sexta-feira, 30 de novembro de 2012

De um álbum de invisibilidades IX

Esta sou eu, os meus fones de ouvidos e os meus cães: o melhor cão do mundo e um cão caminhando em um final de tarde.
Este é o sol indo embora nas águas de um rio e adentrando nas da minha memória.
E este é o cão de costas para mim defecando sua animalidade bem no meio da calçada.
Esta sou eu pegando com o saquinho plástico a sujeira e reclamando o local escolhido. 
Estes são o cão, o melhor cão do mundo e eu depois de três quadras e nada de encontrar uma lata de lixo.
Este é o melhor cão do mundo um pouco mais afastado das minhas pernas do que o habitual e  esse é o  um cão mais perto sacudindo a cauda.
Estas sou eu dizendo bingo diante de uma lata de lixo enorme e aberta em frente a um edifício do outro lado da rua.
E eu atravessando a rua, cantarolando contente por ter encontrado uma lata de lixo enorme e aberta e lembrando dos meus desastres  nas aulas de educação física e arremessando o saquinho plástico em uma cesta imaginária.
Este é o saquinho de plástico sobre o cimento.
E esta sou eu  rindo e pensando que motricidade ampla nunca foi mesmo o meu forte enquanto me abaixo para recolher o meu erro.
E eu bem perto da lata de lixo jogando outra vez a animalidade de um cão.
Esta é animalidade  caindo sobre um ser vivo que abre sacos de lixo.
Estes são os cabelos ressecados, a boca rachada e as pernas de menino do ser vivo que abre os sacos de lixo.
Estas são as mãos dele tentando proteger o rosto.
Estas são as  minhas mãos largando as guias dos cachorros.
E estas são o meu coração rolando corpo abaixo rumo ao cimento.
A minha mente em alta velocidade me acusando de ser um lixo.
E  eu me debruçando e recolhendo, do colo dele, o saquinho plástico.
E estes somos nós dois, nossas lágrimas  e o horror.
E esta sou eu,  caminhando outra vez pelas ruas carregando a animalidade de um bicho.

Nos fones de ouvido: Haiti

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

De um álbum de invisibilidades VIII

Esta sou eu chegando na casa de uma amiga com os  meus cabelos escovados, o  meu rosto maquiado, as minhas unhas pintadas e pronta para ir à missa e depois pegar um avião.
Esta é a minha amiga dentro da casa nova dela me esperando com outras amigas.
E é ela me dando um abraço bem forte.
E estas são todas elas juntas me dando um abraço mais forte, me dizendo  vai ficar tudo bem, estamos com você.
E esta é a sogra da minha amiga, sentada em um banquinho fazendo tricô.
Esta é a minha amiga dizendo: dona fulana, essa é a beltrana de quem lhe falei, foi ela quem perdeu a mãe, minha madrinha.
Esta sou eu parada em pé diante do movimento constante das agulhas e do par de olhos sobre mim.
Este é o olhar imóvel da sogra da minha amiga  por cima dos óculos a me radiografar de cima abaixo.
E esta sou eu meio sem graça diante da inspeção e pensando por que ela não diz nada nem se levanta.
Esta é ela, grudada no acento,  articulando os lábios para perguntar com calma: morreu de que a sua mãe, minha filha?
E esta sou eu liberando um suspiro, relaxando os ombros, aliviada com o interesse e diminuindo a tensão.
E eu respondendo também devagar: a mãe morreu de câncer.
E esta é ela me dizendo  gente ruim morre de câncer.
Esta sou eu morrendo  mais um pouquinho.
E esta é a minha amiga puxando a sogra pelo braço, exclamando dona fulana o que é isso,  e a levando para tomar uma xícara de chá na cozinha.

Nos fones de ouvido: Mãe

De um álbum de invisibilidades VII

Esta é ela com sandálias pretas de verniz amarradas aos tornozelos balançando o corpo lentamente de um lado para o outro.
Estes são os tecidos dela vestindo de nuvem a sala bagunçada de brinquedos.
E esta é ela cantando won't you stay in my arms enquanto o corpo gira sedução.
E estes são eles calando os gritos e a correria.
Esta é a menor fascinada pelas sandálias pretas de verniz amarradas aos tornozelos da mãe.
E a menor acompanhando com os ombros a mãe, querendo ter a pele de pêssego da mãe, a boca vermelha da mãe, as mãos da mãe, desejando ser leve como a mãe.
E esta é a maior dizendo chega para lá que também quero um lugar no sofá.
E estas são as duas, os três, os cincos fascinados.
E estas são a menor voltando a um quarto cor de rosa, passando a mão sobre o papel de parede antigo, sentado em frente ao tocador já sem perfumes, sem estojos e sem um abajur com pompons.
E a menor abrindo a mala, as lembranças, o guarda roupas recheado de figurinhas e de datas.
E lendo, nos números, os primeiros beijos, as primeiras noites, o primeiro amor.
E olhando para o terninho marrom sobre a camisa de seda pendurado em um solitário cabide e para um par de sapatos discreto como a mãe.
E  chamando por  aquela que foi também um útero e perguntando  que traje é esse no meu armário?
E esta é esse outro útero, respondendo, com os olhos arrasados,  que são as roupas com que sua mãe quer ser enterrada e  que pediu para você ver.
E esta é a filha de ambas,  sem enxergar mais nada, dizendo que sim, que diga à mãe que essa está bem.

Nos fones de ouvidos: The Way Old-fashioned

De um álbum de invisibilidades VI

Este é um quarto com paredes azuis, um par de passarinhos sobre a cômoda e mais um tip top sendo pendurado em um cabide.
Esta é ela sorrindo, dizendo a ele que o quadro tem de ficar mais perto do berço.
Este é ele carregando uma bolsa e uma malinha e pegando as chaves do carro.
E esta ela respirando um pouco mais rápido, perguntando se ele pegou mesmo a malinha.
Estes são os dois na sala de parto.
Estes são os dedos dele alisando o rosto dela  prontos para receber a obra feita a quatro mãos.
Este é o médico falando força, vamos, está quase lá.
Estes são os óculos dele embaçando os olhos de primeira viagem e registrando, sobre o seu, o choro de um bebê.
E este é um bebê livre de líquidos e de um cordão.
E estas são ele contando os dedinhos de um bebê livre de líquidos e de um cordão.
E ele reconhecendo o mapa de sua geografia na nova vida.
E este é o mapa dela sendo reconhecido na geografia da nova vida.
Estes são os três voltando para casa  e para um quarto de amor.
Estas são ele reafirmando o seu afeto algumas noites depois.
E ele colocando em dúvida o seu afeto alguns anos depois.
E esta é ela chorando, implorando em nome de todos os umbigos  pelo antigo amor.
E estas são ele outra vez se deixando levar por líquidos e por cordões.
E  garantindo a ela que não foi nada sério e a outra pessoa é só um engano.
E escrevendo, deixando claro em preto e branco o seu  foi tudo um engano.
E  ele fechando a porta, desligando o telefone, desligando o coração.
E esta é ela sorrindo, dizendo a ele que o quadro tem de ficar mais perto da cama.
E esta é  o engano sabendo que é um engano, fechando a porta, desligando o telefone e implodindo o coração.

Nos fones de ouvido: I love you


terça-feira, 27 de novembro de 2012

De um álbum de invisibilidades V

Este é um quarto com paredes amarelas, um par de ursinhos polares sobre uma cômoda e mais um tip top sendo pendurado em um cabide.
Estas são ela com uma barriga pontuda, sentada na cadeira de balanço que era da avó fazendo planos para o futuro.
E  ela transpirando,  tonta e com um pouco de dor.
E deitada em uma maca em uma sala de pré parto respondendo a uma médica que não, não entende direito o que está acontecendo.
Este é o teto branco da sala de pré parto maculado por uma aranha a caminhar no roda forro.
Estas são ela, assustada, chamando por uma enfermeira para matar o bicho que deve carregar infecções.
E  ela, mais assustada ainda, dizendo à enfermeira  acho que rompeu a bolsa, e a enfermeira dizendo, não, você está tendo uma hemorragia.
Esta é a anestesista errando a picada e atingindo, na coluna, um nervo e um grito.
E esta é ela em um estado de nervos de dar dó.
Esta é a outra médica negando o pedido por uma cesariana, descartando a opção, dizendo não vale a pena porque essa criança não é compatível com a vida.
Estas são ela implorando por um fim e ignorando que também corre risco de vida.
E em contrações, perdendo os sentidos e acordando e perdendo os sentidos e acordando e perdendo.
E ela na Unidade de Tratamento Intensivo ao lado de uma mulher que geme, geme e geme.
Estas são duas plantonistas comentando o quanto é dolorida a plástica da mulher que geme, geme e geme.
E esta é uma delas dizendo à outra que não se preocupe com a  moça silenciosa, a moça silenciosa  só perdeu um filho e isso não desencadeia  tanta dor.

Nos fones de ouvido: Travessia

sábado, 24 de novembro de 2012

De um álbum de invisibilidades IV

Esta sou eu descobrindo o perfume das páginas e alisando a capa fosca de um livro.
Este é um livro a alisar o meu rosto com sua capa fosca em frente a estante de uma grande livraria.
Estes são alguns curiosos achando esquisito o império dos  meus sentidos sobre o papel.
E estas sou eu a suspirar as sensações da escrita já na fila do caixa falando para as outras pessoas que essa, sim, é uma obra.
E sou pedindo à vendedora que faça um pacote bonito e passe nele um laço de fita.
Esta sou eu colocando as mãos na cabeça,  espantada com o quanto você é desajeitado.
E este é você salvando a vítima  e a si mesmo de uma poça.
E esta sou eu a rir, perfumando os seus cabelos com as minhas mãos, alisando o seu rosto com as minhas mãos e deixando-me levar pelo murmúrio das suas  palavras enquanto você seca com o casaco o que resta de água.
Estas são a minha caligrafia aprendendo a sua temperatura e as suas linhas como se estivesse em oração.
E o meu coração abafando os sinos de uma  catedral e calando o seu falatório com o meu beijo.
E  a minha fé sendo resgatada por datas inscritas em um chão de poetas.
Estes são os meus olhos abraçados ao seus como se neles fosse possível ler um feliz título.
E este é você falando com as beatas e se balançando em direção ao banheiro a me dizer não demoro.
Esta sou eu contando os segundos e os batimentos cardíacos.
E este é você acelerando o passo.
E estes somos nós dentro de nós e dentro de um carro.
E estas sou  eu dizendo preciso ir embora, e você abrindo a porta.
E  eu paralisada por lágrimas enquanto você acelera rumo ao destino.

Nos fones de ouvido: All of me


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

De um álbum de invisibilidades - III Parte

Estas sou eu, na cozinha, fazendo pipocas.
E eu sentada no sofá em frente a TV, assistindo A Primeira Noite de um Homem e oferecendo a ele os meus pedaços de nuvens.
Este é ele um pouco desconcertado diante da Sra.Robinson.
Esta sou eu fazendo cócegas nele e dizendo: conta, conta!
E este é ele curioso sobre a primeira noite de uma mulher.
Esta sou eu e o som da memória.
Estes somos nós: um outro ele e eu deitados na mesma cama noite e dia.
Esta sou eu caminhando a minha inocência pelo quarto.
E este é o outro ele  medindo meus contornos com a boca e com as mãos.
E estas são você em um outro lugar.
E você oferecendo a ela a primeira noite de uma mulher, oferecendo a ela as muitas noites de uma mulher.
Estas sou eu pensando em ser a noite de um homem qualquer.
E eu acordando com um homem qualquer, dizendo não, não, deixa que eu ligo.
E  passando os dedos sobre o catálogo, procurando o seu número de telefone.
E sentada duas fileiras atrás de vocês e me segurando para não jogar pipocas nos cabelos dela, para não me levantar e rodar uma baiana, uma interiorana e um big drama.
E este é o seu braço sobre os ombros dela.
E este são os seus cabelos misturando-se aos dela.
E estas são a minha raiva tocando no carro.
E eu ouvindo Slave to Love, rindo e dançando com uma lingerie de renda branca.
E este é um novo ele se derramando de vinho e de afeto.
Esta sou eu me derramando em lágrimas, assistindo, de novo, A Primeira Noite de um Homem.
E esta sou eu contando pipocas sem saber por que você não vem para perto.

Nos fones de ouvido: Slave to Love

terça-feira, 20 de novembro de 2012

De um álbum de invisibilidades - II parte

Estes são os meus cabelos cobrindo meu coração de pão de mel naquele carnaval em que rasguei minha fantasia e você se atirou na piscina.
Estas sou eu, sem os cabelos de Rapunzel, fingindo que durmo sob o sol para você olhar para o meu pescoço pálido e fininho.
E  eu  saindo de fininho com meus óculos escuros, despachando a mala, abanando para o ar, chorando o mundo lá de cima.
E eu e o último aniversário da minha mãe antes de eu sair de fininho, colocar os óculos escuros, despachar a mala e abanar o ar para chorar o mundo lá de cima.
Este é um rapaz com um jardim no olhar esperando, no desembarque, por outra pessoa.
Estas sou eu passando por ele e pela outra pessoa,  tropeçando em mim mesma, atrasada  para o trabalho e pedindo pressa ao taxista.
E  eu aos gritos, dizendo siga aquele outro táxi porque o Raduan Nassar está nele e pouco me  importa se ele vai em outra direção.
E este é o taxista a me espiar pelo retrovisor e a seguir aquele outro táxi que estamos prestes a perder de vista.
Estas sou eu sentada na mesa ao lado da sua na padaria da esquina: inconformada, quebrada  e  já quase demitida no início do mês.
E eu relendo o meu Um Copo de Cólera enquanto como o pão com manteiga que a solidão amassou.
E este é você,  tão perto, sem poder enxergar um palmo em frente, ao lado e atrás do seu nariz, lendo Memórias Póstumas de Brás Cubas enquanto come o pão com manteiga que a solidão amassou.
Esta sou eu fechando a porta e descendo a avenida à pé, dizendo não, não, o relógio é meu e a dona da raiva sou eu.
Estes são meus amigos rindo do meu desatino em enfrentar um pivete.
E os meus amigos e eu com cara de mais espanto do que a de enfrentar um pivete diante da cena final de um filme.
Esta é a minha amiga, cansada de cinema, dormindo uma última noite em meu quarto antes de partir.
E esta sou eu me sentindo partida.

Nos fones de ouvido: Promessas demais.




domingo, 18 de novembro de 2012

De um álbum de invisibilidades - I parte


Esta sou eu na fila para comer canjica.
Deve ser inverno porque aparece embaixo do guarda pó branco uma gola alta. E eu devo ter uns sete anos porque, no meu sorriso, a porteira está aberta.
Esta sou eu lendo A Chave do Tamanho e pensando se o meu cachorro seria capaz de me engolir, se meus parentes seriam capazes de me engolir, pensando quem seria capaz. As  bolachas Maria entre os dedos são porque eu sou magra de ruim e não de fome ou enfastiada.
Esta sou eu de macacão.
Meu pai disse que eu quando eu morrer irei para o planeta dos macacos. Por merecimento. Cada macaco no seu galho é melhor que todos misturados.
E esta sou de camisola de flanela combinando com o chinelinho. O laço de fita no cabelo revela minha fase Alice no país das Vacarias e a admiração pela minha mãe sempre arrumada e cheirosa para dormir.
Esta sou eu chorando porque a mãe da minha colega veio devolver o relógio que dei a ela, dizendo que a filha não é ladra, que é pobre mas é honesta.
Esta é ela chorando depois de eu dizer, sim, claro que sua filha é honesta.
E esta é a filha chorando me dizendo que não vai mais ser minha amiga.
Estas sou eu na reunião dançante com as minhas outras amigas.
E euu na reunião dançante que eu pensei que você ia falar comigo.
Fiquei meia hora escovando os cabelos para que eles tivessem mais brilho. Passei brilho nos lábios.
Esta é você com ela.
Pensei em recortar a foto. Mas é impossível recortar a verdade.
Esta sou eu e ele no dia em que ele chegou lá naquela outra festa em que você também não foi falar comigo.
Esta sou eu e ele de mãos dadas.
Esta sou eu sozinha.
E esta sou eu e a mãe que realmente me cuida me dizendo que vai ficar tudo bem.
Estas sou eu escrevendo uma cartinha para a minha melhor amiga, dizendo a ela que vai ficar tudo bem.
E eu lendo Pais e Filhos sem entender quase nada. Ou entendendo quase tudo e por isso um tanto nauseada.
Esta comprando briga com a perua que furou a fila.
E eu brigando com o grandalhão que deu a entender que a minha irmã é uma galinha.
Esta sou eu brigando com o meu pai porque ele não quer que eu seja uma galinha.
Esta é a minha irmã  me chamando de galinha porque passei o final de semana na praia com o namorado.
Esta sou dizendo  a um professor que ele pare de cantar de galo, que depois da aula eu vou é para casa.
Este é o  chefe do chefe da minha editora mandando eu fazer uma entrevista no quarto de um sabidão.
Estas sou eu depois da ordem.
E a minha expressão de desordem. E  a minha mão que bate. E a minha língua de látego.
E estas?
Destas, falo depois.

Nos fones de ouvido: Joyce, música de um tempo de menina

domingo, 11 de novembro de 2012

Como o remorso perdido de um título


Nada disso deixará um instante.
E um anoitecer encobrirá o que poderia ter sido.
E lido como um livro não escrito,
como o remorso perdido de um título.
Nada disso deixará um instante.
E ela verá as palavras  multiplicando-se
sobre as mãos magoadas.
E, com os olhos ignorantes e encharcados de afeto,
pousará a fé por entre os contornos do bilhete
e da caligrafia não traduzida
do que ela sente e deseja
de cor e salteado.

Agora respire fundo


Diga trinta e três.
Diga outra vez.
Agora respire fundo.
Dói?
E se eu pressionar aqui?
Mais? Menos?
Como não importa?
Podemos bater um raio X.
Não é necessário, você  sabe o que tem?
Asas?
Não entendi!
Asas dentro dos pulmões...
Você tem asas dentro dos pulmões?
Asas de frango? Patos? Perdizes?
Se engasgou?  Mas que pássaro engoliu?
O seu?
De onde tirou essa ideia?
Não. Não.
Não!
Vamos recomeçar.
Diga o seu nome.
Diga o  nome dos seus pais.
E o seu endereço.
O número do seu telefone?
A cidade em que nasceu!
Certo.
E que dia é hoje?
E o mês e o ano?
Certo.
Certo...
Então, diga trinta e três.
Diga outra vez.
Agora respire fundo.
Respire.
Respire!
Vamos, respire o fim...

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Escreve



Escreve sobre o caldo derramado.
Sobre a sopa.
Escreve sobre o leite.
O leite da infância,
o leite dos copos,
o leite coalhado em flor.
Escreve o leite dos homens.
Do homem derramado na cama, na calçada,
na marca de outra dor.
Escreve sem caligrafia.
Escreve no lençol desafinado
e nas linhas sem clave
da trama, do vício e da morte
do horror.

Em meio a guloseimas e tolices


Para Cris de Souza

Estava à toa no facebook quase como na vida.
Na vida, nada é à toa. Muito menos a comida.
À toa se escreve separado? Será que pode ser junto?
Estava à toa no facebook e era hora do almoço.
E no livro do Manuel António Pina, ele me garantia: no princípio era o Verbo (e os açúcares e os aminoácidos).
E eu estava a comer uma coxinha gorda de galinha que só não estava perfeita porque não tinha Marili, farinha, farofa e companhia.
Havia rima e o diminutivo.
E tudo isso sem motivo.
Estava à toa no facebook, e eu sei que isso não é grande coisa.
Mas veio a Cris, a de Souza, e falou:
" troquei as leituras
de Romeu e Julieta
por goiabada com queijo."
E eu pensei : eis a troca!
Se de amor se morre, de goiabada com queijo se vive.
Mesmo que seja assim em meio a palavras, guloseimas e  tolices.



Leituras a partir de 1 de janeiro de 2012

1. Bilhete seco - Elisa Nazarian
2. Quando fui morto em Cuba - Roberto Drummond
3. O retrato de Oscar Wilde Fragmentos
4. Estrela miúda breve romance infinito - Fabio Daflon
5. Poemas - Wislawa Szymborska
6. Mar me quer - Mia Couto
7. Estive em Lisboa e lembrei de você - Luiz Ruffato
8. O pai invisível - Kledir Ramil
9. Poemas de Eugénio de Andrade - Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva
10. Os da minha rua - Ondjaki
11. A máquina de fazer espanhóis - Walter Hugo Mãe
12. Vigílias - Al Berto
13. Poemas concebidos sem pecado - Manoel de Barros
14. Face imóvel - Manoel de Barros
15. Poesias - Manoel de Barros
16. Compêndio para uso dos pássaros - Manoel de Barros
17. Gramática expositiva do chão - Manoel de Barros
18. Matéria de Poesia - Manoel de Barros
19. Arranjos para assobio - Manoel de Barros
20. Livro de pré-coisas - Manoel de Barros
21. O guardador de águas - Manoel de Barros
22. Concerto a céu aberto para solos de ave- Manoel de Barros
23. Quinta Avenida, 5 da manhã - S. Wasson
24. A literatura em perigo - Tzvean Todorov
25. O remorso de Baltazar Serapião- Walter Hugo Mãe
26. Lotte & Zweig - Deonísio da Silva
27. Indícios flutuantes (poemas) - Marina Tsvetáieva
28. A duração do dia - Adélia Prado
29. Rua do mundo - Eucanaã Ferraz
30. Destino poesia Antologia - organização Italo Moriconi. Ana Cristina Cesar, Cacaso, Paulo Leminski, Torquato Neto e Waly Salomão
31. Tarde - Paulo Henriques Britto
32. Correnteza e escombros - Olavo Amaral
33. Nelson Rodrigues por ele mesmo
34. A última coisa que eu pretendo fazer na vida é morrer - Ciro Pellicano
35. O encontro marcado - Fernando Sabino
36. O óbvio ululante - Nelson Rodrigues
37. O grande mentecapto- Fernando Sabino
38. O homem despedaçado - Gustavo Melo Czekster
39. Dia de São Nunca à tarde - Roberto Drummond
40. O canto do vento nos ciprestes - Maria do Rosário Pedreira
41. Antes que os espelhos se tornem opacos - Juarez Guedes Cruz
41. Desvãos - Susana Vernieri
42. Um pai de cinema - Antonio Skármeta
43. No inferno é sempre assim - Daniela Langer
44. Crônicas de Roberto Drummond.
45. Correio do tempo - Mario Benedetti
45. Gatos bravos morrem pelo chute - Tiago Ferrari
46. Gesso & Caliça - Alberto Daflon Filho e Fabio Daflon
47. A educação pela pedra - João de Cabral de Melo Neto
48. O fio da palavra - Bartolomeu Campos de Queirós
49. Meu amor - Beatriz Bracher
50. Os vinte e cinco poemas da triste alegria - Carlos Drummond de Andrade
51. A visita cruel do tempo - Jennifer Egan
52. Cemitério de pianos - José Luis Peixoto
53. O amante - Marguerite Duras
54. Bonsai - Alejandro Zambra
55. Diciodiário - Valesca de Assis
56. Não tenho culpa que a vida seja como ela é - Nelson Rodrigues
57. Lero-lero - Cacaso
58. O livro das ignorãças - Manoel de Barros
59. Livro sobre nada - Manoel de Barros
60. Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros
61. Ensaios fotográficos - Manoel de Barros
62. A queda - as memórias de um pai em 424 passos - Diogo Mainardi
63. Junco - Nuno Ramos
64. Os verbos auxiliares do coração - Peter Estérhazy
65. Monstros fora do armário - Flavio Torres
66. Viagem - Cecília Meireles
67. Cora Coralina - Seleção Darcy França Denófrio
68. Instante - Wislawa Szymborska
69. Dobras do tempo - Carmen Silvia Presotto
70. Eles eram muitos cavalos - Luiz Ruffato
71. Romanceiro da inconfidência - Cecília Meireles
72. De mim já nem se lembra - Luiz Ruffato
73. O perseguidor - Júlio Cortázar
74. Paráguas verdes - Luiz Ruffato
75. Todas as palavras poesia reunida - Manuel António Pina
76. Vidas secas - Graciliano Ramos
77. Inferno Provisório Volume II O mundo inimigo - Luiz Ruffato
78. O ano em que Fidel foi excomungado - José de Assis Freitas Filho
79. Boneca russa em casa de silêncios - Daniela Delias
80. As cidades e as musas - Manuel Bandeira
81. Billie Holiday e a biografia de uma canção Strange Fruit - David Margolick
82. Inferno Provisório Volume III Vista parcial da noite - Luiz Ruffato
83. Inferno Provisório Volume V - Domingos sem Deus
84. Inferno Provisório Volume IV - O Livro das impossibilidades - Luiz Ruffato
85. Pedro Páramo - Juan Rulfo
86. Zazie no metrô - Raymond Queneau
87. Fora do lugar - Rodrigo Rosp
88. Salvador abaixo de zero - Herculano Neto
89. Inferno Provisório Volume I - Mamma, son tanto felice - Luiz Ruffato
90. A virgem que não conhecia Picasso - Rodrigo Rosp
91. Claro Enigma - Carlos Drummond de Andrade
92. Tempo dividido - Sophia de Mello Breyer Andersen
93. A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade

Leituras a partir de 1 de janeiro de 2011

1.Desgracida - Dalton Trevisan
2.Diário de um banana - Jeff Kinney
3. Poemas escolhidos, seleção de Vilma Arêas - Sophia de Mello Breyner Andresen
4. Oportunidade para um pequeno desespero - Franz Kafka
5. Venenos de Deus, remédios do Diabo - Mia Couto
6. Ventos do Apocalipse - Paulina Chiziane
7. Para gostar de ler - Contos Africanos
8. Vinte e zinco - Mia Couto
9. O Vendedor de passados - José Eduardo Agualusa
10. O Fazedor - Jorge Luís Borges
11. Terra Sonâmbula - Mia Couto
12. Barroco Tropical - José Eduardo Agualusa
13. Quem de nós - Mario Benedetti
14. O último voo do flamingo - Mia Couto
15. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil - Silvio Castro
16. Na berma de nenhuma estrada e outros contos - Mia Couto
17.O reino deste mundo - Alejo Carpentier
18. Como veias finas na terra - Paula Tavares
19. Baía dos Tigres - Pedro Rosa Mendes
20. O português que nos pariu - Angela Dutra de Menezes
21. Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Marquez
22. Vermelho amargo - Bartolomeu Campos de Queirós
23. Meu tipo de garota - Buddhadeva Bose
24. Tradutor de Chuvas - Mia Couto
25. O livro das perguntas - Pablo Neruda
26. O fio das missangas - Mia Couto
27. Luka e o fogo da vida - Salman Rushdie
28. Pawana - J.M.G. Le Clézio
29. O africano - J.M.G. Le Clézio
30. O pescador de almas - Flamarion Silva
31. Um erro emocional - Cristovão Tezza
32. O amor, as mulheres e a vida - Mario Benedetti
33. A cidade e a infância - José Luandino Vieira
34. História do olho - Georges Bataille
35. Destino de bai- antologia de poesia inédita caboverdiana
36. O tigre de veludo- E. E. Cummings
37. Poesia Soviética - Seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho
38. A cicatriz do ar - Jorge Fallorca
39. Refrão da fome - J.M.G. Le Clézio
40. As avós - Doris Lessing
41. Vozes Anoitecidas - Mia Couto
42. O livro dos guerrilheiros - José Luandino Vieira
43. Trabalhar cansa - Cesare Pavese
44. No teu deserto - Miguel Sousa Tavares
45. Uma canção para Renata Maria - Ediney Santana
46. Sete sonetos e um quarto - Manuel Alegre
47. Trópico de Capricórnio - Henry Miller
48. Sinais do Mar - Ana Maria Machado
49. Carta a D. - Andre Gorz
50. E se o Obama fosse africano? E outras interinvenções - Mia Couto
51. De A a X - John Berger
52. Diz-me a verdade acerca do amor - W.H. Auden
53. Poemas malditos, gozosos e devotos - Hilda Hilst
54. Outro tempo - W.H. Auden
55. nem sempre a lápis - Jorge Fallorca
56. Elvis&Madona - Luiz Biajoni
57. Budapeste - Chico Buarque
58. José - Rubem Fonseca
59. Axilas e outras histórias indecorosas - Rubem Fonseca
60. Instruções para salvar o mundo - Rosa Montero
61. A chuva de Maria - Martha Galrão
62. Rimas da vida e da morte - Amós Oz
63. Aqui nos encontramos - John Berger
64. Pensatempos textos de opinião - Mia Couto
65. Os verbos auxiliares do coração - Péter Esterházy
66. Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke
67. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristovão Rilke - Rainer Maria Rilke
68. Adultérios - Woody Allen
69. Quem me dera ser onda - Manuel Rui
70. Satolep - Vítor Ramil
71. Homem Comum - Philip Roth
72. O animal agonizante - Philip Roth
73. Paisagem com dromedário - Carola Saavedra
74. Não te deixarei morrer, David Crockett - Miguel Sousa Tavares
75. Orelhas de Aluguel - Deonísio da Silva
76. Travessia de verão - Truman Capote
77. Avante, soldados: para trás - Deonísio da Silva
78. Antes das primeiras estórias - João Guimarães Rosa
79. O outro pé da sereia - Mia Couto
80. O cemitério de Praga - Umberto Eco
81. A mulher silenciosa - Deonísio da Siva
82. Livrai-me das tentações - Deonísio da Silva
83. A mesa dos inocentes - Deonísio da Silva
84. Hilda Furacão - Roberto Drummond
85. A estética do frio - Vitor Ramil
86. Poetas de França - Guilherme de Almeida
87. Tarde com anões 7 minicontistas - Carlos Barbosa, Elieser césar, Igor Rossoni, Lidiane Nunes, Mayrant Gallo, Rafael Rodrigues e Thiago Lins.
88. Pensageiro Frequente - Mia Couto.
89. A palavra ausente - Marcelo Moutinho
90. Uma mulher -Péter Esterházy
91. Cartas de amor - Fernando Pessoa
92. A última entrevista de José Saramago - José Rodrigues dos Santos
93. A morte de D.J. em Paris - Roberto Drummond
94. Do desejo - Hilda Hilst
95. Cenas indecorosas - Deonísio da Silva

Leituras a partir de 19 de Julho de 2010

1. La Hermandad de la uva - John Fante
2. Nem mesmo os passarinhos tristes - Mayrant Gallo
3. Um mau começo - Lemony Snicket
4. Recordações de andar exausto - Mayrant Gallo
5. Ladrões de cadáveres - Patrícia Melo
6. O mar que a noite esconde - Aramis Ribeiro Costa
7. Há prendisajens com o xão - Ondjaki
8. E se amanhã o medo - Ondjaki
9. O último leitor - Ricardo Piglia
10. Par e ímpar - Tatiana Druck
11. Paris França - Gertrude Stein
12. Quirelas e cintilações - Luiz Coronel
13. AvóDezanove e o segredo do soviético - Ondjaki
14. Luaanda - José Luandino Vieira
15. Poemas para Antonio - Ângela Vilma
16. Estranhamentos - Mônica Menezes
17. A vida é sonho - Calderón
18. A varanda do Frangipani - Mia Couto
19. Um copo de cólera - Raduan Nassar
20. Antes de nascer o mundo - Mia Couto
21.Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
22- Poemas da ciência de voar e da engenharia de ser - Eduardo White
23. Manual para amantes desesperados - Paula Tavares
24. Materiais para confecção de um espanador de tristezas - Ondjaki
25. Milagrário Pessoal - José Eduardo Agualusa
26. Felicidade e outros contos - Katherine Mansfield
27. Estórias abensonhadas - Mia Couto
28. Fábulas delicadas - Eliana Mara Chiossi
29. O Ulisses no Supermercado - José de Assis Freitas Filho
30. Cartas Exemplares - Gustave Flaubert
31. A Moça do pai - Vera Cardoni
32. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra - Mia Couto
33. Dentro de mim faz sul seguido de Acto Sanguíneo - Ondjaki
34. Bonequinha de Luxo - Truman Capote
35. 125 Poemas - Joaquim Pessoa.

Mundo bípede


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