Bat Bartira depois do banho numa sexta-feira à noite, secando o corpo pelo quarto, a toalha verde esfiapando, o tubinho preto em cima da cama. Ela acionando o radar encontra penduricalhos e meias. Cantarolando o mesmo ritmo que ouve, sem parar, no som do carro. O flamante vermelho que a leva de lá para cá quando nada acontece em lugar algum. Ou quando acontece. Como no bar de paredes azuis, que a deixam com os olhos azuis, o sangue azul. Lá onde um filme a cores se sente desbotado. Onde seu visual preto no branco se sente colorido.
São dez horas. O horário começa a apertar. As casas noturnas não esperam muito. As mulheres atacam os melhores pedaços, raivosas. O duelo de sapatos de salto é livre, iluminado pelas cabeleiras acesas em mechas variadas e encurralado pelos sorrisos engomados das presas de terno e gravata. Bat Bartira costuma se sair bem em qualquer ataque. Domina os mecanismos da cidade. Mas, não pode se atrasar mais que meia hora. Aí perde o pique e é preciso mais que álcool para esquentar sua tubulação. Vira Bat Bartira moça instantânea. Pó formatado em tamanho mini.
São dez horas e quinze minutos e Bat Bartira ainda não saiu do quarto. Sentou na cama para calçar as botas de cano longo e bico fino. Elegância que alonga suas pernas na mesma medida em que as tortura. Tudo pela beleza é um de seus chavões. Quem dera tivesse mais de um metro e setenta. Quem dera tivesse mais de um e sessenta. Não tem. Então, inclina-se sobre os joelhos e repassa os detalhes de seu plano A, lembrando-se de que pode usar o plano B. B de Bat Bartira, murmura.
São dez horas e trinta minutos. Bat Bartira está entrando no elevador. O suor aparecendo sob as axilas, competindo com o perfume comprado à prestação. Faz tempo que o dinheiro encolheu junto com as crianças. Todas as que quase teve, as que ia ter como ela mesmo diz, e depois mudou de idéia em uma clínica. Bat Bartira não gosta de encher balões, não sabe fazer filhos do começo ao fim. Sempre dá um jeito de cancelar a agenda. É campeã universal em evitar vínculos, exceto com o que lhe cobre o corpo. É dar de cara com um casaco de couro e pronto: lá vai Bat Bartira desnuda mergulhando em nova embarcação.
São onze horas. Os faróis do carro estão acesos. Bat Bartira beira o sublime, acariciando o espelho retrovisor enquanto sorri. Às vezes, é preciso um sorriso, nem que seja para não perder o treino, contar um a um os enormes dentes e lembrar como é mesmo que se canta qualquer tum tum. A vida me custa cara para que eu a economize, melhor mostrar-me superior ao que realmente sou, de repente ela diz. E os segundos se desprendem criando ouvidos. E a velocidade surge viva, girando as rodas de decidido motor. A porta da garagem não abre. Ela não se incomoda, acelera o sangue e não volta atrás. Bate Bartira.
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