Sábado passado, Gabriela Silva lançou seu primeiro livro de poemas, Ainda é céu.
Eu gosto de poesia. Muito.
Desde julho de 1998, por ordem da professora Léa Masina (ordem mesmo que ela costuma ser bem enfática), leio diariamente um poema.
Disse ela naquela época: versos instrumentalizam a linguagem e sensibilizam a percepção do mundo, portanto se você quer aprender a escrever, comece a lê-los hoje.
Ou disse algo assim. Registrei dessa maneira. E, obediente, segui à risca.
Desde então, a meia dúzia de livros de poesia que eu tinha ganhou quantidade e variedade: da poesia soviética à africana, da poesia francesa à norte-americana, da barroca até a contemporânea, explorei.
Me configurei em uma versão autodidata (ignorante por conta própria como disse o Quintana) de uma espécie de em busca dos poemas perdidos. Ou seja, daqueles que de tão inteligentes e significativos a gente quase não acredita que existem.
E fui ficando curiosa, exigente e rabugenta, bastante rabugenta quando frustrada. Rabugenta sempre fui, tenho de ser honesta.
Mas acima de tudo o que aconteceu com a minha meia dúzia de livros de poesia foi uma ampliação também em qualidade.
Minha coleção foi ganhando uma pele mais palpável. Meu vocabulário ampliando sua humanização pela diferença. E meus pensamentos ocupando um lugar mais sereno no espaço.
Espaço que eu, ingenuamente, pensava sólido e fértil como a terra e que só compreendi a mobilidade me deparando com o livro da Gabriela Silva.
O Ainda é céu não é sólido e fértil como uma lavoura.
O Ainda é céu é uma revelação corajosa da origem, de qualquer origem, do momento que antecede o crescimento das formas terrenas e sublimes de vida.
Ele fala de amor como essência e não como ideal.
Fala de amor como motor, como meio para reconciliação com a vida e não como meio de tolerância diante do desamparo da morte.
O Ainda é céu aposta que o amor não é grande nem pequeno e que amar se aprende amando e sendo amado dentro da cumplicidade dessas duas entregas.
E eu aposto nele.
Aposto que ainda é céu para nos entregarmos ao pó da terra.
Aposto.
E espero que eternamente continue sendo.
Ainda é céu. Editora Patuá. 93 páginas.
Imagem de Patrícia Belmonte
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