segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O mundo vermelho de cada dia

Sendo só um átomo não há como digitar palavras, mas elas existem, caladas no fundo de um corpo que as tranca para não transformá-las em um letal instrumento de guerra. As memórias são como campos minados, terreno perigoso para quem se reconhece frágil. As palavras são as marcas, os vícios e as dores. E o silêncio, um placebo anestésico, um calmante para as rebeliões internas e para os coágulos pintores da alma branca em vermelha.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Memórias de um átomo

Se fosse mais que um átomo
como começaria as suas memórias?
Falaria do passado para justificar o que se é?
Ou daria um pulo para o futuro a fim
de mudar e mudar e mudar?
Se fosse mais que um átomo saberia
responder de que se trata a questão
ou continuaria no beco humano
do dia-a-dia?
Se encontrasse um próton e um nêutron,
deixaria um elétron entrar no elo, ou o expulsaria
com eletrochoques?
Se fosse além de uma partícula e reorganizasse o cosmo
e suas explosões, seria mais feliz ou continuaria sendo
sempre o mesmo atônito e atômico ser?

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

sábado, 3 de novembro de 2007

Se for possível

Ele dorme, enroladinho no cobertor, no quarto ao lado. Antes de pegar no sono vem e a abraça e abraça e vai e volta para um último e mais forte abraço e, então, abraça de faz de conta o pai que, por algum motivo, teve de sair. Ela fala que está tudo bem e que o pai também deve estar fazendo o mesmo, porque o pai o ama e sempre amou. Ele sorri um sorriso tímido e um pouco cansado e vai para cama certo de um próximo dia melhor. Ela promete a ele que sim com uma pontada de dor. Não tem certeza se é possível cumprir.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

No quarto andar

A casa vazia
feito o tecido
esburacado.
O menino de lá para cá
procurando
a quem não
acha e nem sabe
o porquê.
A mãe empurrando o sono
atrasado
enquanto a louça
vai sendo depositada na pia.
E o cachorro na janela
certo de que lá fora
caminham os gatos
que ele gostaria de ser.

Dia dos mortos

Finados. Dia dos mortos, explica o filho da bípede. Data anticomemorativa destinada à reflexão sobre a perda daquele a quem amamos e sobre o significado da vida, a população costuma aproveitar as vinte e quatro horas para se divertir. Ou a parte felizarda dela por não ter provado o sabor amargo do velório, do enterro ou da cremação. A bípede está há mais de dez anos elaborando os seus lutos. O processo é silencioso, logo, passa desapercebido por olhos e corações pouco atentos. Sendo o luto uma roupa invisível e fora de moda, fica difícil parecer bem nele. Na verdade, ela incomoda pela promessa que carrega. Pesa no andar dos dias. Ontem foi aquela moça da esquina quem faleceu, uns dias antes o vivente cheio de energia. Quem sabe quando a morte vai dizer: ei, hoje é você?

Bomba caseira em bairro de classe média

Desativada, ontem à tarde, uma bomba caseira construída por um morador de bairro classe média em uma capital do sul. Pego em flagrante e portando armas letais, o autor cuja identidade se particiona em várias outras, alega ter agido em defesa própria. De acordo com ele, o mundo o fez assim. A sociedade implacável e suas instituições falidas o conduziram a ter idéias e ideais explosivos. Casado com a mulher errada há mais de uma década, estafado por uma profissão imposta pelas circunstâncias e frustrado por não ser mais um menino, ele decidiu desenvolver o seu arsenal doméstico após ter visitado um site na Internet sobre relacionamentos leves. "As pessoas virtuais são excelentes companhia; vão ao cinema, a restaurantes, passear com o cachorro, viajar, ver Tv, enfim, a todos os lugares com a gente e nos ensinam muitas coisas.", ele fala. Procurada para depoimento, a esposa do homem bomba negou-se a dar explicações, alegando problemas de saúde e não ter conhecimentos suficientes a respeito das atividades e das amizades desenvolvidas por ele nos últimos anos. Testemunhas dizem ter ouvido várias explosões vindas do apartamento de cobertura antes da polícia chegar. O vizinho do apartamento ao lado teme pela sua segurança. " E se ele tiver feito uma arma biólogica capaz de ultrapassar as paredes, o meu lar também será atingido?, pergunta. Ninguém sabe a resposta. Apesar de estar detido para investigações, o homem bomba não tem cooperado muito. Aceita dar detalhes na presença de deus e de mais ninguém.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O imbecil do leite

Em um outro blog, leio: " O imbecil que fez esse crime de "batizar" o leite com soda cáustica, oxigenada e outras porcarias tem que estar na prisão e no seu CPF deveria estar marcado: eis aí o homem que colocou soda cáustica no leite das criançinhas e da vovozinha". E onde será que estão aqueles que colocaram soda cáustica oxigenada siliconizada vaginizada e outras porcarias no leite das criançinhas e da mamãezinha já que, falando-se de vovozinha, nunca fizeram nada contra, só a favor? Onde será que sentam com suas gravatas e ternos bem cortados e bem apresentados? A quem será que enganam com sua formação teórica e seu trabalho tão cheio de ética e justiça? Por quem será que lamentam ( se é que lamentam)? Amamentam-se, todo santo dia, de leite matinal ou simplesmente o derrubam e nem choram porque dizem ser inútil chorar sobre o leite derramado? São eles gente como toda gente e o padrão ou discursam sobre o coletivo apenas para desviar a atenção de seus próprios erros? Vale a pena ter por perto tal tipo de raça ou o melhor é abandoná-los nos campos para que urubus os devorem ao primeiro sinal de fraqueza? Vale a pena viver em silêncio por que um boi velho não sabe emitir muitos sons além de mugidos? Vale a pena cuidar do bicho quando há tanto curtume dando sopa, ops, leite? Vale a pena dizer vale a pena se não há pena a ser cumprida e nem se vislumbra uma pena sentida? Quem foi mesmo o imbecil que derramou soda cáustica?

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Bonequinha de Lixo

A escala evolutiva no planeta não é como me ensinaram na escola. Aliás, um zilhão de coisas que aprendi não estavam certas. Eu sempre pensei que todo mundo que nascia humano era gente. Pensei que eu era, você, ele, aquele cristo ali. Uns até que são. Outros vão perdendo a humanidade e virando macaco, galo, piranha, elefante e um monte de diferentes animaizinhos. Outros tantos, se transformam em máquinas, micros e noutibuks como dizem alguns gênios por aí. O lance, então, é rodar softwares e games; há a chance de ganhar, de perder, de cumprir todas as etapas, de salvar o jogo etc. Tem quem se divirta e muito. Tem quem fique entediado e ultrapassado. E tem quem faça a sua própria revolução e se transforme em uma força de resistência imbatível e incorruptível, que volte a era das cavernas, mas não entregue o sangue e a gana a um processador Intel. A bípede falante está um pouco confusa sobre quem ser. Foram encontradas alterações em seu sistema. O de aúdio anda um pouco travado. Não sai quase nada em bom tom de seu aparelho fonador. Portanto, por hora, ela é só bípede. E o de origem não consegue encontrar os caminhos e os comandos certos para se autoformatar, está tendo panes (para não dizer surtos). O fato é que ela embonecou. Não pensem que ficou mais atraente em estilo bonequinha de luxo. Está mais para bonequinha de lixo. Embonecou porque teve amputada, no lugar da perna, boa parte da alma. Tratou, é claro, de colocar, no lugar e o quanto antes, uma prótese. O modelo caiu como uma luva. Ajustou direitinho, o problema é que, embora resistente, ele é de plástico, não solta as tiras e nem deforma. Puxa vida! A bípede está virando uma havaiana.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Quem sabe um dia?

Uma sensação, realmente, estranha se apoderou da bípede. E ela assim pensa porque nunca sentiu, durante tanto tempo, uma pedra no lugar do coração. Tá certo que ela já se acostumou a ter coágulos nas pernas, e que esses mesmos seres costumam, sabe-se lá o porquê, endurecer a musculatura. É só descuidar um pouco (tomar o remédio fora de hora ou fazer um calor a mais) e pronto: lá vem o pedregulho na veia. No peito é que é novidade. Porque a bípede costumava ter um coração de manteiga, choroso e derretido. Ele batia leve e forte e leve e forte e sempre com espaço e ar. Havia espaço também na mente e nos braços para receber e acalentar. Findou-se como canta um nativista daqui. " Está findando o meu tempo ", ele diz. O dela não. Sai para lá. A questão não é essa. The question também não é ser ou não ser. O ponto é como aprender, de novo, outra vez, novamente, again, a viver feito gente e não feito máquina. Porque a bípede e o seu coração estão presos a um software paranóico e melancólico hiper tri repressor. Ela tem suas razões; é óbvio "lulante"já dizia um professor universitário cheio de si em uma sala de aula cheia de similares. Na época, a bípede pensava que esquisito esse cara falar desse jeito, mas com a maré de Internet deu de frente com pérolas mais brilhantes ainda. Néto, tanbém, musel e outras palavritas reiventadas por gente de qualidade virtual. Caiu o queixo, doeu a cabeça, doeram os ouvidos. Nunca o coração. Nunca antes jamais alguma vez ele havia sofrido a ponto de sendimentar algo que nem ele, nem sua dona decifram. Quem sabe um dia?

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Detesto com D maiúsculo

Segunda-feira
medusa
santa catarina
garotas de ipanema
miúdos de galinha
acordar cedo
esmalte escuro
loira de farmácia
cheiro de cerveja
estacionar
bagunça
sujeira
matemática
prepotência
música sertaneja
grosseria
burrice
bêbados
drogados
impotência
puxa-sacos
submissos
sapato apertado
resfriado
música alta
traça
barulhos
misticismo
moralismo
preconceitos
fofoca
msn
gente virtual
gente imoral
kanuh
e
francisford.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Blogueiro com a cabeça no lugar

Roçando a roça dos outros,
blogueando com luvas de pelica
a criminalidade floresce sempre no mesmo lugar.
Tropa de elite e bolsa de onçinha,
invadindo, roçando e manipulando,
quando a ficha cai,
eles querem calar a boca.
Atirando pedras na vidraça da casa branca,
detalhes que os blogs de esquerda gostam de ocultar,
simples: copia e cola,
com medo do bicho papão
a farsa antiprivatista.
Fuzilar é preciso?
Monitorando o ribimboca,
a pessoa que você ama é 72% água!

Receita número 1

O que fazer com um galo? Arroz de Cabidela!

Ingredientes :
1 galinha, ou um frango ou um GALO ;
0,5 dl de azeite ;
3 colheres ( sopa ) de vinagre ;
1 cebola grande ;
2 dentes de alho ;
100 gr de toucinho ;
1 folha de louro ;
1 malagueta ;
1 tigela de arroz ;
Sal q.b.

Confecção :
Aproveite o sangue da galinha, frango ou GALO deitando-o numa tigela com três colheres de sopa de vinagre para que não coalhe. Numa panela, ponha a refogar no azeite a cebola e os alhos picados. Junte-lhe a carne cortada aos bocados pequenos e os miúdos ( excepto o fígado ), o toucinho cortado, o louro e a malagueta cortada ao meio.Refogue tudo, tempere com sal e deixe estufar em lume brando. Cubra a carne com água quente, tape a panela e deixe cozer até ficar macia. Depois de cozida retire-a e rectifique a água para que fique na proporção de 3/1 para a cozedura do arroz. Assim que levantar fervura junte o arroz.Três ou quatro minutos antes de ficar pronto junte o sangue, misture-o bem, junte também a carne e deixe apurar.

Pela semana

Antes de ontem: as palavras movimentam o cérebro e, no entanto, não o acordam. Anestesiado pelo horário de verão e pela sensação de afogamento pós um tsunami noturno, ele dói. Luta. Luta e nada. O dia está sendo vencido. Em derrota, configura-se o discurso apresentado por um sotaque made in Goiás.
Ontem: Tantas vozes ao mesmo tempo roubam o significado de cada palavra. Feito tambores, incomodam os meus ouvidos enquanto me lembram de ser um soldado. Eu devo ser um soldado e tenho de construir a minha própria trincheira, um buraco para a falsa impressão de segurança que a vida e que as outras pessoas nos emprestam.
Hoje: sorrindo, ele diz - uma mentira dita várias vezes se torna uma realidade-. Depois completa com a pérola de plástico - cada um coloca o que quer onde acha que deve colocar-. Eu estico as pernas e os braços, bocejo e nem me espanto por não sentir um choque.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O punhal que habita o meu lar

O punhal que habita o meu lar
corta o avesso
sem perceber o direito
afia a dor
confiando na lâmina
que o cega.
O punhal que habita o meu lar
precisa partir em duas
a fúria
sair de férias
ou de licença
para trazer de volta
o que um dia
amou sem saber
o que sentia.

Uma vida em meio a farofas

Nos campos de cima da serra, em uma cidade quase fantasma, um velho cria galinhas no centro. Ele não as usa para batuques, nem as come. No máximo, lhe rouba os ovos. Um, dois, duas dúzias. Quantos elas colocarem em um dia, em uma semana, em uma eternidade. Cada galinha tem um apelido, uma característica e recebe sempre um afago. Seja pelas coxas gorduchas, pelo pescoço pelado ou pela capacidade de chocar, ele lhes toca com a mão e com o seu bom coração. São galinhas amorosas à prova de choque e à tropa de elite, menos de galo. Porque há um galo velho como o seu dono cacarejando e bicando no galinheiro. O galo, por ser galo e ter um cérebro de titica, pensa que no mundo existem ele e as galinhas e mais ninguém. Não interessa a espécie. Se for fêmea, é dele. Se não for, também. O galo, que também não é batuqueiro como o velho que cria galinhas, ao contrário do seu dono, as come até se fartar. É uma vida em meio a farofas. Mais ao centro, embaixo da serra, em uma cidade cheia de fantasmas, um homem - nem velho, nem moço - não cria galinhas em seu bairro, não as usa para batuques, mas as come feito um pinto grande. Uma, duas, duas dúzias. Quantas ele encontrar em um dia, em uma semana, em uma eternidade. Seja pelas coxas gorduchas, pelos pescoços enrugados e pela capacidade de chocar, ele lhes toca com a mão, com o bom coração... e com suas boas palavras. Ele não tem um galo, nem quer. Sozinho já se diverte imaginando que galo ele é.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Um pouco perdidos

Lá fora, nada parece ter mudado. O movimento camufla qualquer alteração na rotina. Aqui, outros horários: o sono antecipado, uma preguiça depois do almoço e a energia da tarde transferida para o início da noite. A bípede pensava ser notívaga. Talvez, porque dormisse mal e tivesse muitos pesadelos. Como solução, acordava e lia, ou escrevia ou, de balde e panos em punho, fazia um faxinão na casa. Por um tempo, um esquema integrado à funcionalidade da família. Mas a bípede mudou e, mudando, mudou seus desejos. Muitos, uns grandes e outros tantos bem pequenos. Todos quase bem-vindos. Todos quase desejáveis se não estivessem ainda um pouco perdidos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

É preciso saber viver

A terapeuta da bípede disse que ela precisa se defender um pouco de tanta realidade. A bípede tem a tendência a somatizar no corpo as dores da alma. Um negócio perigoso para quem já anda doente. Então, a criatura aqui resolveu cantar. Para sorte de vocês, o programa não tem aúdio. Lá vai:


"Quem espera que a vida
seja feita de ilusão
pode até ficar maluco
ou morrer na solidão
é preciso ter cuidado
pra mais tarde não sofrer
é preciso saber viver
Toda pedra no caminho
você pode retirar
numa flor que tem espinhos
você pode se arranhar
se o bem e o mal existem
você pode escolher
é preciso saber viver."

(Titãs)

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Na multidão

Estive no centro da cidade. Fui comprar tecidos e linhas para costurar um Salsicha e um vilão. O meu pequeno bípede quer fazer marionetes. Tem de fazer para uma atividade da escola. Eu como uma convicta bípede materna, coloco minhas habilidades para trabalhar. A noite vai ser engraçada. Vamos recortar e costurar até ficar bom, porque o meu bipedezinho é exigente; tem refinado senso estético para tão pouco tamanho e fica horrorizado diante do enigma do complexo da garota de Ipanema. Nem ele, nem eu compreendemos o que move montanhas de mulheres e silicones pela cidade. De vez em quando, ele grita: mãe, vi uma vovó fantasiada de Barbie. Gosto e critica herdados de mim. Um viva para nós! E um viva para o centro da cidade. Não é limpo. É bagunçado. Tem ambulante gritando corre, corre, polícia! E tem, também, ambulante gritando pega, pega, ladrão. Tanta gente, tantas etnias. Na Dr. Flores, caminhavam quatro homens vestidos a La Bin Laden. Na porta do táxi lotação, um rapaz falava o quanto quer ser despedido e não consegue. Eu só observando, registrando os rostos e os cheiros irresistíveis de tão cheios de verdades.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Todo amor que houver nessa vida

Uma das músicas favoritas da bípede, talvez a preferida, é Todo Amor que Houver nessa Vida. Se há um deus, dois, nenhum, era isso o que ela lhe pedia: a sorte de um amor tranqüilo. O desejo não foi aceito. Nada é aceito. Como o mordomo Santiago, a bípede apenas suspeitava de que na vida nada faz sentido. Demorou para aprender que o Alienista do Machado é que estava certo, de que o padrão do homem moderno não é a saúde mental e sim a neurose. Melhor se nos internassemos todos juntos em um grande sanatório. Como escreveu Modesto Carone, no posfácio do incomparável livro A Fera Na Selva (que todos deveriam ler para aprender a viver), a tragédia moderna do autoconhecimento é que ele pode chegar tarde demais. Uma pena, mas uma verdade.

Segue a letra da música. Com certeza, existem os que podem ouvi-la mesmo sem o som.

Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a sua fonte escondida
Te alcance em cheio o mel e a ferida
E o corpo inteiro feito um furacão
Boca, nuca, mão, e a tua mente, não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Aplausos

A soberania dos donos é inquestionável. O seu bom gosto e bom senso também. São eles os chefes da nação, o exemplo da ética e os justos. Eles usam óculos e diferenciam o joio do trigo sem pestanejar. Fazem leis e plebiscitos. Gritam vivas à democracia. Os seus ânimos sempre tão belicosos prezam a paz mesmo que antes promovam a guerra. Não sendo soldados não entendem as perdas. Olhando do horizonte, não vêem o sangue. Não gostam de sangue. Não gostam de voz. Querem silêncio em meio aos aplausos ainda que, para tanto, transformem, o mundo que os cerca em um circo de palhaços.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Mais ou menos assim

Com a devida licença poética e contando com o bom humor do insuperável Drummond, lá vai:

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história porque não tinha Internet.

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

O caráter íntimo da dor

Penetrar na verdade.
Sair da desvantagem para um recanto onde não existe nada.
Abandonar o baralho imperfeito, mesmo sentindo uma nítida pontada.
Esconder a vaidade ferida em sua memória de longo alcance, protegendo a raiz de meu mundo.
Longe da sensação de violência iminente, deslocar a consciência súbita do divertimento insensível.
De modo reservado e descolorido, invisível ao bote inevitável e aos buracos de olhos tingidos, descobrir o que me salva e sobre o que há escolha.
Não me acostumar com o perigo. Não habitar a proximidade, nem perder a noção de alguma linha sagrada.
Preservar o desejo de não ser um humano logrado.
Em uma ilha de repouso, não me afastar da essência.
Ao som dos temores nunca mencionados, diminuir a distância dos passos movediços, das reedições e suas conseqüências.
Sem a intenção de ser justa, esmagar o mal e não desligar a bondade.
Bater de porta em porta à procura do amor extraviado, da marca da diferença e da circunferência de meu deserto.
Como em uma linha de apoio e de identidade, antídoto da anestesia que lateja a dor refinada em vermelho, registrar a devastação e a hemorragia, congelando o horror de ser atacada em casa e não na selva por alguma fera.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Pedras e mais pedras

A humanidade sempre há de se deparar com pedras. Às vezes, com rochedos e até Himalaias. Raramente, diamantes puros estarão em seu caminho. Uns terão a sorte ou o bom olho de diferenciar, entre tantos pedaços brutos, aqueles que jamais poderão ser lapidados. Outros, feito a bípede, precisarão ter as pernas e o coração esfolados para aprender. Agarrados a expressão nunca é tarde, darão a volta no mineral que os machuca, sangrarão pelos poros, pelo cérebro e pelas células até a última gota, mas sairão vivos porque em seus corpos circula o que os sem vida jamais conseguirão ter.

Sempre em frente

Depois do décimo dia de caminhadas, finalmente, um quilômetro a mais foi introduzido. O tempo, levando-se em conta que cada passo dói dentro da perna, foi ótimo. O que, no início, rendia três mil metros agora rende quatro. Não foi fácil. Veias e músculos estão aprendendo o que sempre lhes pareceu óbvio. Em alguns momentos, a bípede parece que vai fraquejar. As fisgadas aumentam. Um pingo de humilhação vem à tona, e o parque parece uma roda turca. Mas a criatura não se rende. Aumenta, então, o tamanho da passada e o ritmo. Quase ouve os tambores das galés e sente o peso das correntes. Lembra de Ben Hur vencendo o corpo e a injustiça de estar entre os condenados e segue, segue, segue porque em algum outro lugar ela há, também, de chegar.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Sobre a dor

A dor tem cor.
Pode ser pálida por falta de vida.
Vermelha e líquida por rebelião.
Pode ser escura e fatal como um final infeliz.
A dor pode viver escondida,
roendo a existência e as relações.
Mas pode ser leal a seu dono
e gritar e emergir para protegê-lo.
Pode ignorar os clichês
e andar de mãos dadas com os dias
feito um cubo mágico do amor.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Líquida e vermelha

A bípede esteve no médico e foi, de novo, verificar a protrombina. Como nas duas últimas semanas ela subiu e desceu feito uma montanha russa, o cerco teve de ser apertado. Apertado, também, foi o braço direito. As mãos que deram o nó na borracha, além de frias, eram pesadas e incompetentes. Mãos de carrasco para quem tem de lidar com a dor alheia, às vezes, líquida e vermelha como a da bípede. Mas ela não pareceu zangada. Talvez, um pouco perdida, quem sabe alucinada pelos chás-verdes, promessa de longa vida, que toma por conta própria. A bípede deseja viver muitos anos. Ficar velhinha e enrugada e sábia será o mais doce presente de sua história. É claro que outros privilégios a contentarão em quase igual medida. Na verdade, qualquer coisa desde que mantenha-se intacta a sua indispensável harmonia.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Inacabado pessoal

Quando não há rosto nem essência, resta a caricatura, a maquiagem de um quase humano forjada sem tinta e traço. Escutam-se os passos e a respiração, mas não a vida. A existência se reduz a forma plástica das aparências. As exigências sociais de quem pouco se preserva limitam-se ao pseudo-cumprimento de normas próprias. Narcisistas sem princípios, os caricatas contentam-se em nutrir o seu recalque de ser a cópia. Um borrão de carne, por vezes, ingênuo a ponto de pensar-se original. Cruéis pela falha moral, pelo inacabado pessoal não constroem o incomensurável. Habitam a solidão entristecida de ser uma variável evolutiva, presa entre o mito e a realidade e alheia ao significado do afeto, do respeito e do que deveria ser, simplesmente, rotina.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Medos

No corredor dos meus medos tem: lenço, velho do saco e soldado; altura, enjoo e prof. Mirtes; Guncho, sapatilha de ponta e palco; não amar, amar e ser esquecida; não confiar, confiar e perder a confiança; não ser mãe, ser mãe e perder um filho; morrer viva, morrer morta de morte matada e não morrida; morrer antes de envelhecer; viver sem saber; saber sem sentir. E no seu o que tem?

domingo, 2 de setembro de 2007

Vai e vem

Ter paciência e mais paciência e paciência. Ajeitar a bagunça e a nova bagunça e mais uma vez outra bagunça. Renunciar, renunciar, renunciar. Domingo não é domingo. Sábado não é sábado. A semana começa, vai e vem e não muda. Vive-se a vida de um e de outro e sabe-se lá quando vive-se a que se tem de direito. Faz parte do show, do pacote, da idade e das escolhas. Segue-se tendo paciência e mais paciência e pedindo, por favor, por mais e mais bem aventurada tolerância. Um pouco para mim, para ele, para o outro ele e para nós todos feito uma oração cristã esquecida de palavras caladas no teclado ou pouco ditas.

Nada de mais

A divina comédia de não estar no meio do caminho. De não ser poeta, nem esperta e de ter de reeducar outra vez uma das pernas. Os ouvidos fartos de tantos sons. A boca cansada de tantas palavras. Ei, alô, o que é isso? Gente dizendo eu te amo e não te amo e perguntando você me ama e não me ama e o bem-me-quer, mal-me-quer de flores que nunca são colhidas. Você querendo apenas concentrar-se um pouco em si. Nada de mais. Mas também nem de menos. Um pouco de ar ou de infância. Um copo de leite fresco na ausência de um colo sólido. Um tapete mágico e macio nos tombos. Sentir-se menos exigida, entrando em férias de quem quer que habite em si. Talvez, uma imersão em uma sala escura de já demolido cinema. Da época em que, nas ruas, caminhavam feito irmãs a realidade e a harmonia.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Submissão

Às vezes, acontece. Ela perde a vontade de ler e escrever e até de saber. Fica desinteressada pela vida íntima das palavras. Mais, sente desprezo por cada sílaba. Busca um silêncio desprovido de significados e sem história. Nunca consegue chegar longe. Não é possível perder a linguagem. O esforço, para esquecê-la, tem de ser imenso. Tão grande quanto a lista de vocábulos impressos nos dicionários. Um segundo de nada, dois segundos, três? No cérebro falta a mesma respiração que movimenta os pulmões. Sempre é preciso vir a tona. Seguir flutuando na densidade das horas, dos fatos e das dores. Catequizar a mente, submetê-la a existência. Submeter-se a si.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Escadaria

O presente me espreita enquanto espreito lembranças. Quase sem perceber o tempo, me perco em suas épocas e de menina viro mulher e volto a ser criança e mulher e menina e nem sei. Vejo o guarda-pó branco e lembro do cheiro da canjica servida na taça de aço e da escadaria de madeira. Lá no alto está a professora Mirtes, fulminando meu corpo magrinho porque esqueci de tirar os farelos de bolo Inglês da minha gaveta. Lá embaixo estou eu, pensando se subo ou se corro de volta para casa. A diretora me ordena vá e, no primeiro degrau, estou no telefone, passando um trote para um menino a pedido de minha prima. E escuto as nossas risadas e a minha voz destilando frases da coleção infanto-juvenil favorita. O garoto fala pouco, tem namorada, mas suspira por haver um fã-clube. Eu acho a maior graça porque não vejo graça alguma no cristo, mas os dias andam e lá estou eu de mãos dadas com ele, deslumbrada diante dos olhos verdes que eu não percebia. E ele gosta de balas Valda e sabe tanto português, romancês, amorês. Hmmm... Vou ficando sabida. Os sabidões mais ainda. A galope correm atrás de minhas crinas longas de índia, e eu me sinto tão nômade, procurando em outras mãos outras linhas, percorrendo a estrada que liga as duas cidades sozinhas. Curvas no asfalto e nas minhas pernas. A velocidade girando os ponteiros, me lançando no espaço feito as minhas brincadeiras de menina.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Tique-Taque

Medusa diz ter curso superior com pós-graduação na Ufrgs. Medusa trabalhou em um museu durante muitos anos. Durante esse tempo todo, agendou as visitas escolares. Diz conhecer arte, sobretudo. Fala com ares de entendida sobre o Impressionismo e o quanto ele é, como se diz: impresssionnannnnteeee. A gente fica de boca calada ouvindo o beabá da erudição. Um pouco por sabedoria e um pouco por medo de seus olhos e cabelos alisados por centenas de chapinhas de aço. O homem da Medusa não tem poderes. Faz parte do mundo dos mortais ainda que, volta e meia, confunda-se com um deus do Olimpo. O seu maior desejo é ser eterno. Assim como sua primeira dama de segunda, fala com ares de entendido sobre o significado da vida e sobre as promessas melhores que a morte trará a quem escolher. Parece destemido embora não reconheça nunca a sua hora. A hora é para os outros. Digamos que ele consulta o seu relógio como sendo o dono do tempo e não como um mero curioso. Os dois, Medusa e o seu homem, entendem-se como nenhuma outra dupla de heróis, ou vilões. Os seus ponteiros andam no sentido anti-horário com o mesmo tique-taque e ai de quem interferir em nobre mecânica. Medusa não gerou crias. Não poderia olhá-las nem de perto como prevê o manual de interação mamãe-bebê; nem de longe como prevê o manual de interação mãe-filho. Combina mais com sua casa um corredor repleto de estátuas de pedra. O homem da Medusa, por outro lado, doou os seus espermatozóides sem hesitar. É bem verdade que a doação restringiu-se a entregar os pequeninos nadadores. Talvez, soubesse de antemão que a Medusa o esperava assim que sua primeira mulher dobrasse uma esquina. Difícil acreditar. Acompanhar o vai e vem de cada um além de lhe causar desgaste, também, lhe impõe proporcional desgosto.

sábado, 11 de agosto de 2007

Soldado obediente

Mais um jogo e lá estou eu vendo as pernas magrinhas do meu filho correr. Ele corre como se ventasse, mas, tímido, sofre diante da torcida maior do time adversário. Eu sofro sentada, angustiada pelo esforço físico e emocional que testemunho. Ele não sabe usar o seu corpo como gostaria. Herdou de mim, ou do pai, ou de ambos, a falta motora. Entretanto, nos supera na coragem e na disciplina. O pai ama futebol do lado de fora do campo. Eu não amo em lugar algum. Amo o meu filho, o que me obriga a ver o menino alto e robusto barrar a sua passagem, e o pequenino e ágil roubar-lhe a bola. Ele segue tentando jogar. Soldado obediente de seu professor, se expõe até o fim. No fim, o seu time ganha. Os astros fizeram o seu trabalho. Tudo tão previsível se eu não visse no rosto do meu filho além da alegria um enorme cansaço.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Um único líquido

Nem em um buraco,
capinando sol, aguando aqui.
Cada um é de um jeito.
Ou são todos iguais?
Na garrafa depositam um único líquido,
gelado ou aquecido.
Uns se embebedam,
outros se ignoram
e não param de rir.
Martelam maldades
por falta de pregos e vontade.
Nem samba, nem dança
para palhaço, de preto e branco,
primeiro ou quinto, sim,
tanto faz, vestir.
A ordem revela as dores,
pigmenta a memória
e esfacela,
pintada e violenta,
a face
da criatura
dispersa
quieta
e
com um fim.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Caça palavras

Capacidade de planejar. Competição de carne e de osso e de inteligência. Homem erectus. Monolitos com pés. Cérebros famintos. Somos capazes de reconhecer e de se por no lugar de outros? Ou a regra é colocar-se contra apenas por diversão? Mulheres são fêmeas antes de serem pessoas? São? Foram? Sempre serão? Faz alguma diferença você amar quando do amor nada e tudo se espera e mesmo assim por ele se quebra? Rotina é o mesmo que tédio? Tédio vem e vai ou é você que não vem e não vai e quer chegar a um lugar comum. Parceria vem com data vencida? Há centenas de milhões de humanos casados no planeta. Qual a razão sincera de cada escolha que se faz? Por que A se ao lado está o B? Existe poder? Poder externo ou interno? Há quem saiba responder. Existe ainda gente de palavra? As palavras são a nossa voz ou apenas mais um ruído a ser capturado entre os milhares que passam distantes dos nossos bons ouvidos?

quarta-feira, 25 de julho de 2007

De amor e de aço

O sol não camufla as mãos do vento frio. Os bastidores da natureza são as suas sementes. Há mais pedras. Dominam as rochas brutas. Nas águas límpidas, são derrubadas as necessidades descartadas de cada vinte e quatro horas. O combate se dá invisível. Passeia no ar o rancor dos que se auto-proclamam deuses. Raios e trovões sobre a cabeça de seu próprio Olimpo. Morte aos mortais e aos bípedes. Silêncio!, eles ordenam. Estamos em repouso. E ai do humano que fugir à glorificada lógica. Não fale de afeto. Prepare a sorte da roleta quase russa. Pode haver o perdão, a infinita memória, o recomeço e a loucura. Tantas fontes desconhecidas do não saber sabendo-se, da paciência indispensável e da necessidade de colocar, no corpo, os olhos de um escudo feito tanto de amor quanto de aço.

domingo, 22 de julho de 2007

Caixa de silêncio

O filme é para crianças, e a sala está repleta de adultos. Ela está sozinha. Usa o cinema como caixa de silêncio ainda que as falas interfiram no seu objetivo. A idéia é calar para pensar. Pensar para não calar. Há gritos, conflitos, mortes. A dor como eterno tema de sedução e sucesso. Ela conhece algumas dores. Teria sido capaz de ver os estranhos animais que puxam as carruagens de Hogwarts se tivesse nascido menos trouxa. Teria sido capaz de casar-se com um comensal da morte. Seria estudiosa como Hermione ou lunática como Luna? Hoje, ela empenha-se em uma direção ainda obscura. Há a certeza de que sem a simplicidade não há contentamento. Enfeitiçada por si mesma, vivia o encantamento da rotina e das preocupações de um lar feito de arroz, feijão e bife. Nunca sentiu fome, nem sede. O tempo era vivido com aroma de amor. Mas a cidade tornou-se por demais urbana, e a poluição destruiu as fronteiras. Esperanças, ela não carrega porque sempre lhe foi difícil acreditar em fantasmas. Medo, sim. Dizem que ela é tão braba, mas ela é mansa e confiável e, por isso mesmo, lhe dói ser machucada.

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Espelho Retrovisor

O trânsito, com pressa e preguiça, buzina. O sinal verde abre e não ilumina. Ela escuta a voz do filho. A memória, a da mágoa. Ela não é criança. No espelho retrovisor, passam os carros, correm as mentiras. Há anos, ela leva e busca e leva e busca e acredita. A estrada não pode ser perdida. As regras são claras e definidas. Parar antes da faixa de segurança, não passar com o sinal fechado. Ela segue a risca. Não leva multa. Mas chega atrasada. Imobilizada em uma esquina, pensa só em estar em casa. Cuidar da família. O marido percorre outras rotas. Tem, também, no carro, companhia. No entanto, tirou, do banco de trás, até a sombra de uma doce cadeirinha.

terça-feira, 26 de junho de 2007

O pomar de seu sangue

Em uma sexta-feira 13, feito filme de terror,
as mulheres surgem na tela.
Afrodite, Dudinha, Loira Gaúcha.
A bípede derrapa na surpresa e se
quebra em dor.
A vida em meio a ficção.
Ela, adormecida no afeto, não quer acordar.
Tem se apegado à família como uma fruta no pé.
Teme as mãos frias gulosas de outros seres.
Preserva o pomar de seu sangue.
Há milênios, ela acaricia a terra que fecunda.
Guarda as sombras e o pó, arando o sol.
Mas a chuva não chega fina.
O trovão derruba o tronco, o galho e a folha.
A raiz, sem brincar, se esconde.
Cala a voz e espera
Falta sopro, falta sede.
para perder o próprio nome.

Feito fantasmas

Em um mundo de bípedes, uma mulher que ainda outro dia era uma menina, abraça duas crianças debaixo da chuva fria. Da janela embaçada do meu carro, vejo os três corpos amontoados e os olhos já cansados d`água. O trânsito anda. Os bípedes vão e vêm feito fantasmas e ninguém faz nada. Eu corro para casa. Visto uma capa e volto a pé com minhas sombrinhas. Ela sorri quase lágrimas. Eu choro as minhas. O que fazer quando há árvores mas falta vida?

domingo, 24 de junho de 2007

Mundo animal

Quase duas horas da tarde e a bípede já se sente cansada. Ontem, acordou cedo, gerenciou três meninos e foi dormir tarde. Sonhava quando um " meu boneco duro é assim, dá um pegada, dá um bejim princesa, meu boneco dura é assim mais uma vez. ", quebrou o travesseiro. Morre poesia! O sono, hoje, pega. O filho brinca, pedindo atenção. O sexo banalizado em palavras não o acordou. Talvez, o encontre em uma esquina. O mundo mix é medíocre. Hormônios justificam qualquer frase. Atitudes. Degradações. Romance, sincronia e afinidades para quê? Não vale a pena interessar-se por semelhantes, palavra cafona. "Nada a ver". Cachorros e gatos, machos e fêmeas, tanto faz, divertem-se mais.

sábado, 16 de junho de 2007

Era uma vez

Primeiro as Americanas. Chocolates e balas para comer no cinema. Depois a sala escura e o encantamento. Um trailler, dois, três e uma leve sonolência. O murmúrio infantil embalando. Embalando. Embalando. A bípede fechando os olhos. O turno da tarde oferece cochilos. O barulho dos dias pede que ela se mantenha alerta. As histórias do passado, agora, invertem os papéis. Melhor um ogro a um príncipe com ou sem princípios. Um ogro do bem, do mal. O que é um ogro? Nas florestas, vivem os monstros; tão, tão distante há civilização. Súditos de filmes e fantasias sobem e descem pelos corredores. Crianças conduzindo crianças de olho em outras pipocam doces e salgadas . A bípede busca um assento para a menina pequena que não enxerga a tela e não deixa o pai levantar. Um pai feito os outros, com aliança e sorriso. Feito o de seu filho. O marido de outra mulher. E a bípede calada, pensando, pensando, tentando adivinhar quem sabe e não sabe ser feliz.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

silêncios

Safira oriental em olhos de perdiz,
desejo na ponta dos dedos.
Um custo alto em uma sociedade
financiada a dor.
Uma criatura escoando memórias
a garimpar luzes em meio a chuva
de uma semana.
O corpo unido ao cérebro de
um amor acuado
e cozido em prato.
O afeto represado em
folhas coloridas
no silêncio
do silêncio
de planos
mutilados
apartados
e sem fim.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Pernas para que te quero

A bípede não tem As Pernas de Úrsula, mas tem um par que sempre a levou de lá para cá sem problemas. Ou quase. Esse ano, elas bem que lhe tiraram do chão. Foram dias e noites sem movimento. Fraturas, doenças. Mas hoje o médico da bípede falou: minha gata, a sua recuperação é extraordinária. E a criatura, de tão emocionada, quase caiu da mesa de exame. As pernas estão da mesma cor e do mesmo tamanho. A bípede está de pé e tanto faz se descalça ou de salto. De novo, no equilíbrio. Na próxima semana, ela faz um registro do que segue escondido. Se cada coágulo estiver no seu galho, começa a caminhar, a fazer ginástica e musculação. O veneno mata rato vai junto, mas já que é assim, ela o toma e nem torce mais o nariz.

sexta-feira, 8 de junho de 2007

De rua e cotidiano

Leitores em busca do tempo perdido. Palavras à procura de voz. O passado tentando anular o futuro. Dedos registrando os estragos. Bilhetes postados em blogs, artesãos de outras peles. Uma época difusa, feita de olhares impossíveis. Corações feridos em melodramas mexicanos de rua e cotidiano. Um século de poucas e muitas novidades. Homens pré-históricos, quase nus. Ternos e gravatas adornando escritórios e máquinas em juras de mentiras sem fim. Mulheres, que não mentem, desesperadamente aprendem a desejar ramalhetes sem lágrimas ou perfume. Bípedes de quatro, afogados em folhas e lajotas. Golpeados em lances de sorte ou sortilégio. Um monte de seres caminhando entre árvores descontentes.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

About men and mice

A bípede está envenenada. Foi contaminada por um veneno anti-monotonia destilado por um mamífero. Um tipo banal, também bípede, e desconhecido na comunidade de animaizinhos de laboratório. O seu sangue coagulado precisa, então, ser refeito. Suas veias têm de trabalhar em paz. Ela toma medicação, usa meias, faz exames. Os resultados e as doses são surpresas. O produto mata rato pode ser tanto remédio como veneno. Dependendo da quantidade, elimina uma ninhada de camundongos. A bípede não morre porque não é uma ratazana, diz o médico que a chama de minha gata. A bípede não ronrona, quase chora e ainda acredita.

sexta-feira, 1 de junho de 2007

Semi-vazia

Além do frio, há também chuva. A empregada não veio porque precisou arrancar um dente. E a bípede, após uma noite feita de pensamentos estranhos, acordou sentindo a garganta machucada. Como a casa estava um pouco bagunçada, ela tratou de lavar a louça e limpar o xixi do cachorro que ontem não saiu. Às 19 horas o céu já havia escurecido, e o pai e a medusa a esperavam para dar uma volta. A bípede deu uma centena. Não conseguia vencer as ruas fechadas pelas obras e chegar no dito endereço. Como é que se diz, esqueci de te falar que você deveria pegar a rua América, falou a mulher. O pai parecia tão envelhecido e triste. Alquebrado por um câncer e por um tombo. A bípede dirigiu em direção à Cultura. Livros e filmes para erguer o moral. O pai escolheu filmes. Ela um livro. Medusa lágrimas porque pai e filha gastavam o que ela mais aprecia. Tomaram, então, sopas, comeram bolos. A bípede correu de volta para a casa semi-vazia. O filho estava ainda acordado. Mãe, onde está o meu pai? Trabalhando. Será?, perguntou o menino, não confiando mais no sono.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Gota d'água

Já lhe dei meu corpo, minha alegria
Já estanquei meu sangue quando fervia
Olha a voz que me resta
Olha a veia que salta
Pro desfecho da festa
Por favor

Deixe em paz meu coração
Que ele é um pote até aqui de mágoa
E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água.

Chico Buarque (1975)

terça-feira, 29 de maio de 2007

Longe de um hotel cinco estrelas

A bípede colocou as pernas para que te quero de fora, esqueceu o desastre de manca e está se transformando em uma tigrinha. Primeiro, ela comprou um cinto, depois um sapatinho e uma fita de cabelo e daí para frente não conseguiu mais parar de virar bicho. No seu guarda-roupa clássico e básico, há uma invasão selvagem. Fora de controle, ela ainda usa uma meia elástica quarta-idade de doer, toma o santo remédio da recuperação e fala na analista sobre o episódio onde esteve enjaulada. O mundo animal impõe regras desconhecidas. Carnívoros rondam possíveis vítimas. A bípede quase virou carniça. Urubus voaram sobre seu território, atacaram os machos do bando e por pouco não destruíram a sua toca. A noite escureceu tanto que o vento apagou os caminhos de fuga e alterou o seu faro. Haja safári longe de um hotel cinco estrelas. A bípede pensou a África não é aqui. Hienas disseram é sim. E a bípede ouviu os seus risos. Ah, não. A bípede pode não ser um Bambam, mas sabe muito bem como ser Pedrita.

.

domingo, 27 de maio de 2007

Outros bens

Duas horas depois ela acorda exausta. O puff já não é mais o mesmo. As bolinhas de isopor perderam-se com os dias, e ele agora está murcho. É hora de comprar um novo, mas outras prioridades adiam a idéia. Há anos, ela senta para contar histórias para o filho. Ele não sabe dormir sozinho. Ela não soube ensiná-lo. Queria tanto ler e estar perto que o viciou em leitura. Depois dos livrinhos, sim, ele dá um abraço e dorme. Antes não. Às vezes, conversa um pouco, e ela espera e espera até o momento de acordar exausta. Ela, então, pensa no marido, mas ele está no andar de cima. O apartamento é grande. Ele nunca está no quarto. A cama está sempre vazia. Ela sente vontade de gritar venha para cá. Mas, se gritar, desperta a criança, e o corpo se sente pesado para subir as escadas. O sono interrompido machuca os músculos. Ela deita no escuro. O marido não vem. Os olhos fecham. Ela não sonha: no computador, há outras mulheres a quem ele chama de bem.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Poema sem título e sem compaixão por uma amiga em dificuldades

A bípede tem bons amigos. A bípede gosta de escrever. A bípede gosta mais ainda de ler. E um de seus amigos, Paulo bípede falante e escritor, lhe enviou um precioso poema. Obrigada, Paulo.
Beijo da bípede!

Foi coberta por uma
Invisível poeira ao longo do tempo,
Partículas de angústias,
fragmentos de injustiças,
coágulos indissolúveis de
uma solidão sem fim.
E floresceu na menina,
Como quem floresce de
Fora para dentro, a absurda
Flor das entranhas.
Não uma flor orgânica,
inválida e retorcida.
Nasceu ali uma flor,
assim Lelena.
Por razões imprecisas,
Não pode ser tocada,
Não pode ser colhida,
Límpida flor que arde
Sozinha.
É dela que surge o soluço fora
De hora, o choro ácido,
O poema corrosivo.
Ninguém vai vestir a sua pele,
A página onde escreve
versos brutais.
Escreve na carne
o poema áspero de
uma queixa profunda,
de uma dor.
Assim Lelena.
Não de modo adequado,
quando cospe na
mão suspeita e caridosa,
e brinca com
a lógica dos malucos.
Se a poesia sangra,
é porque tem
Horror da palavra gasta,
um nojo Antigo.
de não dizer o indizível.
Da flor brota
a sensualidade esquisita
de não ser amor pungente.
Brota a tortura,
uma chuva de cinzas,
ou de comoventes pétalas
de paixão.
Um desejo febril de
vida jorra e conspira
contra a mecânica ancestral da
perversidade.
De uma flor exaurida,
assim Lelena, já vai
surgir uma nova, como
as cobras que se
livram da casca.
Uma assim Lelena,
Que respira e avança,
Determinada.

Porto Alegre 23 de maio de 2007.
Paulo Tiaraju

terça-feira, 22 de maio de 2007

Meu pequeno bípede e as gurias

Meu pequeno bípede tem um metro e vinte e alguma coisa. Não tem dinheiro, nem quer. Tem sorrisos, balas e abraços. Ele abraça uma, duas, três, quatro vezes. De madrugada, ela acorda e grita mãe, eu tou tendo um pesadelo. E lá vou eu sem chinelos e sem freio. O meu pequeno bípede fez sete anos e aprende na escola fórmulas matemáticas. Me dá respostas feito um filósofo, segura a minha mão apertado e diz baixinho no meu ouvido que tem um segredo. Eu fico torcendo que ele me conte. Mas o segredo é surpresa. E ele revela que a Nati escreveu que o ama. Eu me derreto. O que é isso mulher?, ele pergunta. Eu dou gargalhadas. E ele, aborrecido, fala que ela escreve que ama para todo mundo. Eu digo que, então, ela ainda não ama ninguém, e ele respira aliviado. O meu querido pequeno bípede gosta da Nati, mas ama mesmo é a Fefe.

Pro dia nascer feliz

Começa o dia com uma picada no braço. O furo dói, a pele escurece. Ela volta para casa, ajuda o filho com os temas da escola, lê e almoça. O pai do menino chega atrasado, cheio de fome e boa vontade. Ela observa as palavras enquanto pensa: quero ver. E se sente diferente. A meia elástica protege a perna, mas aperta. As botas novas não. São as lembranças que machucam. Ela vai até a analista. Fala dele, fala de si, fala do que não entende. Se sente estranha. A situação é estranha. Nenhuma dor lhe é familiar. Nenhuma vem com aviso. O dia nubla. Ela pega o carro. Está na hora da saída. O filho dispara quando a vê no pátio. Ele guardou para ela um sorriso. O coração bate forte, o corpo relaxa e ela redescobre o quanto ainda é feliz.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

A gente não ama o tempo inteiro

A bípede, em sua ignorância falante, não sabia que existem por aí corações tecnológicos. O dela, pré-histórico, é só um músculo pulsante, capaz de bombear sangue e guardar afetos. Longe dos tempos modernos, ela não sabia que os modelos com caixa de on e off circulavam pelas mesmas calçadas que ela antes andava. Então, resolveu consultar o manual de instruções do competente órgão. Talvez, fosse o caso de marcar um transplante com algum cirurgião de uma ilha da fantasia. O manual revelou-se bem simples. Energize o seu coração com um carregador de celular ou um cabo USB. Depois, ligue o on quando desejar amar. E passe para o off quando estiver farto do monótono sentimento. Como garantia do produto, constava a falta total de culpa ou remorso e a autorização para brincar com quem fosse old fashion, romântico ou qualquer uma dessas imbecilidades um dia inventada por outros homens. A bípede ficou um pouca surpresa. Não sabia que além de manca, era também obsoleta.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

O direito de comprar sapatos

Dentro da sapateira, há uma razoável quantidade de sapatos. E a bípede teve autorização do vascular para voltar a caminhar. Devagar e sempre. A bípede ficou contentíssima. Não agüentava mais ficar deitada e se arrastar em chinelos e rasteirinhas. Como está frio, ela foi direto se divertir com os de inverno. Botas de salto, botas de cano comprido, curto e sem salto algum. A preta eterna e folgada estava lá. Vem você, amigona, pensou a ex-quase-paralítica. Mas, já que a fase não é das melhores, a bota entrou na onda e arrebentou o zíper. A bípede, outra vez, ficou descalça. Não se dando por vencida, apostou em uma mais novinha porque queria ir dar um jeito nos cabelos, e a novinha não teve a lealdade necessária e lhe apertou o pé direito quebrado e a perna esquerda doente. Vai se benzer, bípede. Não! A criatura arrebentou os rosários. Saiu do salão decidida. Deu uma volta pelas redondezas atrás de uma um número maior. Passar a perna na perna e no pé não seria má idéia. Não seria se a bípede tivesse encontrado um par 37 sem salto e com bico largo. Era para ter as centenas, mas, engraçado, nenhuma loja tinha.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Reconstrução

Silêncio nas palavras que ardem. Portas sem chaves. O sangue grosso ou fino, protrombina desconhecida de um exame que não chega. A dúvida da meia apertada, do esparadrapo reduzido e da vontade de andar. As histórias caladas, sonolentas de exaustão e suspeitas. O peito manso diante da dor. A vontade feroz perante as horas. A morte dos simulacros. Retirada do ar a propaganda de margarina. O real é um caos. Não existe nada fora da realidade da vida. Nietzsche não é louco de acreditar em utopias, e o humanismo é por demais cristão. A bípede arrebentou os rosários, e a filosofia veio costurar-lhe os coágulos sem ferir-lhe as mãos.

Minha querida Mariana

Está fazendo frio lá fora, e a bípede não sabia. De tão aquecida em seus cobertores, esqueceu que o inverno tem de dar as caras assim como o lado A da vida. Chega de lado B, de fatos B, de gente B. B só se for de Bacana. B de Bom e Bonito e do Bem. Bem, como a minha querida Mariana, a guerreira mais sólida e doce que há. O que não é fácil porque lutar gera amargura e angústia, e a minha querida Mariana sempre consegue vencer os seus desafios sem perder o sorriso e a ternura e o passo. Porque a minha querida Mariana transformou-se em uma moça graciosa de cintura fina. Muito mais que a dança dos sete véus. Como diria Guy de Maupassant, Mariana não caminha, flutua. E, quando a gente a vê assim, não precisa nem ter pernas para se sentir feliz. Basta ter olhos, Boa vontade e um Bom coração.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Recordações da casa dos vivos

A bípede nasceu e cresceu em um campo aberto. Dias feitos de pasto e linhas de silêncio e horizonte. Assim não dá, ela pensou, e decidida a ter contornos, cercou-se de livros. Os livros do pai. Entre eles não viviam os russos. E a bípede não sabe explicar o porquê, mas ela ama os russos e seus chás servidos em samovar. Então, ela lia e lia e lia e sempre faltava um ser que a gelasse de tão aquecida. Até que um dia Dostoievski chegou. E ela, que tanto ansiava, não pensou duas vezes antes de entregar-se a ele. E leu e leu e leu tudo o que encontrou. Todas as edições traduzidas do russo para o português e quanto mais desvendou a Rússia, mais desvendou a si. Mas nunca desvendou a mais ninguém. E, por isso, a bípede, sem querer querendo, deixou-se perder no labirinto de Raskólnikov e daí para frente ofuscaram-se diante de seus olhos tanto os crimes quanto os castigos. E a bípede foi vivendo em um perdão cego. E o perdão cego convencido de sua absolvição passou a maltratá-la. Quando ela deu por si já estava correndo ao lado dos ofendidos e humilhados, sendo destruída feito uma velha agiota. A bípede quase sentiu-se uma gente pobre, quase acreditou na teoria de que talvez fosse apenas mais um piolho da manada humana. Esteve por pouco. Quebrou-se de cansaço e, agora, está em casa, sobrevivendo em um repouso sem fim...

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Mas existe o homem?

A bípede que mancava, agora, já não anda. E, como não anda, mal consegue pensar. Então, pediu ajuda a Drummond. E ele, com a generosidade de suas palavras, lhe ofereceu o seguinte trecho:

" Como vive o homem,
se é certo que vive?
Que oculta na fronte?

E por que não conta
seu todo segredo
mesmo em tom esconso?

Por que mente o homem?
mente mente mente
desesperadamente?

Por que não se cala,
se a mentira fala
em tudo que sente?

Por que chora o homem?
Que choro compensa
o mal de ser homem?

Mas que dor é homem?
Homem como pode
descobrir que dói?

Há alma no homem?
E quem pôs na alma
algo que destrói?

Como sabe o homem
o que é a sua alma
e o que é a alma anônima?

Para que serve o homem?
Para estrumar flores,
para tecer contos?

Para servir o homem?
Para criar Deus?
Sabe Deus do homem?

E sabe o demônio?
Como quer o homem
ser destino, fonte?

Que milagre é o homem?
Que sonho, que sombra?
Mas existe o homem?"

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Uma dor

No meio do caminho tinha uma dor
uma dor sem fala, verso e
solitária.
Havia uma promessa
e a anti-festa.
Dançavam os soluços
em busca de novas células.
No meio do caminho tinha uma dor
absoluta
e de tão grande e séria
ela ardeu
ali, quieta, viva e
alerta.

Tão cibernético quanto patético

A bípede, aquela criatura que havia tido um problema no pé, agora ganhou um na perna e esse exílio forçado a levou a se aproximar do mundo tão cibernético quanto patético. Como nesse mundo não há muito a fazer, ela decidiu escrever sobre a invasão dos robôs. E, como eles eram muitos, teve de pensar em um exemplar, aquele que materializasse toda a engenhoca e o egoísmo de ser uma máquina. Do gênero que faz o que faz ou porque esse é o software que colocaram para rodar em seu sistema ou porque está com defeito. Sim, os robôs são seres com enorme potencial para falhas. Primeiro, porque sendo máquinas não sentem e não sentindo ficam sem autocrítica e ficando sem autocrítica perdem também a capacidade de se relacionar. Segundo, porque sendo máquinas acreditam poder se reprogramar a qualquer instante. O que eles não sabem é que o destino de todo robô é ser superado por um modelo novinho em folha a preços tentadores divididos em 12 parcelas sem juros. Ou seja, é fácil ter um robô, tão fácil quanto cansativo. Difícil é ter uma pessoa. Um robô, mesmo que seja de alto design e apresente múltiplas funções, sempre será substituído e depois relegado a uma gaveta ou ao lixão. Não há saída. A fada azul do Pinóquio não vem com sua varinha de condão e diz: ei, acorda que você agora virou gente. O que vem é a mídia ou um vendedor com um lindo sorriso mostrar uma nova tentação tecnológica à prova de peças usadas. Não há reciclagem ainda que o planeta se empenhe em livrar-se de tralhas inconvenientes. Ninguém quer um casco, nem os museus. Robôs não se enquadram na categoria de objetos admiráveis. Se enquadram na de descartáveis...

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Eu não sou a noiva do Chucky

Eu não sou uma boneca desmemoriada.
Eu não sou virtual.
Eu não sou fantoche de Deus,
seja ele cego ou capenga.
Meu filme favorito não é o show de Truman.
E eu odeio o Brilho eterno de uma mente sem lembranças.
O meu corpo quebra e
incha e
sangra e dói.
Os meus dias são irredimíveis
feito as mentiras que me contam.
Mas o meu cérebro é real
de massa cinzenta e branca e neurônios,
e ele trabalha
seja contra ou favor
porque sem ele
eu não sou eu.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Se cada um tem o seu tsunami, é bem provável que cada um tenha também o seu George Bush. Os americanos têm a ele, o tirano piadista, egocêntrico e exterminador. Como dizem os jornais, ele tem a sua ginga. Gosta de dar um show, mesmo que os seus passos sejam desengonçados e inapropriados a situação. A cada ano, a malária mata cerca de um milhão de pessoas, principalmente, na África. Seu ataque se distribui de um modo democrático, parecido com o da instalação da Internet nos lares do planeta. George Bush deveria levar a malária a sério e não chacoalhar o corpo em um evento a favor de sua erradicação. A Internet, por tabela, também, deveria ser levada com responsabilidade. Alguns vírus matam o corpo; outros a alma. É claro que há os que resistem a sua violência. Resistência é uma qualidade inexplicável. Tem quem fique de pé e pronto. O congresso americano é um exemplo. Diz a Folha de São Paulo, que ele foi para cima da criatura. A câmara dos deputados e o Senado aprovaram uma medida que vincula a liberação de verba para a guerra do Iraque à retirada gradual das tropas americanas. Ela pareceu não entender o recado. Há uma névoa, quem sabe cegueira, em torno de sua personalidade que a leva a cochilos. A criatura pode recorrer ao seu poder de veto? Pode. Uma decisão trágica, mas legítima. Melhor seria ela acordar logo desse estado de olhos bem fechados. Sabe como é, os tsunamis ainda ocorrem por aí.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Na curva da vida

Chico Buarque esteve na cidade da bípede há mais ou menos um mês. A bípede tinha um ingresso, mas como estava manca, disse não vou. E não foi e, também, não se arrependeu. A primeira vez que ela o escutou, ele cantava algo mais ou menos assim: roda mundo, roda-gigante, rodamoinho, roda pião, o tempo rodou num instante nas voltas do meu coração. Na época, a bípede não entendeu nada, mas como ele ordenava roda, roda, roda; ela girou, girou, girou até ficar tonta. E a bípede detesta ficar tonta. Ela é até meio hipocondríaca, mas tontura não. Gosta e precisa ter os pés no chão. O Chico, aí, começou a cantar mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas, sofrem por seus maridos, bravos guerreiros de Atenas, quando eles se entopem de vinho, costumam buscar o carinho de outras falenas, mas no fim da noite, aos pedaços, quase sempre voltam pros braços de suas pequenas, Helenas. Outra vez, a criatura ficou contente. Mal sabia o que era Grécia, mas se ele falava Helenas, só podia ser coisa boa. E então ela decorou a letra, o que é uma façanha, porque tem preguiça de decorar aquilo que também pode ler. E a bípede tem o livro Chico Buarque Letra e Música. E, de vez em quando, ao invés de por um disco para tocar, ela o abre. Há muito tempo, ela não o abria, mas veio um batuque, uma valsinha e uma vontade. O jeito foi buscá-lo na estante. E de música em música foi ficando zangada. Só não arrancou algumas páginas porque, ainda que tenha de ler te perdôo por te trair, também pode cantar o moto-contínuo de um homem que pode ir ao fundo do fundo do fundo se for por você.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Bipedices

Descalça,
a bípede folheia livros,
potes de pátria
e enganos.
Há o enterrado vivo,
locais onde não há mais casas
e também
uma dedicatória
de irmão.
Os outros não existem
ou não podem
saber quem são.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Bicarbonato virtual

Não existem mais
amigos.
A amizade
entrou em extinção
feito um urso
polar
e alemão.
O efeito estufa derreteu
os afetos
e a Internet caiu em um
buraco
sem teto.
A gente já nem tem
mais língua
ninguém mais sabe
o que é ser feliz.
O vírus da mentira
tornou-se mais
perigoso que o da
dengue.
Quem não tem um
cão
está perdido
porque a cama de teclado
vale mais que a de
colchão.

Rumor do Tráfego

Nesses dias de caniço
a bípede feito chuva
escoa em silêncio e estranha a si.
Há nela uma solidão
sem vista para o mar.
Duas vezes,
ela se encerra antes do fim.
A bípede anda de táxi,
gargalha
e não ri.
Vendo passar os carros
recorda as horas
e, diante das cinzas,
canta entre por essa porta agora
e diga que me adora.
A bípede rega o volume
e espreita
a violência sem se decidir.
Ela não sabe mais
como pensar
em si.

sábado, 21 de abril de 2007

O tsunami de cada um

Aos dois anos de idade, por descuido dos pais, a bípede caiu em uma piscina e engoliu uma quantidade de água que quase a emudeceu. De lá para cá, ela passou a tomar todos os cuidados para não se afogar. Sempre de guarda-chuvas ou bóinhas desviou-se das correnteza dos anos. Mas o verão de 2007 chegou e com ele a convivência com o pai e sua medusa. A bípede balançou, balançou, mas não se deixou derrubar. Deixou-se foi voltar para casa. Longe das marés andaria em terreno mais firme. Que nada! O pediatra do filho da bípede disse a ela que o menino estava muito magro e que dentro daquele peito macio e bondoso havia um sopro no coração. Ela então inundou alguns travesseiros e ofereceu a Iemanjá a própria vida. Deal! A poderosa senhora disse sim, mas, achando que pedir-lhe o corpo era muito, pediu-lhe apenas um pé. E a meia-noite, no escuro do corredor, o seu dedo mindinho caiu. Bem-vinda vida de quadrúpede! A bípede sacudiu a dor e, não tendo escolha, entregou-se ao estado de manca. Quatro semanas de pena e as pegadas voltariam ao lar. Voltariam se o pai do filho da bípede não tivesse lhe puxado o tapete e a fizesse chorar. A bípede chorou enquanto ele ria e chora e chora tanto que virou um caniço pensante de tão magrinha que já está.

As ligações perigosas

Maria Antonieta gostava de ler e escrever. Não sei se usando um tênis All Star, mas gostava. Cartas, é claro. O mais usado meio de comunicação de sua época e, também, o mais comprometedor. Dizem que As Ligações Perigosas foi o seu livro de cabeceira, se é que isso era possível. O fato é que ela, assim como os internautas, não desgrudava da hipnose da boa ou má palavra. Maria Antonieta viveu no século XVIII. Nós badalamos pelo XXI. Era para a gente ter lido algumas páginas a mais, uma que fosse. Não lemos! Faltou estímulo, vontade, valores. Feito cabeças guilhotinadas, os jogamos um a um na lixeira de um micro. Dos ratos e da varíola, passamos para a febre dos mouses e para o feitiço dos teclados. Daí foi um passo para tirarmos os pés do chão. Maria Antonieta não tinha um príncipe encantado. Tinha um rei. E ainda assim ela não conseguia ser feliz. Preferia dedicar-se a um súdito, ou vários, sem nickname mas com a mesma fantasia.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

O amor nos tempos de bípede - Parte 1

Há muito muito tempo atrás, quando eu ainda vivia em um reino quase muito distante, uma das minhas avós me disse que já que éramos mulheres não nos restava escolha se não suportar as infidelidades dos nossos maridos. Sabe, meu ourinho, é que eles têm uma sensualidade transbordante, impossível de se combater, ela falou com sua vozinha fina. Bem, na época, eu pouco sabia sobre sensualidade, fosse dos tão falados maridos, fosse mesmo da minha. Mas os anos passaram um pouquinho e, quando percebi, ainda que não estivesse casada, estava brincando de casinha com um namorado promissor em traições. Brincadeira vai, brincadeira vem e um belo dia, assim como a princesa que acerta o pé no sapatinho, acertei no alvo e descobri que havia em mim também o tal balde cheio de desejos, e isso mudou tudo. Se tínhamos de seguir juntos, tinha de ser em medidas iguais. Ele, é claro, não concordou. Mesmo porque eu, sendo ainda inexperiente e imatura, peguei a carruagem errada e, em vez de me impor com as palavras, fantasiada de Glorinha, fui é trocar beijocas com outro no quintal. Levei um fora,mas dei graças a Deus.
Há muito muito tempo atrás, quando eu ainda vivia em um reino quase muito distante, uma das minhas avós me disse que já que éramos mulheres não nos restava escolha se não suportar as infidelidades dos nossos maridos. Sabe, meu ourinho, é que eles têm uma sensualidade transbordante, impossível de se combater, ela falou com sua vozinha fina. Bem, na época, eu pouco sabia sobre sensualidade, fosse dos tão falados maridos, fosse mesmo da minha. Mas os anos passaram um pouquinho e, quando percebi, ainda que não estivesse casada, estava brincando de casinha com um namorado promissor em traições. Brincadeira vai, brincadeira vem e um belo dia, assim como a princesa que acerta o pé no sapatinho, acertei no alvo e descobri que havia em mim também o tal balde cheio de desejos, e isso mudou tudo. Se tínhamos de seguir juntos, tinha de ser em medidas iguais. Ele, é claro, não concordou. Mesmo porque eu, sendo ainda inexperiente e imatura, peguei a carruagem errada e, em vez de me impor com as palavras, fantasiada de Glorinha, fui é trocar beijocas com outro no quintal. Levei um fora e dei graças a Deus.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Irredimível

Para ser um bípede que fala é preciso antes ser um que pense e, para ser um que pense, é preciso sentir. Mesmo que isso leve tempo. Um tempo sem face ou data de nascimento. Irredimível e abstrato, mas sempre muito real.

" O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo tempo é irredimível.
O que poderia ter sido é uma abstração
Que permanece, pérpetua possibilidade,
Num mundo apenas de especulação.
O que poderia ter sido e o que foi
Convergem para um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na memória
Ao longo das galerias que não percorremos
Em direção a porta que jamais abrimos
Para o roseiral. Assim ecoam minhas palavras
Em tua lembrança.
Mas com que fim
Perturbam elas a poeira sobre uma taça de pétalas.
Não sei."


Assim falou T.S. Eliot em Burnt Norton.

Leituras a partir de 1 de janeiro de 2012

1. Bilhete seco - Elisa Nazarian
2. Quando fui morto em Cuba - Roberto Drummond
3. O retrato de Oscar Wilde Fragmentos
4. Estrela miúda breve romance infinito - Fabio Daflon
5. Poemas - Wislawa Szymborska
6. Mar me quer - Mia Couto
7. Estive em Lisboa e lembrei de você - Luiz Ruffato
8. O pai invisível - Kledir Ramil
9. Poemas de Eugénio de Andrade - Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva
10. Os da minha rua - Ondjaki
11. A máquina de fazer espanhóis - Walter Hugo Mãe
12. Vigílias - Al Berto
13. Poemas concebidos sem pecado - Manoel de Barros
14. Face imóvel - Manoel de Barros
15. Poesias - Manoel de Barros
16. Compêndio para uso dos pássaros - Manoel de Barros
17. Gramática expositiva do chão - Manoel de Barros
18. Matéria de Poesia - Manoel de Barros
19. Arranjos para assobio - Manoel de Barros
20. Livro de pré-coisas - Manoel de Barros
21. O guardador de águas - Manoel de Barros
22. Concerto a céu aberto para solos de ave- Manoel de Barros
23. Quinta Avenida, 5 da manhã - S. Wasson
24. A literatura em perigo - Tzvean Todorov
25. O remorso de Baltazar Serapião- Walter Hugo Mãe
26. Lotte & Zweig - Deonísio da Silva
27. Indícios flutuantes (poemas) - Marina Tsvetáieva
28. A duração do dia - Adélia Prado
29. Rua do mundo - Eucanaã Ferraz
30. Destino poesia Antologia - organização Italo Moriconi. Ana Cristina Cesar, Cacaso, Paulo Leminski, Torquato Neto e Waly Salomão
31. Tarde - Paulo Henriques Britto
32. Correnteza e escombros - Olavo Amaral
33. Nelson Rodrigues por ele mesmo
34. A última coisa que eu pretendo fazer na vida é morrer - Ciro Pellicano
35. O encontro marcado - Fernando Sabino
36. O óbvio ululante - Nelson Rodrigues
37. O grande mentecapto- Fernando Sabino
38. O homem despedaçado - Gustavo Melo Czekster
39. Dia de São Nunca à tarde - Roberto Drummond
40. O canto do vento nos ciprestes - Maria do Rosário Pedreira
41. Antes que os espelhos se tornem opacos - Juarez Guedes Cruz
41. Desvãos - Susana Vernieri
42. Um pai de cinema - Antonio Skármeta
43. No inferno é sempre assim - Daniela Langer
44. Crônicas de Roberto Drummond.
45. Correio do tempo - Mario Benedetti
45. Gatos bravos morrem pelo chute - Tiago Ferrari
46. Gesso & Caliça - Alberto Daflon Filho e Fabio Daflon
47. A educação pela pedra - João de Cabral de Melo Neto
48. O fio da palavra - Bartolomeu Campos de Queirós
49. Meu amor - Beatriz Bracher
50. Os vinte e cinco poemas da triste alegria - Carlos Drummond de Andrade
51. A visita cruel do tempo - Jennifer Egan
52. Cemitério de pianos - José Luis Peixoto
53. O amante - Marguerite Duras
54. Bonsai - Alejandro Zambra
55. Diciodiário - Valesca de Assis
56. Não tenho culpa que a vida seja como ela é - Nelson Rodrigues
57. Lero-lero - Cacaso
58. O livro das ignorãças - Manoel de Barros
59. Livro sobre nada - Manoel de Barros
60. Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros
61. Ensaios fotográficos - Manoel de Barros
62. A queda - as memórias de um pai em 424 passos - Diogo Mainardi
63. Junco - Nuno Ramos
64. Os verbos auxiliares do coração - Peter Estérhazy
65. Monstros fora do armário - Flavio Torres
66. Viagem - Cecília Meireles
67. Cora Coralina - Seleção Darcy França Denófrio
68. Instante - Wislawa Szymborska
69. Dobras do tempo - Carmen Silvia Presotto
70. Eles eram muitos cavalos - Luiz Ruffato
71. Romanceiro da inconfidência - Cecília Meireles
72. De mim já nem se lembra - Luiz Ruffato
73. O perseguidor - Júlio Cortázar
74. Paráguas verdes - Luiz Ruffato
75. Todas as palavras poesia reunida - Manuel António Pina
76. Vidas secas - Graciliano Ramos
77. Inferno Provisório Volume II O mundo inimigo - Luiz Ruffato
78. O ano em que Fidel foi excomungado - José de Assis Freitas Filho
79. Boneca russa em casa de silêncios - Daniela Delias
80. As cidades e as musas - Manuel Bandeira
81. Billie Holiday e a biografia de uma canção Strange Fruit - David Margolick
82. Inferno Provisório Volume III Vista parcial da noite - Luiz Ruffato
83. Inferno Provisório Volume V - Domingos sem Deus
84. Inferno Provisório Volume IV - O Livro das impossibilidades - Luiz Ruffato
85. Pedro Páramo - Juan Rulfo
86. Zazie no metrô - Raymond Queneau
87. Fora do lugar - Rodrigo Rosp
88. Salvador abaixo de zero - Herculano Neto
89. Inferno Provisório Volume I - Mamma, son tanto felice - Luiz Ruffato
90. A virgem que não conhecia Picasso - Rodrigo Rosp
91. Claro Enigma - Carlos Drummond de Andrade
92. Tempo dividido - Sophia de Mello Breyer Andersen
93. A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade

Leituras a partir de 1 de janeiro de 2011

1.Desgracida - Dalton Trevisan
2.Diário de um banana - Jeff Kinney
3. Poemas escolhidos, seleção de Vilma Arêas - Sophia de Mello Breyner Andresen
4. Oportunidade para um pequeno desespero - Franz Kafka
5. Venenos de Deus, remédios do Diabo - Mia Couto
6. Ventos do Apocalipse - Paulina Chiziane
7. Para gostar de ler - Contos Africanos
8. Vinte e zinco - Mia Couto
9. O Vendedor de passados - José Eduardo Agualusa
10. O Fazedor - Jorge Luís Borges
11. Terra Sonâmbula - Mia Couto
12. Barroco Tropical - José Eduardo Agualusa
13. Quem de nós - Mario Benedetti
14. O último voo do flamingo - Mia Couto
15. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil - Silvio Castro
16. Na berma de nenhuma estrada e outros contos - Mia Couto
17.O reino deste mundo - Alejo Carpentier
18. Como veias finas na terra - Paula Tavares
19. Baía dos Tigres - Pedro Rosa Mendes
20. O português que nos pariu - Angela Dutra de Menezes
21. Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Marquez
22. Vermelho amargo - Bartolomeu Campos de Queirós
23. Meu tipo de garota - Buddhadeva Bose
24. Tradutor de Chuvas - Mia Couto
25. O livro das perguntas - Pablo Neruda
26. O fio das missangas - Mia Couto
27. Luka e o fogo da vida - Salman Rushdie
28. Pawana - J.M.G. Le Clézio
29. O africano - J.M.G. Le Clézio
30. O pescador de almas - Flamarion Silva
31. Um erro emocional - Cristovão Tezza
32. O amor, as mulheres e a vida - Mario Benedetti
33. A cidade e a infância - José Luandino Vieira
34. História do olho - Georges Bataille
35. Destino de bai- antologia de poesia inédita caboverdiana
36. O tigre de veludo- E. E. Cummings
37. Poesia Soviética - Seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho
38. A cicatriz do ar - Jorge Fallorca
39. Refrão da fome - J.M.G. Le Clézio
40. As avós - Doris Lessing
41. Vozes Anoitecidas - Mia Couto
42. O livro dos guerrilheiros - José Luandino Vieira
43. Trabalhar cansa - Cesare Pavese
44. No teu deserto - Miguel Sousa Tavares
45. Uma canção para Renata Maria - Ediney Santana
46. Sete sonetos e um quarto - Manuel Alegre
47. Trópico de Capricórnio - Henry Miller
48. Sinais do Mar - Ana Maria Machado
49. Carta a D. - Andre Gorz
50. E se o Obama fosse africano? E outras interinvenções - Mia Couto
51. De A a X - John Berger
52. Diz-me a verdade acerca do amor - W.H. Auden
53. Poemas malditos, gozosos e devotos - Hilda Hilst
54. Outro tempo - W.H. Auden
55. nem sempre a lápis - Jorge Fallorca
56. Elvis&Madona - Luiz Biajoni
57. Budapeste - Chico Buarque
58. José - Rubem Fonseca
59. Axilas e outras histórias indecorosas - Rubem Fonseca
60. Instruções para salvar o mundo - Rosa Montero
61. A chuva de Maria - Martha Galrão
62. Rimas da vida e da morte - Amós Oz
63. Aqui nos encontramos - John Berger
64. Pensatempos textos de opinião - Mia Couto
65. Os verbos auxiliares do coração - Péter Esterházy
66. Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke
67. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristovão Rilke - Rainer Maria Rilke
68. Adultérios - Woody Allen
69. Quem me dera ser onda - Manuel Rui
70. Satolep - Vítor Ramil
71. Homem Comum - Philip Roth
72. O animal agonizante - Philip Roth
73. Paisagem com dromedário - Carola Saavedra
74. Não te deixarei morrer, David Crockett - Miguel Sousa Tavares
75. Orelhas de Aluguel - Deonísio da Silva
76. Travessia de verão - Truman Capote
77. Avante, soldados: para trás - Deonísio da Silva
78. Antes das primeiras estórias - João Guimarães Rosa
79. O outro pé da sereia - Mia Couto
80. O cemitério de Praga - Umberto Eco
81. A mulher silenciosa - Deonísio da Siva
82. Livrai-me das tentações - Deonísio da Silva
83. A mesa dos inocentes - Deonísio da Silva
84. Hilda Furacão - Roberto Drummond
85. A estética do frio - Vitor Ramil
86. Poetas de França - Guilherme de Almeida
87. Tarde com anões 7 minicontistas - Carlos Barbosa, Elieser césar, Igor Rossoni, Lidiane Nunes, Mayrant Gallo, Rafael Rodrigues e Thiago Lins.
88. Pensageiro Frequente - Mia Couto.
89. A palavra ausente - Marcelo Moutinho
90. Uma mulher -Péter Esterházy
91. Cartas de amor - Fernando Pessoa
92. A última entrevista de José Saramago - José Rodrigues dos Santos
93. A morte de D.J. em Paris - Roberto Drummond
94. Do desejo - Hilda Hilst
95. Cenas indecorosas - Deonísio da Silva

Leituras a partir de 19 de Julho de 2010

1. La Hermandad de la uva - John Fante
2. Nem mesmo os passarinhos tristes - Mayrant Gallo
3. Um mau começo - Lemony Snicket
4. Recordações de andar exausto - Mayrant Gallo
5. Ladrões de cadáveres - Patrícia Melo
6. O mar que a noite esconde - Aramis Ribeiro Costa
7. Há prendisajens com o xão - Ondjaki
8. E se amanhã o medo - Ondjaki
9. O último leitor - Ricardo Piglia
10. Par e ímpar - Tatiana Druck
11. Paris França - Gertrude Stein
12. Quirelas e cintilações - Luiz Coronel
13. AvóDezanove e o segredo do soviético - Ondjaki
14. Luaanda - José Luandino Vieira
15. Poemas para Antonio - Ângela Vilma
16. Estranhamentos - Mônica Menezes
17. A vida é sonho - Calderón
18. A varanda do Frangipani - Mia Couto
19. Um copo de cólera - Raduan Nassar
20. Antes de nascer o mundo - Mia Couto
21.Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
22- Poemas da ciência de voar e da engenharia de ser - Eduardo White
23. Manual para amantes desesperados - Paula Tavares
24. Materiais para confecção de um espanador de tristezas - Ondjaki
25. Milagrário Pessoal - José Eduardo Agualusa
26. Felicidade e outros contos - Katherine Mansfield
27. Estórias abensonhadas - Mia Couto
28. Fábulas delicadas - Eliana Mara Chiossi
29. O Ulisses no Supermercado - José de Assis Freitas Filho
30. Cartas Exemplares - Gustave Flaubert
31. A Moça do pai - Vera Cardoni
32. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra - Mia Couto
33. Dentro de mim faz sul seguido de Acto Sanguíneo - Ondjaki
34. Bonequinha de Luxo - Truman Capote
35. 125 Poemas - Joaquim Pessoa.

Mundo bípede


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