domingo, 27 de maio de 2012

No óbvio ululante


"Certas frases têm um destino", escreveu Nelson Rodrigues em uma crônica que está entre as minhas favoritas.
O título é:"Ah, o Vinicius de Morais é um ser numeroso que só anda bem em bando", e eu a li no O Óbvio Ululante.
Livro ainda em leitura. 
Talvez, em eterna.
Está em meu sangue reler e eu sou rodrigueana ainda que minha mãe tenha se empenhado  para me levar para o lado alencariano dos dias.
Explico:
Na minha vida, há dois lados ou duas versões, a de Nelson Rodrigues e a de José de Alencar.
Da de José de Alencar, tenho, por força da genética, o biotipo. Com um pouco de sol e um colar de contas nem preciso colocar um cocar sobre a cabeça  para mostrar  quem sou. Aos quinze anos, muito antes de inventarem a chapinha, eu parecia com  a tal virgem dos lábios de mel, aquela que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que o da Rapunzel no alto da palmeira.
E só.
Ou quase.
Do lado Nelson Rodrigues, tenho também por força da genética, entre outras forças, uma mente memorialista e dada a fluxos de consciência ou inconsciência, se é que no frigir dos ovos não é tudo a mesma coisa, e tenho, é claro, vasto interesse pelos bons costumes e seu vasto elenco de perversos.
O slogan  que me atrai não é sexo, drogas e rock and roll.
O slogan é sexo, hipocrisias e família.
Mas o que realmente tenho do Nelson é o hábito de fazer opções imaginárias. Ele, por exemplo, se perguntava se seria pior apanhar na cara ou dar na cara.
Eu, por exemplo, me pergunto se é pior apanhar na cara ou dar na cara.
Isso mesmo. Faço a mesma pergunta.
Apanhar na cara, plaft, já apanhei.
Dar na cara, puff, não dei.
Então, como era de se esperar, não sei a exata resposta. Tenho uma ideia, no entanto.
Assim como toda nudez será castigada ou, dependendo do dia, colorida, bate bocas sofrem punições e estabelecem medidas.
Se uma frase compromete ao infinito, diversas comprometem a existência, ainda mais se elas estiverem registradas em um delicado álbum de feridas.

78 comentários:

  1. GOSTEI DOS TEUS 2 LADOS DISTINTOS INTERNAMENTE. ACREDITO Q TODOS NÓS,SERES NORMAIS, OS TEMOS E SABEMOS CONVIVER EM HARMONIA, EQUILÍBRIO. NELSON RODRIGUES TRATOU PRINCIPALMENTE SOBRE A HIPOCRISIA, COMO VC CITOU. É BASTANTE PANO PRA MANGA, VÁRIAS MANGAS. BJINHOS

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    1. Eliana, façamos então um casaco para polvo :)
      Eu gosto do NR.
      Me sinto compreendida e me sinto menos sozinha quando o leio.
      Beijoss

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  2. Bípede,

    Ótima crônica! Li duas vezes, porque, na primeira, fui engolindo as palavras que foram chegando fáceis e agradáveis em suas junções... Na segunda, arrematei com um sorriso de satisfação.

    Um abraço,

    Suzana Guimarães - Lily

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    1. Obrigada, Lily :)
      As palavras podem ser engolidas, mas tem de cair redondas para evitar engasgos.
      Beijoss

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  3. Linda Lelena, amei tudo. Quando diz: “Aos quinze anos, muito antes de inventarem a chapinha, eu parecia com a tal virgem dos lábios de mel, aquela que tinha os cabelos mais negros...” lembrei-me de Caetano: “-Você é linda, mais que demais, você é linda sim...” Então além de José de Alencar tem de incluir agora o Caetano. Tão linda tua escrita nesse parágrafo...
    Gostei da colocação “hábito de fazer opções imaginárias...” Coisa boa quando paramos o tempo em estado de hipnose, onde a habilidade de pensar em uma variedade de opções imaginárias aumenta, e poderíamos assim, permanecer calmos em situações nas quais nos sentiríamos aterrorizados. Nelson sabe mesmo nos hipnotizar não é?!
    Se se é pior apanhar na cara ou dar na cara? Fiz a pergunta como sugere. A resposta?
    Em algum momento da vida ou, plaft ou puff!
    E como bem diz, as ‘marcas’ de feridas permanecem em nós quando nus ficamos e nos castiga profundamente. É um álbum que carregamos para o resto de nossas vidas. Um brinde a Alencar e a Nelson. E por que não a Caetano e Lelena também?!
    Com carinho,
    Sílvia

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    1. Sílc, obrigada por um comentário tão generoso :)
      Eu tenho me empenhado para cronicar.
      Eu sou uma pessoa que se empenha.
      Beijoss

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  4. Lelena, esse texto tá demais. Os grandes jornais precisam te descobrir! Se eu fosse o seu Roberto te levava lá para os cronistas do Brazilian Voice (tô aqui pensando nos amigos né rs). Teus textos têm um ritmo incrível. E esse finalzinho "Se uma frase compromete ao infinito, diversas comprometem a existência, ainda mais se ela estiver registrada em um delicado álbum de feridas." faz-se um poema, dos mais bonitos que já li.

    Bjo!!!

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    1. Obrigada, Dani.
      Eu tenho uma quedinha pra poesia, então, acabo trazendo uma imagem que outra.
      Mas também é só isso. A ópera está mais para uma opereta e nada além.
      beijoss :)

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  5. Comecei a segunda-feira com pé direito na leitura...

    como gosto de me descobrir através de outros textos... minha infância foi dominada pela fantasia dos livros infantis... adolescência romanesca...juventude byroniana (rs!)... e na vida adulta, dei-me aos versos livres como quem tece asa para, quem sabe um dia, viver o sonho de Ícaro!

    viajei!!

    Beijinho carinhoso, Lelena!

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    1. Joelma, a gente se vê e se encontra também nas palavras alheias.
      Às vezes, mais que nas nossas. As nossas carregam nossas marcas e nem sempre nos dão a devida distância.
      Beijoss :)

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  6. Fazer opções imaginárias é a minha cara, assim como apanhar. Eu nunca aprendi a oferecer a outra face, mas continuo apanhando. Esse álbum de feridas está cheio de registros insanos, de memórias distorcidas. Estas tuas nuvens delicadas de trovão,

    beijo

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    1. Assis, o meu álbum está um pouco pesado, com folhas explodindo. Como é meu, cuido. Fazer o que com aquilo que conosco foi escrito?
      Beijoss :)

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  7. No delicado album de feridas
    sempre existe uma que doi mais.

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    1. Herculano,
      Existe.
      Existe uma mais nítida, mais importante e mais sofrida.
      Beijoss

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  8. Tava pensando nas últimas postagens. ligando-as.

    Tudo belo. sabe do que mais gosto quando te leio: do formado das palavras que digita. do jeito que tece uma imagem não inteira, quebrada, formando uma impressão.


    um desenho as escolhas dos pontos finais, vígulas.

    um beijo pra você e ótima semana, querida.

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    1. Dani, uma ótima semana pra você também :)
      Eu tenho disciplina de Penélope pra tecer. Pena que não tenho a paciência!
      Beijoss

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  9. E todos temos este, nem sempre tão delicado, álbum de feridas... Bjs.

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    1. M.
      Delicado por frágil.
      E indelicado por natureza, não é?
      Beijoss :)

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  10. A lo que nos enseñaron es a no dar la cara, por eso el lema de sexo , hipocresía y familia es perfecto, como una película de Vinterberg...Un abrazo.

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    1. Não conheço nada tão presente no cotidiano quanto esses três temas. Faltou a morte. Mas a morte não tem me visto porque não tenho feito barulho.
      beijoss :)
      ps. Gostei do novo nome!

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  11. gostei desta tua malha entrançada, é caminhamos sobre uma ténue linha, fronteira entre mundos dispares, um passo para um lado e estamos em paz dois passos para o outro lado e estamos em guerra
    sempre connosco...

    [dar é também tão difícil como levar, acho...]
    beijo

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    1. Laura, não sei o que é mais ou tão difícil.
      Levar, dói.
      Isso eu sei de muitas guerras.
      Beijoss :)

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  12. Profeta,

    Entre os enigmas e estigmas, sobrevivem, aos menos, as palavras.
    Forte poema!

    beijoss

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  13. Lelena,

    E agora, José? Cheguei tarde para as minhas achegas. Se tarde cheguei, mais eu aproveitei :) pois, li os comentários e suas respostas. E o conjunto está tão harmonioso, tão bem tecido que Penélope ficaria com inveja desta tecedeira. A tal ponto, que a tua fala adoça, apesar dos sapos e lagartos, dos plafts, e plufts...
    E a linguagem da cronista cada vez mais sedutora.
    beijoss,
    José Carlos

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    1. Não chegou tarde, não.
      Se a Penélope pode esperar 20 anos pelo Ulisses, não serei eu uma bípede a pensar que alguém está fora do horário ou do tom.
      Fora de tom são os plafts que a gente leva na vida.
      Beijoss :)

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  14. Lelena, essa crônica tá daquelas demais demais :)
    amei esse final! e eu também sou sempre mais rodrigueana, mas das milhares de opções imaginárias que sempre listo, esta eu sei responder na realidade, entre apanhar e bater, para mim foi pior apanhar na cara. Essa história de que um tapa dói mais em quem bate é balela. Já bati, com fúria, e a única coisa que me doeu foi a mão. Mas, eu não sou uma pessoa violenta!!

    Enfim, estou adorando demais as tuas crônicas :)
    beijoooo

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    1. Dea, pois não bati.
      Só bati boca na vida.
      Quem quis me bater, só não bateu porque corri rsrs
      Que fui sempre um Corre, Lelena, corre!!
      beijoss
      ps. Sei que não é. Você é um doce, Dea.

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  15. putz denunciando nossas auto destruições e amanadas - ótimo Lelena!

    beijos

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    1. Luiza, nem sei.
      Denunciando, sim.
      Talvez, ressentida do que já levei e do que não dei e vice e versa em muitos sentidos.
      Beijoss :)

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  16. É óbvio. Óbvio ululante. Mas como toda unanimidade é burra, eu cá me calo.

    bj

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  17. Sônia, O NR tem frases maravilhosas.
    Tem uma em que ele diz que a grande utopia do ser humano é ser ouvido.
    Deve ser por isso que os padres e os psicanalistas se dão bem :)
    Eu, particularmente, fico com os segundos pra me dar bem também dentro do possível dessa minha bipedice.

    Beijoss

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  18. Esse oscilar entre esses dois ícones da literatura é saborosíssimo!
    Quanto a "toda a nudez será castigada" só a interpreto como nos estando negada a verdade para todo o sempre...!

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    1. Vejo exatamente da mesma maneira.
      Negar a nudez é negar a verdade!
      Beijoss :)

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  19. Acho que ser um mosaico da graúna com a vida como ela é já deve te dar mais perguntas que respostas...

    #Enquanto eu, vou pensando como um certo Dito de Guimarães Rosa em seu célebre "Manuelzão e Miguilim"... este, eu relia pela eternidade.

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    1. Eu releio pela eternidade o Lavoura, do Raduan. Leio tanto que acho que já criei raízes por entre as páginas.

      Que imagem interessante ser um mosaico da graúna com a vida como ela é.
      Você tem toda razão. Há muitas perguntas...
      Beijoss :)

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    2. Eita, que coisa feia confessar. Mas não li ainda. Bora resolver este problema né?..huahaah

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    3. Lavoura tem de ler!
      Esse tem.
      Tem!!!
      beijoss :)

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  20. Lelena,


    Vc diz imaginar a resposta à pergunta rodrigueana. [Entonces, já suspeitas, ao menos, a proporção de Iracema que há em vc!]. É uma pergunta rodrigueana, mesmo. Poderíamos radicalizá-la para, depois, diluí-la, mas daí o âmbito seria outro, além-aquém família e hipocrisias. Incluiria o sexo, na sua modalidade passional, estilo Linha Direta, o antigo programa televisivo que, no final das contas, passa em todos os canais de televisão, mesmo estando nominalmente extinto. A pergunta seria: entre matar e morrer [ser morta, morrer matada, como reverso do assassinar: assassinar ou ser assassinada], o que doeria mais? Qual a opção entre matar ou morrer, havendo esta possibilidade de escolha?!


    Dado o novo quadro de referências, talvez a resposta [já imaginada] fique ainda mais nítida, enquanto cena. Talvez ganhe visibilidade.


    Quanto ao álbum de feridas, as da infância [quando e onde estávamos sob a tutela inescapável da decisão de terceiros, em vários âmbitos, muitas vezes decisões deploráveis]são as mais decisivas. Até para futuros acertos, eventualmente, quando "as feridas viram olhos" em vez de nos cegarem.



    Um beijo, Lelena. Tu és uma guria de palavras bípedes e ágeis.

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    1. Marcelo, como está tarde(nem tanto mas acordo cedo), vou deixar para responder os seus comentários nos vários posts amanhã.
      Beijoss e boa noite :)

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  21. Helena/Lelena,


    Okeio. Não há presa nenhuma aqui.


    Aproveite e me diga se vc imagina a razão de minhas postagens aqui no seu blog serem remetidas ao meu e-mail como "mensagens suspeitas de eu não ter enviado". Não sei sublinhar/grifar/colocar em negrito a frase mas não estranhe esta parte [que me estranhou]: "Mensagem suspeita de vc NÃO TER ENVIADO PARA ..."



    Curiosos, não?!


    De qualquer forma, mesmo não entendendo este sistema de segurança só ativado agora e neste blog, creia ni euo que sou euo mismo, caspice?! Nha nha nha...





    Até mais, amiga.

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    1. Não imagino.
      Meu bloguinho é bastante constante.
      Nunca vi ele agindo assim.
      Não será o seu email dado a pequenas oscilações de temperamento?
      Beijos :)

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  22. Helena/Lelena,


    Okeio. Não há presa nenhuma aqui.


    Aproveite e me diga se vc imagina a razão de minhas postagens aqui no seu blog serem remetidas ao meu e-mail como "mensagens suspeitas de eu não ter enviado". Não sei sublinhar/grifar/colocar em negrito a frase mas não estranhe esta parte [que me estranhou]: "Mensagem suspeita de vc NÃO TER ENVIADO PARA ..."



    Curiosos, não?!


    De qualquer forma, mesmo não entendendo este sistema de segurança só ativado agora e neste blog, creia ni euo que sou euo mismo, caspice?! Nha nha nha...





    Até mais, amiga.

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  23. Marcelo, matar pode ser morrer. Depende de quem será o morto.
    Matar um estranho vem antes de se deixar morrer.
    Matar um amor, a quem se ama, é matar a si mesmo.
    Ferir pode ser tantas coisas.
    Ferimentos têm diferentes alcances.
    Ferimentos toleram cicatrizes.
    Eu tolero cicatrizes.
    Tolero também mortes.
    Ainda bem que quando eu morrer, não terei de fazer nenhuma
    escolha!! rsrs
    Beijoss

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    1. SENTIDO DA VIDA

      eu gostaria de poder responder
      a uma pergunta que não tivesse resposta
      possível, pela forma, pelo conteúdo,
      por tudo o que de poesia se pode procurar
      nos versos, dando uma vida própria
      ao sentido da vida

      deste modo comporia o riso
      num sorriso misterioso que ouso
      apenas tentar quando me dou ao poema
      como possibilidade plena, sem pena
      de não encontrar suporte para este voo
      onde me precipito

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    2. Francisco, eu gostaria também ainda mais assim poetizando a indagação e a inquietação.
      Bonito.
      Beijos

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  24. E álbuns de feridas são sim álbuns de olhares sobre a dor.
    São pedaços de olhos à prova de luz.
    Beijo e boa quinta!

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  25. O texto é este: "Por que esta mensagem está no Spam? Parece ser uma resposta retornada falsificada de uma mensagem que você não enviou".

    Fantástico. A minha mensagem é falsa e a tua resposta é falsificada, segundo a detecção da malha fina do Google, que administra os blogs. Improváveis pela forma e conteúdo.

    Impçionanthus.

    Baaaaahhhh...


    O bloguinhus es bhaum, la instituicióne es çériah, lo orientadouro es capaiz, a banca es cu-m-petentah, la tesis es loubábile, maizi lo fiscálus thá exagerânu. Sinhus.

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  26. "Por que esta mensagem está no Spam? Parece ser uma resposta retornada falsificada de uma mensagem que você não enviou".

    Eis o texto literal. Como só ocorre neste blog [comentei dez postagens no Leonardo Barqueiro, algumas no Cirandeira, etc, etc, muitas no Eliana Mara Chiossi -o Blog das Almas deste Mundo], entonces deve ser algo como "incompatibilidade eletrônica". Okeio. Normálus.

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    1. ahahahahaha
      não é pra rir, mas é engraçado :)
      dá um trato no seu micro.
      vai ver ele tá precisando de um psi!!

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  27. até o óbvio esconde linhas que se nos tornam invisíveis, como se os absolutos quebrassem a máscara em cada pedaço de cara que partimos, queremos partir mas que, por receio da escalada de pele sobre a pele, agregamos ao cadernos do que adiamos. vontades... desejos... devaneios mais ou menos secretos, tudo o que nos define na página reescrita dos dias. até porque todas as palavras têm um destino... quando não mesmo o nosso des[a]tino. e esse feitiço que agarra, agita, atiça, atira pelo ar sem lançar rede que amorteça a queda já vem de todos os rodrigues e alencares da literatura universal, sempre entretecendo espaços que nos ajudam a perceber como o espaço (o que dizemos nosso) se estreita, reduz e encolhe sob todo o esplendor verbal. e sentimo-nos contradição do dito e do que não chegámos a dizer... e a ser.

    adorei a crónica, lelena!

    beijo!

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    1. O ato de quebrar assusta sob todos os ângulos, Jorge, mesmo quando se espera a racha e o estrondo.
      Mas o resultado, os cacos, nem sempre se configuram como lixo ou perda.
      Muitas vezes constroem mosaicos com nova força e novos potenciais mesmo que tenham marcas e exibam imperfeições.
      Beijoss

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  28. "Dar na cara" essa também pode ser uma forma de dizer "dar bandeira" , ser reconhecido nos desejos que gostaria de esconder... e apanhar na cara!
    Em se tratando de Nelson e as hipocrisias, o que toadas queriam é não dar na cara.

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  29. Um sótão cheio de lembranças
    Escrevi no pó palavras sem nexo
    Retirei uma cartola de uma caixa de cartão
    E senti ao toque o poder da ilusão

    Ilusões…
    Um cavalo de pau perdido ao carrocel
    Uma estola de um bicho qualquer
    Uma escultura talhada a cisel

    Uma foto a preto e branco
    De uma mulher sem rosto
    Uma janela virada para nenhum lado
    Uma traquitana a imitar o sol-posto

    Bom fim de semana

    Mágico beijo

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    1. Um sótão.
      Um porão.
      Um corpo.
      Uma mente.
      Uma história.
      Beijos e bom final de semana :)

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  30. Helena,
    Pensava eu que já tinha comentado, mas, após busca de alto a baixo, nem vestígio. Mas já tinha lido e relido. E (re)consolei-me.
    As palavras, neste género de escrita, parecem brotar-lhe com naturalidade, qual nascente filtrada em mil e uma vivências e leituras. O talento faz o resto. Os parabéns são mais que merecidos.

    Beijo :)

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    1. AC, acho que esse gênero permite mais diversão. Eu me divirto. Então me sinto mais a vontade. Nem sei.
      Talvez, seja mais fácil.
      Acho que é o que está mais perto do jeito que sou, de como penso, como existo.
      Beijoss :)

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    2. Este é o comentário que diz tudo, sou apenas eu tentando não tentar dizer nada, na certeza de esse ser o modo mais completo da presença se apresentar como coisa: completa, substantiva.
      Meu primeiro beijo, este, aqui, agora*
      Beijo

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    3. Francisco, bem-vindo ao Bípede :)
      beijoss

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  31. Fiquei a me imaginar nas coisas que leio e plaft... nada! Ainda procuro onde me encaixar.Mas vc anda muito bem em tudo que faz e esse texto é a prova disso.Magnífico, Lelena. Nelson Rodrigues tem frases ótimas, que para serem entendidas, leva-se tempo, pois é preciso senti-las na carne.

    Beijinhos, querida e bom domingo.

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    1. Tenho me identificado muito com o universo dele. Meus livros estão todos marcados. Frases, passagens, palavras.
      Beijoss :)

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  32. lelena, texto excepcional! a sua mistura "genética" gerou a escritora que você é, sem dúvida. teu livro eterno a ser lido é o da inspiração, que a ti não falta, em página e edição.


    um beijo!

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    1. Eleonora, minha mistura é uma mistura rsrs
      nem sempre me permite ver minhas cotas de tudo o que sou.
      Obrigada pelo excepcional :)
      É um adjetivo e tanto.
      beijoss

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  33. Beleza, Lelena! A análise que você faz de si mesma deixa a gente com mais vontade de conhecer você ao vivo.
    Assim como Eleonora tem toda razão - nunca vai te faltar inspiração.

    Beijo beijo.

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    1. Dade, às vezes, me dá um banzo e a inspiração desaparece.
      Aí, não encuco (além da conta), e ela volta :)
      Beijoss

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  34. Lelena,

    sua crónica de si me estimula a ler-te mais e mais!


    um beijinho.

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  35. Cheguei tão tarde e li, além da crônica, todos os comentários, que só retou me dizer: parabéns! :-)

    Beijos,

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  36. Taninha, sua presença é que é importante. Não importa a hora.
    Quando fica mais recolhida, sinto sua falta, me preocupo.
    Beijoss :)

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  37. Deleite especial nesta crônica! Amo Nelson (nao posso dizer o mesmo do José, apenas o aprecio!!!). Nelson e minha cabeceira se conversam desde sempre. Leio, releio, amasso, escrevo, transcrevo. Ele me ensinou a questionar se " se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo". Que teu lado rodrigueano siga te colocando perguntas assim, cheias de profundas respostas.
    Bj

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    1. F.
      Eu estou enlouquecida por ele :)
      Adorei seu comentário.
      Obrigada.
      Beijosss

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  38. Amo Nelson Rodrigues. O óbvio e ululante. é uma de suas maiores "sacadas", e tem vídeo no you tube, assim como os idiotas de platéia.

    Lindo seu texto baseado na genialidade do Nelson!

    Agora, mais ainda te admiro.

    Beijos

    Mirze

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    1. Mirze,
      estou em fase de encantamento total por ele.
      leio sem parar.
      nem consigo ler outros autores em paz.
      ele fica me rodrigueando rsrs
      fico contente de te ver aqui também :)
      beijoss

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Leituras a partir de 1 de janeiro de 2012

1. Bilhete seco - Elisa Nazarian
2. Quando fui morto em Cuba - Roberto Drummond
3. O retrato de Oscar Wilde Fragmentos
4. Estrela miúda breve romance infinito - Fabio Daflon
5. Poemas - Wislawa Szymborska
6. Mar me quer - Mia Couto
7. Estive em Lisboa e lembrei de você - Luiz Ruffato
8. O pai invisível - Kledir Ramil
9. Poemas de Eugénio de Andrade - Seleção, estudo e notas de Arnaldo Saraiva
10. Os da minha rua - Ondjaki
11. A máquina de fazer espanhóis - Walter Hugo Mãe
12. Vigílias - Al Berto
13. Poemas concebidos sem pecado - Manoel de Barros
14. Face imóvel - Manoel de Barros
15. Poesias - Manoel de Barros
16. Compêndio para uso dos pássaros - Manoel de Barros
17. Gramática expositiva do chão - Manoel de Barros
18. Matéria de Poesia - Manoel de Barros
19. Arranjos para assobio - Manoel de Barros
20. Livro de pré-coisas - Manoel de Barros
21. O guardador de águas - Manoel de Barros
22. Concerto a céu aberto para solos de ave- Manoel de Barros
23. Quinta Avenida, 5 da manhã - S. Wasson
24. A literatura em perigo - Tzvean Todorov
25. O remorso de Baltazar Serapião- Walter Hugo Mãe
26. Lotte & Zweig - Deonísio da Silva
27. Indícios flutuantes (poemas) - Marina Tsvetáieva
28. A duração do dia - Adélia Prado
29. Rua do mundo - Eucanaã Ferraz
30. Destino poesia Antologia - organização Italo Moriconi. Ana Cristina Cesar, Cacaso, Paulo Leminski, Torquato Neto e Waly Salomão
31. Tarde - Paulo Henriques Britto
32. Correnteza e escombros - Olavo Amaral
33. Nelson Rodrigues por ele mesmo
34. A última coisa que eu pretendo fazer na vida é morrer - Ciro Pellicano
35. O encontro marcado - Fernando Sabino
36. O óbvio ululante - Nelson Rodrigues
37. O grande mentecapto- Fernando Sabino
38. O homem despedaçado - Gustavo Melo Czekster
39. Dia de São Nunca à tarde - Roberto Drummond
40. O canto do vento nos ciprestes - Maria do Rosário Pedreira
41. Antes que os espelhos se tornem opacos - Juarez Guedes Cruz
41. Desvãos - Susana Vernieri
42. Um pai de cinema - Antonio Skármeta
43. No inferno é sempre assim - Daniela Langer
44. Crônicas de Roberto Drummond.
45. Correio do tempo - Mario Benedetti
45. Gatos bravos morrem pelo chute - Tiago Ferrari
46. Gesso & Caliça - Alberto Daflon Filho e Fabio Daflon
47. A educação pela pedra - João de Cabral de Melo Neto
48. O fio da palavra - Bartolomeu Campos de Queirós
49. Meu amor - Beatriz Bracher
50. Os vinte e cinco poemas da triste alegria - Carlos Drummond de Andrade
51. A visita cruel do tempo - Jennifer Egan
52. Cemitério de pianos - José Luis Peixoto
53. O amante - Marguerite Duras
54. Bonsai - Alejandro Zambra
55. Diciodiário - Valesca de Assis
56. Não tenho culpa que a vida seja como ela é - Nelson Rodrigues
57. Lero-lero - Cacaso
58. O livro das ignorãças - Manoel de Barros
59. Livro sobre nada - Manoel de Barros
60. Retrato do artista quando coisa - Manoel de Barros
61. Ensaios fotográficos - Manoel de Barros
62. A queda - as memórias de um pai em 424 passos - Diogo Mainardi
63. Junco - Nuno Ramos
64. Os verbos auxiliares do coração - Peter Estérhazy
65. Monstros fora do armário - Flavio Torres
66. Viagem - Cecília Meireles
67. Cora Coralina - Seleção Darcy França Denófrio
68. Instante - Wislawa Szymborska
69. Dobras do tempo - Carmen Silvia Presotto
70. Eles eram muitos cavalos - Luiz Ruffato
71. Romanceiro da inconfidência - Cecília Meireles
72. De mim já nem se lembra - Luiz Ruffato
73. O perseguidor - Júlio Cortázar
74. Paráguas verdes - Luiz Ruffato
75. Todas as palavras poesia reunida - Manuel António Pina
76. Vidas secas - Graciliano Ramos
77. Inferno Provisório Volume II O mundo inimigo - Luiz Ruffato
78. O ano em que Fidel foi excomungado - José de Assis Freitas Filho
79. Boneca russa em casa de silêncios - Daniela Delias
80. As cidades e as musas - Manuel Bandeira
81. Billie Holiday e a biografia de uma canção Strange Fruit - David Margolick
82. Inferno Provisório Volume III Vista parcial da noite - Luiz Ruffato
83. Inferno Provisório Volume V - Domingos sem Deus
84. Inferno Provisório Volume IV - O Livro das impossibilidades - Luiz Ruffato
85. Pedro Páramo - Juan Rulfo
86. Zazie no metrô - Raymond Queneau
87. Fora do lugar - Rodrigo Rosp
88. Salvador abaixo de zero - Herculano Neto
89. Inferno Provisório Volume I - Mamma, son tanto felice - Luiz Ruffato
90. A virgem que não conhecia Picasso - Rodrigo Rosp
91. Claro Enigma - Carlos Drummond de Andrade
92. Tempo dividido - Sophia de Mello Breyer Andersen
93. A Rosa do Povo - Carlos Drummond de Andrade

Leituras a partir de 1 de janeiro de 2011

1.Desgracida - Dalton Trevisan
2.Diário de um banana - Jeff Kinney
3. Poemas escolhidos, seleção de Vilma Arêas - Sophia de Mello Breyner Andresen
4. Oportunidade para um pequeno desespero - Franz Kafka
5. Venenos de Deus, remédios do Diabo - Mia Couto
6. Ventos do Apocalipse - Paulina Chiziane
7. Para gostar de ler - Contos Africanos
8. Vinte e zinco - Mia Couto
9. O Vendedor de passados - José Eduardo Agualusa
10. O Fazedor - Jorge Luís Borges
11. Terra Sonâmbula - Mia Couto
12. Barroco Tropical - José Eduardo Agualusa
13. Quem de nós - Mario Benedetti
14. O último voo do flamingo - Mia Couto
15. A carta de Pero Vaz de Caminha: o descobrimento do Brasil - Silvio Castro
16. Na berma de nenhuma estrada e outros contos - Mia Couto
17.O reino deste mundo - Alejo Carpentier
18. Como veias finas na terra - Paula Tavares
19. Baía dos Tigres - Pedro Rosa Mendes
20. O português que nos pariu - Angela Dutra de Menezes
21. Cem anos de solidão - Gabriel Garcia Marquez
22. Vermelho amargo - Bartolomeu Campos de Queirós
23. Meu tipo de garota - Buddhadeva Bose
24. Tradutor de Chuvas - Mia Couto
25. O livro das perguntas - Pablo Neruda
26. O fio das missangas - Mia Couto
27. Luka e o fogo da vida - Salman Rushdie
28. Pawana - J.M.G. Le Clézio
29. O africano - J.M.G. Le Clézio
30. O pescador de almas - Flamarion Silva
31. Um erro emocional - Cristovão Tezza
32. O amor, as mulheres e a vida - Mario Benedetti
33. A cidade e a infância - José Luandino Vieira
34. História do olho - Georges Bataille
35. Destino de bai- antologia de poesia inédita caboverdiana
36. O tigre de veludo- E. E. Cummings
37. Poesia Soviética - Seleção, tradução e notas de Lauro Machado Coelho
38. A cicatriz do ar - Jorge Fallorca
39. Refrão da fome - J.M.G. Le Clézio
40. As avós - Doris Lessing
41. Vozes Anoitecidas - Mia Couto
42. O livro dos guerrilheiros - José Luandino Vieira
43. Trabalhar cansa - Cesare Pavese
44. No teu deserto - Miguel Sousa Tavares
45. Uma canção para Renata Maria - Ediney Santana
46. Sete sonetos e um quarto - Manuel Alegre
47. Trópico de Capricórnio - Henry Miller
48. Sinais do Mar - Ana Maria Machado
49. Carta a D. - Andre Gorz
50. E se o Obama fosse africano? E outras interinvenções - Mia Couto
51. De A a X - John Berger
52. Diz-me a verdade acerca do amor - W.H. Auden
53. Poemas malditos, gozosos e devotos - Hilda Hilst
54. Outro tempo - W.H. Auden
55. nem sempre a lápis - Jorge Fallorca
56. Elvis&Madona - Luiz Biajoni
57. Budapeste - Chico Buarque
58. José - Rubem Fonseca
59. Axilas e outras histórias indecorosas - Rubem Fonseca
60. Instruções para salvar o mundo - Rosa Montero
61. A chuva de Maria - Martha Galrão
62. Rimas da vida e da morte - Amós Oz
63. Aqui nos encontramos - John Berger
64. Pensatempos textos de opinião - Mia Couto
65. Os verbos auxiliares do coração - Péter Esterházy
66. Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke
67. A canção de amor e de morte do porta-estandarte Cristovão Rilke - Rainer Maria Rilke
68. Adultérios - Woody Allen
69. Quem me dera ser onda - Manuel Rui
70. Satolep - Vítor Ramil
71. Homem Comum - Philip Roth
72. O animal agonizante - Philip Roth
73. Paisagem com dromedário - Carola Saavedra
74. Não te deixarei morrer, David Crockett - Miguel Sousa Tavares
75. Orelhas de Aluguel - Deonísio da Silva
76. Travessia de verão - Truman Capote
77. Avante, soldados: para trás - Deonísio da Silva
78. Antes das primeiras estórias - João Guimarães Rosa
79. O outro pé da sereia - Mia Couto
80. O cemitério de Praga - Umberto Eco
81. A mulher silenciosa - Deonísio da Siva
82. Livrai-me das tentações - Deonísio da Silva
83. A mesa dos inocentes - Deonísio da Silva
84. Hilda Furacão - Roberto Drummond
85. A estética do frio - Vitor Ramil
86. Poetas de França - Guilherme de Almeida
87. Tarde com anões 7 minicontistas - Carlos Barbosa, Elieser césar, Igor Rossoni, Lidiane Nunes, Mayrant Gallo, Rafael Rodrigues e Thiago Lins.
88. Pensageiro Frequente - Mia Couto.
89. A palavra ausente - Marcelo Moutinho
90. Uma mulher -Péter Esterházy
91. Cartas de amor - Fernando Pessoa
92. A última entrevista de José Saramago - José Rodrigues dos Santos
93. A morte de D.J. em Paris - Roberto Drummond
94. Do desejo - Hilda Hilst
95. Cenas indecorosas - Deonísio da Silva

Leituras a partir de 19 de Julho de 2010

1. La Hermandad de la uva - John Fante
2. Nem mesmo os passarinhos tristes - Mayrant Gallo
3. Um mau começo - Lemony Snicket
4. Recordações de andar exausto - Mayrant Gallo
5. Ladrões de cadáveres - Patrícia Melo
6. O mar que a noite esconde - Aramis Ribeiro Costa
7. Há prendisajens com o xão - Ondjaki
8. E se amanhã o medo - Ondjaki
9. O último leitor - Ricardo Piglia
10. Par e ímpar - Tatiana Druck
11. Paris França - Gertrude Stein
12. Quirelas e cintilações - Luiz Coronel
13. AvóDezanove e o segredo do soviético - Ondjaki
14. Luaanda - José Luandino Vieira
15. Poemas para Antonio - Ângela Vilma
16. Estranhamentos - Mônica Menezes
17. A vida é sonho - Calderón
18. A varanda do Frangipani - Mia Couto
19. Um copo de cólera - Raduan Nassar
20. Antes de nascer o mundo - Mia Couto
21.Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
22- Poemas da ciência de voar e da engenharia de ser - Eduardo White
23. Manual para amantes desesperados - Paula Tavares
24. Materiais para confecção de um espanador de tristezas - Ondjaki
25. Milagrário Pessoal - José Eduardo Agualusa
26. Felicidade e outros contos - Katherine Mansfield
27. Estórias abensonhadas - Mia Couto
28. Fábulas delicadas - Eliana Mara Chiossi
29. O Ulisses no Supermercado - José de Assis Freitas Filho
30. Cartas Exemplares - Gustave Flaubert
31. A Moça do pai - Vera Cardoni
32. Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra - Mia Couto
33. Dentro de mim faz sul seguido de Acto Sanguíneo - Ondjaki
34. Bonequinha de Luxo - Truman Capote
35. 125 Poemas - Joaquim Pessoa.

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