quarta-feira, 30 de junho de 2010

Da série ouvindo no carro I

Nova série porque, quando dirigo, baixo as janelas nas grandes avenidas e deixo o vento chegar. First song: Forbidden Colours.

A Teus Pés

Frases de Ana Cristina Cesar, que há tempos não saía da estante, e que, de repente, volta a grudar em minhas mãos, provando-me que os amores não morrem, saem de férias:

é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço

Lá fora
há um amor que entra em férias.
Há um embaçamento de minhas agulhas
nítidas diante
dessa boa bisca
de mulher.

Onde seus olhos estão
as lupas desistem.

A única coisa que me interessa no momento é a lenta cumplicidade da correspondência. Leio para mim as cartas que vou mandar: " Perdoe a retórica. Bobagem para disfarçar carinho".





terça-feira, 29 de junho de 2010

Pra não dizer que não falei do sono


De Tarcísio Lara Puiati:

Semana

eu não te amava
desse jeito
na segunda
eu não te amava
uma terça parte
só na quarta
pude perceber
o quanto
sexta já era
insuportável
e no sábado
no sábado eu
já te amava até
dormindo.

Na máquina de escrever

Se escrever é pronunciar uma sentença contra si mesmo, como escreveu Ibsen, talvez, fosse o caso da criatura falar menos e caminhar mais.

Roda viva

Contramão

Não quero ser a raiz de minha ficção. Embora, as palavras levem-me, pelo braço, ao começo e obriguem-me a percorrer os mesmos campos sobre a serra, cansa-me esse dilaceramento de me auto-testemunhar como se em um  divã  confortável estivesse deitada, eu, a criatura que se joga ao chão para ter acesso ao céu e acarícia a grama e as folhagens, simulacros de outras gentes, gentes que não me encontraram, como se estivessem, ali, em carne e osso sobre o verde, o verde musgo que se enrosca pelas minhas bordas e racha o que me é sólido, abrindo uma cratera guardadora de um sentimento estrangeiro, que não se concretiza nem se move em direção ao portão de embarque.


Imagens: região nordeste do RS, campos de cima da serra e aparados da serra,  lugar onde nasci.

segunda-feira, 28 de junho de 2010


3 x 0
Brasil!!!!!!!

Do pequeno bípede

Mãe, o meu blog é ruim?
Claro que não. Por que, meu filho?
Porque ninguém me visita.

Aqui: Oh, my blog!

Cinema


Depois de dias de chuva e frio,  o domingo resgatou o final de semana, exibindo o céu como se fosse uma cena de cinema, de um filme retrato de um homem e uma mulher, de uma época em que o coração insistia em vestir-se de possibilidades e transitava pelas veias feito um carro em alta velocidade, sem receio do vento e  de sorrir para um amor que pouco se importava se as imagens tinham  ou não cor.

sábado, 26 de junho de 2010

África man

Gana!!!!!

Pequeno bípede

Ele não é muito pontual. Sente uma preguiçinha na hora de acordar. Demora para ir escovar os dentes antes de dormir. Faz-me dizer o seu nome um zilhão de vezes ao dia. Depois que tem certeza de que já estou deitada, pede, lá do quarto dele, com a voz um pouco fanhosa, mãe, traz uma águinha. E eu respondo, ah, mas a mãe está debaixo das cobertas, e, ele diz, mas é só um copinho e ainda lembra de dizer para eu acender a luz, porque sabe que tropeço. E eu vou, porque sou o seu bichinho de pelúcia, a mamãe, de verdade querida.

Daquilo que eu sei


"Daquilo que eu sei
Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza
Daquilo que eu sei
Nem tudo foi proibido
Nem tudo me foi possível
Nem tudo foi concebido
Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah Eu!
Usei todos os sentidos
Só não lavei as mãos
E é por isso que eu me sinto
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!
Cada vez mais limpo!

De Ivan Lins.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Caetano no coração da bípede


Salve a música!

Salve, Caetano!

Cenas da vida - Infância

Cena 1: uma menina, de mais ou menos oito anos e magrinha, segura-se em uma barra de ferro e balança o corpo de lá para cá, imaginando ser uma trapezista.
Cena 2: estatelada no chão, a menina soluça.
Cena 3: no quarto dos pais, deitada sobre a cama, a menina está em silêncio, mas seu corpo treme, para desespero da mãe, que chora.
Cena 4: chega, finalmente, o pai, médico, que sem olhar para a menina e dizer uma única palavra, paf, bate no rosto da mãe, não na menina.
Cena 5: a menina apaga.
Cena 6: nauseada, a menina acorda em um quarto de hospital, no lugar da camisola, veste um colete de gesso; a mãe, com um cigarro aceso, continua a conversar com as amigas.
Cena 7: em casa, o gesso coça e esfola; a menina pede a deus que, por favor, a ajude, e pede uma vez mais no dia seguinte e no outro, por duas semanas.
Cena 8: sentada à mesa, a família almoça; o pai, distraído, diz à mãe, hoje, essa menina tem de ir ao hospital às duas horas para trocar o colete; a mãe, prontamente, diz não posso, nesse horário, tem o sono da beleza; ao que ele responde ter o do sagrado trabalho.
Cena 9: outra vez aos soluços, anda, só, pela rua, a menina de mais ou menos oito anos e magrinha; na portaria do hospital, basta falar de quem é filha.
Cena 10: na sala pequena e bege, um homem sangra sobre a cruz pregada na parede e, da veneziana semi-aberta, escapa um facho de luz. A menina, sentada sobre uma mesa, olha ora para um ora para outro, enquanto  ouve a voz calma da enfermeira dizer: cuidado, doutor, que ela deve estar em carne viva.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

E agora?

Fato

Minha memória passa por cores, mas hoje estou em preto e branco.

Infância

Balãozinho (cantiga de São João)                                 
"Venha cá, meu balãozinho.
Diga aonde você vai.
Vou subindo, vou pra longe, vou pra casa dos meus pais.
Ah, ah, ah, mas que bobagem.
Nunca vi balão ter pai.
Fique quieto neste canto, e daí você não sai.
Toda mata pega fogo.
Passarinhos vão morrer.
Se cair em nossas matas, o que pode acontecer.
Já estou arrependido.
Quanto mal faz um balão.
Ficarei bem quietinho, amarrado num cordão."
Segunda-feira, uma e meia, de volta do almoço, a criatura entra na redação ainda vazia e vai direto para o computador. Sobre o teclado, no papel branco, está escrito: ligue para a casa de seus pais. Como sempre, fica dependurada, esperando a boa alma que vai atendê-la.  Vem a  Maria da boca grande, que, sem meias palavras, diz: minha fia, foi o dotor quem te ligou, é pra tu pegar um avião que a tua mãe está morrendo. Ela tenta fazer algumas perguntas, mas, do outro da linha, o ruído é de  suspiro e depois do bip bip da ligação. Olha, então, para os lados. Precisa de alguém que diga, vá correndo, agora, pode ir. Mas nem sinal dos colegas. O pessoal gosta de ficar tomando um solzinho antes de voltar para as baias do buraco  em que trabalham. Antes das duas, só os focas, como ela, voltam, se bem que, no momento, uma editora gosta mesmo é de tratá-la por perua, porque, vaidosa, a criatura usa vestidos, é perfumada e sorri. Tem o sorriso bom para coletivas, é uma das insinuações que mais ouve. Se fosse garota de programa, ganharia bem, mas é garota de livros, daí vai vivendo com o salário  miúdo, fazendo freelas e aguentando provocações. E vai em paz, experimentando a cidade e a enorme livraria que abriu perto de sua casa.

Para o meu querido Terráqueo


Porque você é tudo pra mim e porque a gente vai levando!

Mesmo com toda a fama, com toda a brahma
Com toda a cama, com toda a lama
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa chama
Mesmo com todo o emblema, todo o problema
Todo o sistema, todo Ipanema
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa gema
Mesmo com o nada feito, com a sala escura
Com um nó no peito, com a cara dura
Não tem mais jeito, a gente não tem cura
Mesmo com o todavia, com todo dia
Com todo ia, todo não ia
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa guia
Mesmo com todo rock, com todo pop
Com todo estoque, com todo Ibope
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando esse toque
Mesmo com toda sanha, toda façanha
Toda picanha, toda campanha
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa manha
Mesmo com toda estima, com toda esgrima
Com todo clima, com tudo em cima
A gente vai levando, a gente vai levando, a gente vai levando
A gente vai levando essa rima
Mesmo com toda cédula, com toda célula
Com toda súmula, com toda sílaba
A gente vai levando, a gente vai tocando, a gente vai tomando, a gente vai dourando essa pílula !

quarta-feira, 23 de junho de 2010

13 anos

13 anos e parece que foi ontem.


Carta

O meu mundo não é fascinante. Minha história, assim como a tua também é um romance, só que já escrito e, em russo, para combinar com o meu hábito de viver com uma xícara de chá nas mãos, as mãos iguais as de minha mãe, destruída por um Karamazov, e que uso para proteger-me da inquietação que levo comigo mesmo quando saio a caminhar  sem um único documento, apenas ouvindo música, de preferência, solos de violão, instrumento que quis aprender e para o qual não possuo a mínima habilidade, nem o mínimo ajuste, eu que insisto com os mínimos ajustes necessários por resistir ao máximo encaixotamento do meio em que nasci e sigo renascendo, agora não mais menina e sem pai nem mãe, o que, apesar da nitidez do desamparo, faz-me enorme bem, porque liberta-me da fantasia do acolhimento e da lealdade cristã a que me via obrigada, mesmo quando cercada de injustiças, e entrega-me à condição de gente de carne e osso e opiniões . Porque detesto a mesquinharia das pequenas coisas, da plástica que encobre os egoísmos e as civilizações às avessas, a civilização dos motoristas embriagados, dos olhos sem meninas e dos arranhas-céus das cidades menos, muito menos, vazias do que as pessoas que elas transitam.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Viva, Dunga!

Reedição

Da série Coisa mais Linda que Já vi Parada, no momento, um pouco abandonada, uma das minhas imagens preferidas.






Penhasco

As mãos não rasgam cartas. O  coração não é de fim de semana. No penhasco, descansam as areias e os labirintos sem enseada quando chega o mar.


Tela de Paulo Amaral, Torres, fevereiro de 2008.

Aquisições

Fui comprar o Vinho da Juventude certa de que ele era o La Hermandad de la Uva, ou The Brotherhood of the Grape. Não é a novela. É um livro de contos. Como é um Fante e como gostei dos poucos trechos que li enquanto o folheava, comprei. Aí, o Invisível, do Paul Auster, que a gente vê de longe tamanho o bom gosto e o capricho da capa, fez um beiçinho e o peguei forte e não larguei até chegar no  caixa. E estaria tudo de ótimo tamanho se não fosse o último da Patrícia Melo, Ladrão de Cadáveres, estar ali em cima do balcão, pedindo  leva-me, leva-me. Levei.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Circulação

Dedilha-me com cuidado. Deixa-me ampliar o contorno do mapa que  constrói e navega além do meu vazio. Tumultua o fluxo para que o oceano se reconfigure em ilha, e o horizonte escape de dentro feito um amor desventrado.

domingo, 20 de junho de 2010

3 x 1


Não adianta bater!

Luissssssssss Fabiaanooooooo!


Kaká passa. Luis Fabiano chuta. Gol!!!

Um velho Karamazov

Por sugestão do blog No Vazio da Onda, leio La Hermandad de la Uva, do John Fante. Não leio a Confraria da Uva, como foi publicado em Portugal, porque, aqui na pátria amada idolatrada salve salve, não há nenhuma edição. Pelo menos por hora. Então, sigo na edição em espanhol, tropeçando um pouco nas nuances de um idioma que não é o meu, mas que me recebe melhor do que o meu velho Karamazov, morto no ano passado, o faria. E sigo porque, embora deteste a ladainha dos espíritos, também, recebi, em uma tarde qualquer, o grande Fyodor.
Trecho publicado no blog No Vazio da Onda:
«Depois aconteceu. Numa noite em que a chuva batia no telhado da cozinha, um grande espírito entrou para sempre na minha vida. Tinha o livro nas mãos e tremia enquanto ele me falava do Homem e do mundo, do amor e da sabedoria, da dor e da culpa e eu soube, naquela altura, que nunca mais seria o mesmo. O espírito chamava-se Fyodor Mikhailovitch Dostoyevsky. Ele percebia mais de pais e filhos do que qualquer outra pessoa no mundo, e de irmãos e irmãs, padres e vagabundos, culpa e inocência. O Dostoyevsky mudou-me. O Idiota, Os Possessos, Os Irmãos Karamazov, O Jogador. Virou-me do avesso. Descobri que podia respirar e ver horizontes até então invisíveis. « (PP. 84)
A Confraria do Vinho, John Fante (Tradução de Luís Ruivo, Ed. Teorema)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

E se ninguém morrer amanhã?

De repente, vem-me à cabeça a doida ideia saramaguena de que ele tinha livros de cristal e seria mágico e merecido se amanhã ninguém caisse duro da silva nem de morte morrida nem de morte matada nem aqui nem acolá.
Trecho de As Intermitências da Morte:
''No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada. Nem sequer um daqueles acidentes de automóvel tão frequentes em ocasiões festivas, quando a alegre irresponsabilidade e o excesso de álcool se desafiam mutuamente nas estradas para decidir sobre quem vai conseguir chegar à morte em primeiro lugar. A passagem do ano não tinha deixado atrás de si o habitual e calamitoso regueiro de óbitos, como se a velha átropos da dentuça arreganhada tivesse resolvido embainhar a tesoura por um dia. Sangue, porém, houve-o, e não pouco. Desvairados, confusos, aflitos, dominando a custo as náuseas, os bombeiros extraíam da amálgama dos destroços míseros corpos humanos que, de acordo com a lógica matemática das colisões, deveriam estar mortos e bem mortos, mas que, apesar da gravidade dos ferimentos e dos traumatismos sofridos, se mantinham vivos e assim eram transportados aos hospitais, ao som das dilacerantes sereias das ambulâncias. Nenhuma dessas pessoas morreria no caminho e todas iriam desmentir os mais pessimistas prognósticos médicos, Esse pobre diabo não tem remédio possível, nem valia a pena perder tempo a operá-lo, dizia o cirurgião à enfermeira enquanto esta lhe ajustava a máscara à cara. Realmente, talvez não houvesse salvação para o coitado no dia anterior, mas o que estava claro é que a vítima se recusava a morrer neste. E o que acontecia aqui, acontecia em todo o país.''

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Raduan Nassar

" Os olhos no teto, a nudez dentro do quarto; róseo, azul ou violáceo, o quarto é inviolável; o quarto é individual, é um mundo, quarto catedral, onde, nos intervalos da angústia, se colhe de um áspero caule, na palma da mão, a rosa branca do desespero, pois entre os objetos que o quarto consagra estão primeiro os objetos do corpo; "

Início do Lavoura Arcaica,
de Raduan Nassar.

Old songs


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Zebra

Eu lá fui com a minha pergunta de mulherzinha: vem cá, não pode acontecer de dar uma zebra? E ele com sua cultura de macho, de séculos de futebol, respondeu como quem respira: em copa do mundo não tem zebra. E eu fiquei quieta, com meu bordado imaginário de Penélope, pensando, mas é a África, é a África, e na África tem zebra, uma, duas, cem, um zilhão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Brasilllll!!!!!!!

Lavouras

Porque se todo mundo tem um amor na vida de carne e osso, há de ter também um de papel e tinta preto no branco ou no bege, no preto, no prata. Porque se no começo de tudo estava o verbo, no meio e no final, também, há de estar. Porque, se na casa de meu pai havia uma biblioteca e ainda há, mesmo que fechada no gabinete sem dono a receber o pó dos solitários e da discórdia daqueles que punem seus livros enquanto não se decidem as outras migalhas, na minha é que não há de ser diferente. Porque nem todo pai é uma causa perdida. Às vezes, é só um pai perdido em meio uma lavoura que ele não soube ler, mas soube emprestar.
Livros de Raduan Nassar.
Lavoura Arcaica, meu amor de papel e tinta.


Na estante: Paul Auster


Para o blog Vazio na Onda.

domingo, 13 de junho de 2010

Minha querida amiga e sister Nela


Sister, I miss you.
Nela Escribano

Excessos

O inútil calor da chama não a afasta do inverno costumeiro que lambe, indecoroso, o vidro fino da  janela sem persianas ou cortinas. O calor da chama desmancha-se em pingos e brasas sem preocupar-se com os limites seguros da lareira escurecida pelo excesso de fogo. O fogo ancestral, que passa de mão em mão e que segue secreto, jamais abandona o estado de submissão, de receptor de qualquer gota sacana de água encanada ou do céu. Ou do inferno, de um último círculo derretido por palavras de aço, de uma agulha que penetra, fura e rasga a costura de séculos feito a do tear de uma Penélope cega pelas odisseias de prazer do mundo dos machos, dos muitos Ulisses sem guerras, mas com as mãos sempre afiadas por ácidas tesouras.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

O triunfo das porcas

Porque uma porca solitária não destrói uma pérola. Mas muitas porcas  fazem de sua união um triunfo do mal cheiro sobre o colar de ar puro. Porque uma porca solitária pode parecer um equívoco. Mas muitas porcas unidas sob o mesmo ritmo, derrubam as ostras como se de dómino fossem. Porque uma porca solitária quer ouvir Ave Porca quando nada ouve porque, além de porca,  é invejosa e, há muito tempo, encontra-se tão surda quanto estúpida.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Canceriana

De Sophia de Mello Breyner Andresen:
Signo

Meu signo é o da morte porém trago
Uma balança interior uma aliança
Da solidão com as coisas exteriores

terça-feira, 8 de junho de 2010

Do blog Branco Sujo

"Um bom jornalista deveria ser capaz de descrever o fabrico de um lápis de modo apaixonante e sem contar uma piada. Mas, se ele tivesse esse talento, bem lá no fundo, porque razão seria jornalista?"

Branco Sujo

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mosca Viva na casa do bípede irmão

Na casa do bípede carioca tem remo de índio wai wai, tem tapete de couro de vaca louca e psicodélica, tem tabuleiro de xadrez, tem guerreiro de pau preto, tem namorada no chão e na prateleira, uma gorda e outra magra, tem cor, tem livros, tem alegria e tem, de verdade, um  bípede irmão.

Mosca morta

O olho direito juntou-se à turma da esquerda do corpo um pouco em desequilíbrio. Rebelde com causa alinhou-se a um ponto negro e agora o exibe sobre todas as telas de cima a baixo, de lá para cá, de qualquer jeito. A dona do olho direito foi ver no google de que se trata. Dizia uma moça à outra, leia-se de boa família, que por aqui moça não roda a bolsinha, que um ponto escuro diante do olho só podia tratar-se de toxoplasmose, principalmente, se a dona do olho rebelde cultivar uma barriga de criança, o que não é o caso. Não leia de cerveja, o que também não é o caso. Que há quem confuda as coisas e fale as coisas assim de sopetão como podem nascer depois alguns bebês. Mas voltando ao olho direito, novo filiado ao partido de esquerda, liderado pela perna esquerda, aquela perna, a trombótica, consequência do pé quebrado a ferro sem fogo, avisava também o google, com seus dois olhinhos entre letras, que o tal ponto nada mais é que uma mosca volante,  que, às vezes, cai nos olhos e não na sopa.

Bolas de gude

A tela em branco não aceita cores. As caixas de som emudeceram e não ouvem  palavras. Passam, as ideias, sobre um céu de azul horizontal  e livre de nuvens.  Confusas, movem-se  feito as folhas de outono que finalmente cobrem as calçadas. Há um tapete ambivalente de natureza morta e viva asfixiando o asfalto cansado de tantos tropeços e  de olhos de bolas de gude.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Porque gente é outra alegria

Insolação

Às vezes,  deseja ir morar no avesso de uma cidade intacta e sem regresso; ir de trem em uma linha quase reta, feito um corte sobre os remendos dos tecidos endurecidos, um rasgo sobre os nós do tear acidentado de enganos, do sol antigo transformado em tule, e depois em renda  e em pano,  até conseguir costurar no corpo uma lona àspera e resistente a mãos e a mentiras coloridas por estrelas desumanas.

Leituras a partir de 1 de janeiro de 2012

1. Bilhete seco - Elisa Nazarian
2. Quando fui morto em Cuba - Roberto Drummond
3. O retrato de Oscar Wilde Fragmentos
4. Estrela miúda breve romance infinito - Fabio Daflon
5. Poemas - Wislawa Szymborska
6. Mar me quer - Mia Couto
7. Estive em Lisboa e lembrei de você - Luiz Ruffato
8. O pai invisível - Kledir Ramil
9. Poemas de Eugénio de Andrade - Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva
10. Os da minha rua - Ondjaki
11. A máquina de fazer espanhóis - Walter Hugo Mãe
12. Vigílias - Al Berto
13. Poemas concebidos sem pecado - Manoel de Barros
14. Face imóvel - Manoel de Barros
15. Poesias - Manoel de Barros
16. Compêndio para uso dos pássaros - Manoel de Barros
17. Gramática expositiva do chão - Manoel de Barros
18. Matéria de Poesia - Manoel de Barros
19. Arranjos para assobio - Manoel de Barros
20. Livro de pré-coisas - Manoel de Barros
21. O guardador de águas - Manoel de Barros
22. Concerto a céu aberto para solos de ave- Manoel de Barros
23. Quinta Avenida, 5 da manhã - S. Wasson
24. A literatura em perigo - Tzvean Todorov
25. O remorso de Baltazar Serapião- Walter Hugo Mãe
26. Lotte & Zweig - Deonísio da Silva
27. Indícios flutuantes (poemas) - Marina Tsvetáieva
28. A duração do dia - Adélia Prado
29. Rua do mundo - Eucanaã Ferraz
30. Destino poesia Antologia - organização Italo Moriconi. Ana Cristina Cesar, Cacaso, Paulo Leminski, Torquato Neto e Waly Salomão
31. Tarde - Paulo Henriques Britto
32. Correnteza e escombros - Olavo Amaral
33. Nelson Rodrigues por ele mesmo
34. A última coisa que eu pretendo fazer na vida é morrer - Ciro Pellicano
35. O encontro marcado - Fernando Sabino
36. O óbvio ululante - Nelson Rodrigues
37. O grande mentecapto- Fernando Sabino
38. O homem despedaçado - Gustavo Melo Czekster
39. Dia de São Nunca à tarde - Roberto Drummond
40. O canto do vento nos ciprestes - Maria do Rosário Pedreira
41. Antes que os espelhos se tornem opacos - Juarez Guedes Cruz
41. Desvãos - Susana Vernieri
42. Um pai de cinema - Antonio Skármeta
43. No inferno é sempre assim - Daniela Langer
44. Crônicas de Roberto Drummond.
45. Correio do tempo - Mario Benedetti
45. Gatos bravos morrem pelo chute - Tiago Ferrari
46. Gesso & Caliça - Alberto Daflon Filho e Fabio Daflon
47. A educação pela pedra - João de Cabral de Melo Neto
48. O fio da palavra - Bartolomeu Campos de Queirós
49. Meu amor - Beatriz Bracher
50. Os vinte e cinco poemas da triste alegria - Carlos Drummond de Andrade
51. A visita cruel do tempo - Jennifer Egan
52. Cemitério de pianos - José Luis Peixoto
53. O amante - Marguerite Duras
54. Bonsai - Alejandro Zambra
55. Diciodiário - Valesca de Assis
56. Não tenho culpa que a vida seja como ela é - Nelson Rodrigues
57. Lero-lero - Cacaso
58. O livro das ignorãças - Manoel de Barros
59. Livro sobre nada - Manoel de Barros
60. Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros
61. Ensaios fotográficos - Manoel de Barros
62. A queda - as memórias de um pai em 424 passos - Diogo Mainardi
63. Junco - Nuno Ramos
64. Os verbos auxiliares do coração - Peter Estérhazy
65. Monstros fora do armário - Flavio Torres
66. Viagem - Cecília Meireles
67. Cora Coralina - Seleção Darcy França Denófrio
68. Instante - Wislawa Szymborska
69. Dobras do tempo - Carmen Silvia Presotto
70. Eles eram muitos cavalos - Luiz Ruffato
71. Romanceiro da inconfidência - Cecília Meireles
72. De mim já nem se lembra - Luiz Ruffato
73. O perseguidor - Júlio Cortázar
74. Paráguas verdes - Luiz Ruffato
75. Todas as palavras poesia reunida - Manuel António Pina
76. Vidas secas - Graciliano Ramos
77. Inferno Provisório Volume II O mundo inimigo - Luiz Ruffato
78. O ano em que Fidel foi excomungado - José de Assis Freitas Filho
79. Boneca russa em casa de silêncios - Daniela Delias
80. As cidades e as musas - Manuel Bandeira
81. Billie Holiday e a biografia de uma canção Strange Fruit - David Margolick
82. Inferno Provisório Volume III Vista parcial da noite - Luiz Ruffato
83. Inferno Provisório Volume V - Domingos sem Deus
84. Inferno Provisório Volume IV - O Livro das impossibilidades - Luiz Ruffato
85. Pedro Páramo - Juan Rulfo
86. Zazie no metrô - Raymond Queneau
87. Fora do lugar - Rodrigo Rosp
88. Salvador abaixo de zero - Herculano Neto
89. Inferno Provisório Volume I - Mamma, son tanto felice - Luiz Ruffato
90. A virgem que não conhecia Picasso - Rodrigo Rosp
91. Claro Enigma - Carlos Drummond de Andrade
92. Tempo dividido - Sophia de Mello Breyer Andersen
93. A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade

Leituras a partir de 1 de janeiro de 2011

1.Desgracida - Dalton Trevisan
2.Diário de um banana - Jeff Kinney
3. Poemas escolhidos, seleção de Vilma Arêas - Sophia de Mello Breyner Andresen
4. Oportunidade para um pequeno desespero - Franz Kafka
5. Venenos de Deus, remédios do Diabo - Mia Couto
6. Ventos do Apocalipse - Paulina Chiziane
7. Para gostar de ler - Contos Africanos
8. Vinte e zinco - Mia Couto
9. O Vendedor de passados - José Eduardo Agualusa
10. O Fazedor - Jorge Luís Borges
11. Terra Sonâmbula - Mia Couto
12. Barroco Tropical - José Eduardo Agualusa
13. Quem de nós - Mario Benedetti
14. O último voo do flamingo - Mia Couto
15. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil - Silvio Castro
16. Na berma de nenhuma estrada e outros contos - Mia Couto
17.O reino deste mundo - Alejo Carpentier
18. Como veias finas na terra - Paula Tavares
19. Baía dos Tigres - Pedro Rosa Mendes
20. O português que nos pariu - Angela Dutra de Menezes
21. Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Marquez
22. Vermelho amargo - Bartolomeu Campos de Queirós
23. Meu tipo de garota - Buddhadeva Bose
24. Tradutor de Chuvas - Mia Couto
25. O livro das perguntas - Pablo Neruda
26. O fio das missangas - Mia Couto
27. Luka e o fogo da vida - Salman Rushdie
28. Pawana - J.M.G. Le Clézio
29. O africano - J.M.G. Le Clézio
30. O pescador de almas - Flamarion Silva
31. Um erro emocional - Cristovão Tezza
32. O amor, as mulheres e a vida - Mario Benedetti
33. A cidade e a infância - José Luandino Vieira
34. História do olho - Georges Bataille
35. Destino de bai- antologia de poesia inédita caboverdiana
36. O tigre de veludo- E. E. Cummings
37. Poesia Soviética - Seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho
38. A cicatriz do ar - Jorge Fallorca
39. Refrão da fome - J.M.G. Le Clézio
40. As avós - Doris Lessing
41. Vozes Anoitecidas - Mia Couto
42. O livro dos guerrilheiros - José Luandino Vieira
43. Trabalhar cansa - Cesare Pavese
44. No teu deserto - Miguel Sousa Tavares
45. Uma canção para Renata Maria - Ediney Santana
46. Sete sonetos e um quarto - Manuel Alegre
47. Trópico de Capricórnio - Henry Miller
48. Sinais do Mar - Ana Maria Machado
49. Carta a D. - Andre Gorz
50. E se o Obama fosse africano? E outras interinvenções - Mia Couto
51. De A a X - John Berger
52. Diz-me a verdade acerca do amor - W.H. Auden
53. Poemas malditos, gozosos e devotos - Hilda Hilst
54. Outro tempo - W.H. Auden
55. nem sempre a lápis - Jorge Fallorca
56. Elvis&Madona - Luiz Biajoni
57. Budapeste - Chico Buarque
58. José - Rubem Fonseca
59. Axilas e outras histórias indecorosas - Rubem Fonseca
60. Instruções para salvar o mundo - Rosa Montero
61. A chuva de Maria - Martha Galrão
62. Rimas da vida e da morte - Amós Oz
63. Aqui nos encontramos - John Berger
64. Pensatempos textos de opinião - Mia Couto
65. Os verbos auxiliares do coração - Péter Esterházy
66. Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke
67. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristovão Rilke - Rainer Maria Rilke
68. Adultérios - Woody Allen
69. Quem me dera ser onda - Manuel Rui
70. Satolep - Vítor Ramil
71. Homem Comum - Philip Roth
72. O animal agonizante - Philip Roth
73. Paisagem com dromedário - Carola Saavedra
74. Não te deixarei morrer, David Crockett - Miguel Sousa Tavares
75. Orelhas de Aluguel - Deonísio da Silva
76. Travessia de verão - Truman Capote
77. Avante, soldados: para trás - Deonísio da Silva
78. Antes das primeiras estórias - João Guimarães Rosa
79. O outro pé da sereia - Mia Couto
80. O cemitério de Praga - Umberto Eco
81. A mulher silenciosa - Deonísio da Siva
82. Livrai-me das tentações - Deonísio da Silva
83. A mesa dos inocentes - Deonísio da Silva
84. Hilda Furacão - Roberto Drummond
85. A estética do frio - Vitor Ramil
86. Poetas de França - Guilherme de Almeida
87. Tarde com anões 7 minicontistas - Carlos Barbosa, Elieser césar, Igor Rossoni, Lidiane Nunes, Mayrant Gallo, Rafael Rodrigues e Thiago Lins.
88. Pensageiro Frequente - Mia Couto.
89. A palavra ausente - Marcelo Moutinho
90. Uma mulher -Péter Esterházy
91. Cartas de amor - Fernando Pessoa
92. A última entrevista de José Saramago - José Rodrigues dos Santos
93. A morte de D.J. em Paris - Roberto Drummond
94. Do desejo - Hilda Hilst
95. Cenas indecorosas - Deonísio da Silva

Leituras a partir de 19 de Julho de 2010

1. La Hermandad de la uva - John Fante
2. Nem mesmo os passarinhos tristes - Mayrant Gallo
3. Um mau começo - Lemony Snicket
4. Recordações de andar exausto - Mayrant Gallo
5. Ladrões de cadáveres - Patrícia Melo
6. O mar que a noite esconde - Aramis Ribeiro Costa
7. Há prendisajens com o xão - Ondjaki
8. E se amanhã o medo - Ondjaki
9. O último leitor - Ricardo Piglia
10. Par e ímpar - Tatiana Druck
11. Paris França - Gertrude Stein
12. Quirelas e cintilações - Luiz Coronel
13. AvóDezanove e o segredo do soviético - Ondjaki
14. Luaanda - José Luandino Vieira
15. Poemas para Antonio - Ângela Vilma
16. Estranhamentos - Mônica Menezes
17. A vida é sonho - Calderón
18. A varanda do Frangipani - Mia Couto
19. Um copo de cólera - Raduan Nassar
20. Antes de nascer o mundo - Mia Couto
21.Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
22- Poemas da ciência de voar e da engenharia de ser - Eduardo White
23. Manual para amantes desesperados - Paula Tavares
24. Materiais para confecção de um espanador de tristezas - Ondjaki
25. Milagrário Pessoal - José Eduardo Agualusa
26. Felicidade e outros contos - Katherine Mansfield
27. Estórias abensonhadas - Mia Couto
28. Fábulas delicadas - Eliana Mara Chiossi
29. O Ulisses no Supermercado - José de Assis Freitas Filho
30. Cartas Exemplares - Gustave Flaubert
31. A Moça do pai - Vera Cardoni
32. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra - Mia Couto
33. Dentro de mim faz sul seguido de Acto Sanguíneo - Ondjaki
34. Bonequinha de Luxo - Truman Capote
35. 125 Poemas - Joaquim Pessoa.

Mundo bípede


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