever. Tentei. Tenho tentado. Continuarei tentando. Eu tento, tu tentas, ele tenta. Todos tentamos alguma coisa. Nós, vós, eles e ela também.  A Marilena. A Marilena tenta. Que Marilena? Uma Marilena. Sei lá. Não sei direito. Os meus ouvidos de conversa alheia sabem melhor. Sabem, por exemplo, que a Marilena comprou hoje de manhã na livraria dos meus sonhos, pela Internet e pelo telefone,  28 livros, alguns títulos talvez repetidos porque ainda não tirou os de ontem das sacolas.  Sabem que a Marilena tem duas filhas para herdar as "obras". Sabem que entre as "obras" nenhum título sobre vampirismo escapou de sua sede. Sabem que a Marilena precisa comprar algumas estantes e não vai porque está sem "recursos". E sabem que a Marilena gasta por mês na mesma livraria dos sonhos uns cinco mil reais. Só não sabem se ela é doida de amarrar em livros. Mas isso eu acho que sei. Não sei?

Resgatado pela Maria Fonseca do blog Vidas Urbanas a quem devo agora uma das minhas muitas bípedes vidas! Obrigada, obrigadíssima, obrigadíssima a infinitas potências :)

O lado negro do google

No dia em que o blog parou, meu post foi engolido por um grande exército de antiblogs e sei lá em que papolândia ele foi parar. No dia em que o blog parou não era uma sexta-feira 13 e eu havia bisbilhotado uma história incrível. No dia em que o blog parou, eu tinha comprado dois livros. Graças ao bom senhor das livrarias, os dois tinham sido feitos de papel e, por isso, seguem aqui. No dia em que o blog parou, eu pensei em ter um ataque de nervos e quase ouvi o meu micro dizer: eu sou seu pai. No dia em que o blog parou, entendi que a minha bipedice e pouca para tudo o que acontece por aqui.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Outono na janela

Lá está a criatura, pensativa, diante da folha, ouvindo o tique e taque do relógio de parede que, de uma hora para outra, resolveu restaurar os minutos e povoar a casa de horas, horas de outono especializadas em sacudir memórias e limites. Lá está a criatura, pensativa, diante do teclado, ouvindo o zunir das plantas e das janelas que, de uma hora, para outra, resolveram restaurar o frio e despovoar os vidros de cores, horas de outono, especializadas em derrubar memórias, limites e pessoas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

In too deep

Na improvável verdade das palavras, invisíveis margens esbarram-se diante do oceano. Aterrorizadas, temem o peso e o balanço dos sons em que se transformam as batidas vitais de uma água eterna e necessária mesmo que, em cada eco, o tempo se conjugue em lágrimas.

domingo, 8 de maio de 2011

Titanic II - Pobre rica alma

Ei, bípede, minha alma também precisa da sua atenção. Ontem, vi quando você e o seu pequeno bípede chegaram à exposição dos nossos destroços.  Eu estava conversando com a Alma, dizendo a ela para educar melhor os filhos, que assim não é possível, que eles estão se transformando em verdadeiros tubarões no instante em que os seus olhos escuros como esse fundo de morte em que vivo, passaram por mim e, inquietos, me fizeram entender: eis a criatura que há de se importar conosco, comigo, mais do que com as coisas, então, corri em sua direção para que você comprasse o meu boarding pass e falasse de mim, mas o Torburg, o menino mais velho da Alma, esse pequeno viking, colocou-se no meu caminho, barrou-me com seu corpinho forte, e gritou: vai, mãe. E a Alma foi. Por um segundo, fiquei desolado. Eu e esse meu marítimo destino nos sentimentos, de novo, afogados. Sabe, bípede, aqui não interessa quem é de primeira ou de terceira ou sem classe. Aqui o que conta é o humano de cada um. E o meu anda tão calado,  precisando de um pouco de letras, de memórias para não se diluir. O meu cachorro, você sabe, eu tinha uma cadela airedale, a Kitty, sempre comigo antes da água nos separar, perdeu-se de  mim quando o barco se partiu. Eu corri até o canil do navio, libertei a ela e a todos os cães para que morressem sem coleiras e fiz isso em um gesto de lealdade de homem, porque um homem deve também lealdade ao seu animal e deve estar ao seu lado até o fim. Mas foi inútil. A vida sempre perde na última batalha, não importa a coragem e o afeto do seu exército. Aprendi isso em segundos, escapando fumacinha da minha boca, quando levantei-me do bote número 4, eu estava no bote número 4 porque sou, fui um senhor muito rico, na verdade, o passageiro mais afortunado, veja só quanta ironia, daquele enorme navio, e dei o meu par de luvas para a Madeleine, a minha jovem esposa grávida, porque se não haveria botes salva-vidas para todos, não haveria também para mim. E levantei-me porque falou o som da minha honra, um som  mais profundo  que o das  minhas abotoaduras de ouro e de oceanos. A honra é um diamante à prova de tempo. De tão genuína e sólida como uma força da natureza, resiste até a um iceberg maior que um sonho. A honra é um eco  maior que a esperança e que a fé. Mas não a que uma criança, um menino como o seu pequeno bípede, um menino, talvez parecido com o que minha mulher gerava, um menino capaz de dar pulos por comprar o boarding pass do cavalheiro mais rico a bordo, gritando, mãe, olha só quem eu sou, eu sou o Jonh Jacob Astor IV, o milionário dos milioários, sem dar-se conta, ainda, do quanto o dinheiro, às vezes, não vale mesmo nada.


sábado, 7 de maio de 2011

Titanic I - Pobre Alma

Então, tá. Falei com a bípede e pedi a ela para dizer quem sou. Eu sou uma alma afundada. Alma Cornelia Berglund  e já tive 29 anos e quatro filhos, o menor de todos teve dois anos, e o mais velho, oito. Somos, digo, fomos,  suecos. A bípede disse que não se importaria de contar a história de uma loira alva como eu porque nem todas preferem um cubo mágico inteiramente rosa a um com cores. Para ser sincera, não entendi uma palavra sobre o tal cubo. Mas ela disse, deixa pra lá, Alma, que isso agora não interessa. O que importa é que, por um acaso de fichas, comprei o seu boarding pass na exposição do shopping Barra e caí no seu espírito, já que corpo você não tem mais.  Perguntei a ela: ei, bípede, você é algum tipo de bruxa ? Ela me olhou um pouco com os seus olhos de cor de fundo do mar e disse: nem morta e mudou logo de assunto, pedindo que eu falasse sobre o meu marido. O meu marido, oh, Nils,   não morreu para nos ver, tornou-se uma alma aterrada na América perto do tio Sam e longe de nós. Quando? Não sei. Não vivi para contar. Nem eu nem as crianças. E não vivi para contar, naturligtvis (of course em sueco), porque embarquei em um navio para ir encontrá-lo na América do Obama, seja lá quem ele for, e subi a bordo, na terceira classe, porque apesar do trabalho do meu inafundável man (husband em sueco), nunca, nem por um minuto,  deixei de ser pobre e de ser um tanto atordoada apesar da coragem. Foi a bípede quem disse que só posso ter sido uma grande atordoada. Se eu fosse desatordoada, não teria embarcado, em 1912, antes de inventarem as  fraldas descartáveis, sem ter uma outra mão para balançar um berço e uma para afagar a minha em um enorme barco à carvão para ir encontrar o que acabaria me levando para baixo, para baixo, para baixo com meus filhos tão como eu, gente sem nós e sempre tão, tão sós.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sai pra lá, mau humor!

Cada mamute com o seu bolinho

Bolinhos de laranja, vocês são o meu caminho e o meu vício, Desde o início lá estavam vocês, oh, bolinhos.

E que não venha a censura

Puta que o pariu! O que está faltando? Falar uns palavrões? Pois que fale, solte o verbo, a língua, o ácido e se livre do que incomoda, inibe, amedronta e persegue. Pois que faça da raiva e das frustrações um bom uso e as tome feito limonada ou caipirinha, caipirinha de cachaça para a cabeça girar antes mesmo da ressaca, que antes um giro de diversão  que a um de ansiedade, que a criatura está começando a duvidar do bom balanço da cabeça que balança e não caí mas enjoa (terá o fato a ver com algum tipo de contágio, Dr. Cho?). A criatura queria ter um doutor, tipo o Dr. Phil da Oprah, oh, resistente Oprah, ainda que digam que o doutor House, se é que ele se chama mesmo house porque a criatura em questão nunca viu um único episódio, é mais maneiro, maneiro para falar o idioma dos menores de dezoito anos. Os maiores devem dizer que ele é mais audacioso e inteligente. Sabe-se lá as bobagens que dizem. Os maiores são dados a malfadados falatórios, o que explica muita coisa sobre  as raivas, frustrações e  palavrões.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dias de chuva

A criatura tem um par de botas de borracha para usar nos dias de chuva. Mas sabe-se lá porque cargas de água só lembra de colocá-las quando os pés já estão  encharcados como hoje na hora da saída da escola do pequeno bípede. A criatura tem sombrinha com ar de nuvens, que, aqui no sul, se diz sombrinha e não guarda-chuva para onde impera a sombra, que, diante do sol,  o negócio é passar filtro solar e ficar debaixo da barraca, e a criatura abre a sombrinha quando desce do carro, e a coisa, sabe-se lá porque cargas de água, assim como as botas de borracha não calçadas sempre a deixa ensopada, a ela e ao pequeno bípede, pobre  bípede. A criatura tem um par de luvas de couro. Ou melhor, tinha. Resta uma mão (aquilo que tem cinco dedos e não a fruta), a esquerda, desparceirada em algum lugar do ano passado e que serve de consolo para os dedos invejosos da escrita e dos desenhos da direita e é claro da colher de sopa, que a criatura come com a esquerda de tudo um pouco, exceto a sopa, que a sopa é de direita mesmo que seja de letrinhas. E a criatura é dada a enxaquecas, e as enxaquecas, às nauseas (nausea tem ou não acento? Se tiver, alguém avise) e, quando isso acontece, a criatura toma umas pílulas e  vem para o micro escrever em busca de algumas ideias de tarjas e  gotas ainda indefinidas.




Leituras a partir de 1 de janeiro de 2012

1. Bilhete seco - Elisa Nazarian
2. Quando fui morto em Cuba - Roberto Drummond
3. O retrato de Oscar Wilde Fragmentos
4. Estrela miúda breve romance infinito - Fabio Daflon
5. Poemas - Wislawa Szymborska
6. Mar me quer - Mia Couto
7. Estive em Lisboa e lembrei de você - Luiz Ruffato
8. O pai invisível - Kledir Ramil
9. Poemas de Eugénio de Andrade - Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva
10. Os da minha rua - Ondjaki
11. A máquina de fazer espanhóis - Walter Hugo Mãe
12. Vigílias - Al Berto
13. Poemas concebidos sem pecado - Manoel de Barros
14. Face imóvel - Manoel de Barros
15. Poesias - Manoel de Barros
16. Compêndio para uso dos pássaros - Manoel de Barros
17. Gramática expositiva do chão - Manoel de Barros
18. Matéria de Poesia - Manoel de Barros
19. Arranjos para assobio - Manoel de Barros
20. Livro de pré-coisas - Manoel de Barros
21. O guardador de águas - Manoel de Barros
22. Concerto a céu aberto para solos de ave- Manoel de Barros
23. Quinta Avenida, 5 da manhã - S. Wasson
24. A literatura em perigo - Tzvean Todorov
25. O remorso de Baltazar Serapião- Walter Hugo Mãe
26. Lotte & Zweig - Deonísio da Silva
27. Indícios flutuantes (poemas) - Marina Tsvetáieva
28. A duração do dia - Adélia Prado
29. Rua do mundo - Eucanaã Ferraz
30. Destino poesia Antologia - organização Italo Moriconi. Ana Cristina Cesar, Cacaso, Paulo Leminski, Torquato Neto e Waly Salomão
31. Tarde - Paulo Henriques Britto
32. Correnteza e escombros - Olavo Amaral
33. Nelson Rodrigues por ele mesmo
34. A última coisa que eu pretendo fazer na vida é morrer - Ciro Pellicano
35. O encontro marcado - Fernando Sabino
36. O óbvio ululante - Nelson Rodrigues
37. O grande mentecapto- Fernando Sabino
38. O homem despedaçado - Gustavo Melo Czekster
39. Dia de São Nunca à tarde - Roberto Drummond
40. O canto do vento nos ciprestes - Maria do Rosário Pedreira
41. Antes que os espelhos se tornem opacos - Juarez Guedes Cruz
41. Desvãos - Susana Vernieri
42. Um pai de cinema - Antonio Skármeta
43. No inferno é sempre assim - Daniela Langer
44. Crônicas de Roberto Drummond.
45. Correio do tempo - Mario Benedetti
45. Gatos bravos morrem pelo chute - Tiago Ferrari
46. Gesso & Caliça - Alberto Daflon Filho e Fabio Daflon
47. A educação pela pedra - João de Cabral de Melo Neto
48. O fio da palavra - Bartolomeu Campos de Queirós
49. Meu amor - Beatriz Bracher
50. Os vinte e cinco poemas da triste alegria - Carlos Drummond de Andrade
51. A visita cruel do tempo - Jennifer Egan
52. Cemitério de pianos - José Luis Peixoto
53. O amante - Marguerite Duras
54. Bonsai - Alejandro Zambra
55. Diciodiário - Valesca de Assis
56. Não tenho culpa que a vida seja como ela é - Nelson Rodrigues
57. Lero-lero - Cacaso
58. O livro das ignorãças - Manoel de Barros
59. Livro sobre nada - Manoel de Barros
60. Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros
61. Ensaios fotográficos - Manoel de Barros
62. A queda - as memórias de um pai em 424 passos - Diogo Mainardi
63. Junco - Nuno Ramos
64. Os verbos auxiliares do coração - Peter Estérhazy
65. Monstros fora do armário - Flavio Torres
66. Viagem - Cecília Meireles
67. Cora Coralina - Seleção Darcy França Denófrio
68. Instante - Wislawa Szymborska
69. Dobras do tempo - Carmen Silvia Presotto
70. Eles eram muitos cavalos - Luiz Ruffato
71. Romanceiro da inconfidência - Cecília Meireles
72. De mim já nem se lembra - Luiz Ruffato
73. O perseguidor - Júlio Cortázar
74. Paráguas verdes - Luiz Ruffato
75. Todas as palavras poesia reunida - Manuel António Pina
76. Vidas secas - Graciliano Ramos
77. Inferno Provisório Volume II O mundo inimigo - Luiz Ruffato
78. O ano em que Fidel foi excomungado - José de Assis Freitas Filho
79. Boneca russa em casa de silêncios - Daniela Delias
80. As cidades e as musas - Manuel Bandeira
81. Billie Holiday e a biografia de uma canção Strange Fruit - David Margolick
82. Inferno Provisório Volume III Vista parcial da noite - Luiz Ruffato
83. Inferno Provisório Volume V - Domingos sem Deus
84. Inferno Provisório Volume IV - O Livro das impossibilidades - Luiz Ruffato
85. Pedro Páramo - Juan Rulfo
86. Zazie no metrô - Raymond Queneau
87. Fora do lugar - Rodrigo Rosp
88. Salvador abaixo de zero - Herculano Neto
89. Inferno Provisório Volume I - Mamma, son tanto felice - Luiz Ruffato
90. A virgem que não conhecia Picasso - Rodrigo Rosp
91. Claro Enigma - Carlos Drummond de Andrade
92. Tempo dividido - Sophia de Mello Breyer Andersen
93. A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade

Leituras a partir de 1 de janeiro de 2011

1.Desgracida - Dalton Trevisan
2.Diário de um banana - Jeff Kinney
3. Poemas escolhidos, seleção de Vilma Arêas - Sophia de Mello Breyner Andresen
4. Oportunidade para um pequeno desespero - Franz Kafka
5. Venenos de Deus, remédios do Diabo - Mia Couto
6. Ventos do Apocalipse - Paulina Chiziane
7. Para gostar de ler - Contos Africanos
8. Vinte e zinco - Mia Couto
9. O Vendedor de passados - José Eduardo Agualusa
10. O Fazedor - Jorge Luís Borges
11. Terra Sonâmbula - Mia Couto
12. Barroco Tropical - José Eduardo Agualusa
13. Quem de nós - Mario Benedetti
14. O último voo do flamingo - Mia Couto
15. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil - Silvio Castro
16. Na berma de nenhuma estrada e outros contos - Mia Couto
17.O reino deste mundo - Alejo Carpentier
18. Como veias finas na terra - Paula Tavares
19. Baía dos Tigres - Pedro Rosa Mendes
20. O português que nos pariu - Angela Dutra de Menezes
21. Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Marquez
22. Vermelho amargo - Bartolomeu Campos de Queirós
23. Meu tipo de garota - Buddhadeva Bose
24. Tradutor de Chuvas - Mia Couto
25. O livro das perguntas - Pablo Neruda
26. O fio das missangas - Mia Couto
27. Luka e o fogo da vida - Salman Rushdie
28. Pawana - J.M.G. Le Clézio
29. O africano - J.M.G. Le Clézio
30. O pescador de almas - Flamarion Silva
31. Um erro emocional - Cristovão Tezza
32. O amor, as mulheres e a vida - Mario Benedetti
33. A cidade e a infância - José Luandino Vieira
34. História do olho - Georges Bataille
35. Destino de bai- antologia de poesia inédita caboverdiana
36. O tigre de veludo- E. E. Cummings
37. Poesia Soviética - Seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho
38. A cicatriz do ar - Jorge Fallorca
39. Refrão da fome - J.M.G. Le Clézio
40. As avós - Doris Lessing
41. Vozes Anoitecidas - Mia Couto
42. O livro dos guerrilheiros - José Luandino Vieira
43. Trabalhar cansa - Cesare Pavese
44. No teu deserto - Miguel Sousa Tavares
45. Uma canção para Renata Maria - Ediney Santana
46. Sete sonetos e um quarto - Manuel Alegre
47. Trópico de Capricórnio - Henry Miller
48. Sinais do Mar - Ana Maria Machado
49. Carta a D. - Andre Gorz
50. E se o Obama fosse africano? E outras interinvenções - Mia Couto
51. De A a X - John Berger
52. Diz-me a verdade acerca do amor - W.H. Auden
53. Poemas malditos, gozosos e devotos - Hilda Hilst
54. Outro tempo - W.H. Auden
55. nem sempre a lápis - Jorge Fallorca
56. Elvis&Madona - Luiz Biajoni
57. Budapeste - Chico Buarque
58. José - Rubem Fonseca
59. Axilas e outras histórias indecorosas - Rubem Fonseca
60. Instruções para salvar o mundo - Rosa Montero
61. A chuva de Maria - Martha Galrão
62. Rimas da vida e da morte - Amós Oz
63. Aqui nos encontramos - John Berger
64. Pensatempos textos de opinião - Mia Couto
65. Os verbos auxiliares do coração - Péter Esterházy
66. Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke
67. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristovão Rilke - Rainer Maria Rilke
68. Adultérios - Woody Allen
69. Quem me dera ser onda - Manuel Rui
70. Satolep - Vítor Ramil
71. Homem Comum - Philip Roth
72. O animal agonizante - Philip Roth
73. Paisagem com dromedário - Carola Saavedra
74. Não te deixarei morrer, David Crockett - Miguel Sousa Tavares
75. Orelhas de Aluguel - Deonísio da Silva
76. Travessia de verão - Truman Capote
77. Avante, soldados: para trás - Deonísio da Silva
78. Antes das primeiras estórias - João Guimarães Rosa
79. O outro pé da sereia - Mia Couto
80. O cemitério de Praga - Umberto Eco
81. A mulher silenciosa - Deonísio da Siva
82. Livrai-me das tentações - Deonísio da Silva
83. A mesa dos inocentes - Deonísio da Silva
84. Hilda Furacão - Roberto Drummond
85. A estética do frio - Vitor Ramil
86. Poetas de França - Guilherme de Almeida
87. Tarde com anões 7 minicontistas - Carlos Barbosa, Elieser césar, Igor Rossoni, Lidiane Nunes, Mayrant Gallo, Rafael Rodrigues e Thiago Lins.
88. Pensageiro Frequente - Mia Couto.
89. A palavra ausente - Marcelo Moutinho
90. Uma mulher -Péter Esterházy
91. Cartas de amor - Fernando Pessoa
92. A última entrevista de José Saramago - José Rodrigues dos Santos
93. A morte de D.J. em Paris - Roberto Drummond
94. Do desejo - Hilda Hilst
95. Cenas indecorosas - Deonísio da Silva

Leituras a partir de 19 de Julho de 2010

1. La Hermandad de la uva - John Fante
2. Nem mesmo os passarinhos tristes - Mayrant Gallo
3. Um mau começo - Lemony Snicket
4. Recordações de andar exausto - Mayrant Gallo
5. Ladrões de cadáveres - Patrícia Melo
6. O mar que a noite esconde - Aramis Ribeiro Costa
7. Há prendisajens com o xão - Ondjaki
8. E se amanhã o medo - Ondjaki
9. O último leitor - Ricardo Piglia
10. Par e ímpar - Tatiana Druck
11. Paris França - Gertrude Stein
12. Quirelas e cintilações - Luiz Coronel
13. AvóDezanove e o segredo do soviético - Ondjaki
14. Luaanda - José Luandino Vieira
15. Poemas para Antonio - Ângela Vilma
16. Estranhamentos - Mônica Menezes
17. A vida é sonho - Calderón
18. A varanda do Frangipani - Mia Couto
19. Um copo de cólera - Raduan Nassar
20. Antes de nascer o mundo - Mia Couto
21.Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
22- Poemas da ciência de voar e da engenharia de ser - Eduardo White
23. Manual para amantes desesperados - Paula Tavares
24. Materiais para confecção de um espanador de tristezas - Ondjaki
25. Milagrário Pessoal - José Eduardo Agualusa
26. Felicidade e outros contos - Katherine Mansfield
27. Estórias abensonhadas - Mia Couto
28. Fábulas delicadas - Eliana Mara Chiossi
29. O Ulisses no Supermercado - José de Assis Freitas Filho
30. Cartas Exemplares - Gustave Flaubert
31. A Moça do pai - Vera Cardoni
32. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra - Mia Couto
33. Dentro de mim faz sul seguido de Acto Sanguíneo - Ondjaki
34. Bonequinha de Luxo - Truman Capote
35. 125 Poemas - Joaquim Pessoa.

Mundo bípede


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