No domingo de mães, fui à missa.
Eu não sou de ir. Não fiz a primeira comunhão.
Fui batizada por falta de livre e espontânea vontade. Se dependesse do meu sim, a resposta teria sido não.
Entretanto, submeti o meu pequeno bípede à pia batismal nessa mesma igreja em que fui a missa. Queria que a Ana Paula e o Marcelo se responsabilizassem por ele.
Vai que morro antes da hora.
Teria sido mais animado, é verdade, se eu tivesse ido à festa na casa do Bolinha e toda assanhada.
Não deu.
Fui até a São Manoel abraçar um amigo que perdeu o pai.
Os olhos alagados da mãe dele estavam lá. Muitas mães estavam lá.
Um pouco antes do encerramento, o padre disse que no final daria um santinho de presente para aquelas que deram a luz e pediu, por favor, que ninguém se apresentasse mentindo.
Precisava guardar alguns para a próxima celebração.
Estranhei.
Mas como não sou do rebanho...
Depois, no mesmo tom, falou: "ele aceita quem o teme."
Ele Deus, de Deus ele falava. Deus aceita quem o teme.
Bem, sou dada a medos, muitos.
Tenho medo de assalto, de atropelar um pedestre, de ser atropelada por uma bicicleta, de ter ter câncer antes de ter Alzheimer, de ver o que não posso.
Mas de Deus não tenho.
Nunca tive. Tampouco do pai, da mãe e do espírito santo.
Tenho medo da maldade, do desamparo e de malucos.
No mesmo dia, encontrei duas.
Dando uma volta na quadra com os meus quadrúpedes, vi uma empurrando um carrinho de bebê.
Fui espiar a criancinha e lá estavam eles, os furões.
Quatro. Perfeitamente cobertos e perfumados.
Furões, pra os que não sabem, são animais carnívoros pertencentes à família dos mustelídeos, sendo parentes próximos do cão. Não sei se latem e mordem. Suspeito que não andem.
A outra, encontrei na missa em que fui abraçar o meu amigo que perdeu o pai.
Beata old school e enfeitada de rosários e lágrimas levava, no corpo, cuecas surrupiadas do filho.
Cuecas, em brasileiro, roupa íntima masculina.
Felizmente, não as vi. Estávamos longe dos banheiros. Obrigada, senhor!
Do anuncio que chegará o dia em que usarei as do meu filho, não escapei.
Usarei?
Deus me livre de viver para saber.
Bem, sou dada a medos, muitos.
Tenho medo de assalto, de atropelar um pedestre, de ser atropelada por uma bicicleta, de ter ter câncer antes de ter Alzheimer, de ver o que não posso.
Mas de Deus não tenho.
Nunca tive. Tampouco do pai, da mãe e do espírito santo.
Tenho medo da maldade, do desamparo e de malucos.
No mesmo dia, encontrei duas.
Dando uma volta na quadra com os meus quadrúpedes, vi uma empurrando um carrinho de bebê.
Fui espiar a criancinha e lá estavam eles, os furões.
Quatro. Perfeitamente cobertos e perfumados.
Furões, pra os que não sabem, são animais carnívoros pertencentes à família dos mustelídeos, sendo parentes próximos do cão. Não sei se latem e mordem. Suspeito que não andem.
A outra, encontrei na missa em que fui abraçar o meu amigo que perdeu o pai.
Beata old school e enfeitada de rosários e lágrimas levava, no corpo, cuecas surrupiadas do filho.
Cuecas, em brasileiro, roupa íntima masculina.
Felizmente, não as vi. Estávamos longe dos banheiros. Obrigada, senhor!
Do anuncio que chegará o dia em que usarei as do meu filho, não escapei.
Usarei?
Deus me livre de viver para saber.
Qué bella forma de hurgar en tu interior, sin medias tintas. Me encantó leerlo en portugués sin haber entendido algunas partes. Sobre todo eso del miedo a la maldad, que debe lindar con la traición y la falta de escrúpulo. Esos monstruos grandes...
ResponderExcluirAbrazo.
Cuervo, entendo o sentido, o resto é o resto.
ExcluirE a gente vai aprendendo "no serviço" como diz o Primeira Pessoa.
Beijoss :)
êêê...!
ResponderExcluirprimeirinha!
De Bípi, grito: obrigada Senhor Pastor!!!!
Bééééééé!!!!
beijo!
Carla,
Excluirbééééé rsrsrs
Que tal o nosso rebanho de bípedes?
Ser bípede nesse mundo não é pastp, não!!!
beijoss :)
Lelena, adorei o texto.
ResponderExcluirP.s.: Adoro ser o dindo do Henrique. Bjs.
Marcelinho, o pequeno bípede adora você!!
ExcluirE eu também.
Beijoss :)
Lelena,
ResponderExcluirLelena,
Domingo de mães:)é nisso que vai toda a sua comunhão com a vida, mesmo que ela esteja custando os olhos da cara, sem tivesse sido necessária a primeira no rigor da liturgia da igreja.
Bjss,
José Carlos
José Carlos, quando o domingo de mães termina é como se finalmente se fizesse a luz :)
ExcluirQue alívio!!
Beijoss
Se eu posso pensar que Deus sou eu, tenho o que temer? Hum...não sei...:-))
ResponderExcluirBeijos, Lelena, muito bacana o seu texto.
Taninha,
ExcluirTanto tempo que não escuto essa música.
Vou buscar no youtube.
Obrigada pelo bacana. Eu adoro a palavra BACANA.
O pequeno bípede diz que é coisa de gente antiga.
Então, eu gosto de ser :)
beijoss
Gostei muito, Lelena.
ResponderExcluirBeata old school que se preze usa cuecas de gola alta ;)
cheers
Marco,
ExcluirVocê não imagina o que as beatas usam por aqui.
É de deixar os padres sem batinas!!
beijoss
que delícia de crônica Lelena, nuvens afiadas no dia a dia, e são tantos os medos, tantos
ResponderExcluirbeijos
Assis, obrigada :)
ExcluirEu estou descobrindo as nuvens do dia a dia agora e estou gostando de encontrá-las.
beijoss
Os medos! Os pavores horríveis!!!
ResponderExcluirLivrar-nos deles que há de? Nem deus com gancho, lá da altura das nuvens que desmoronam sobre a terra dos homens sem cabeça, bicho de 7 cabeças, não tem pé não tem cabeça...!!!
beijos, beijos, beijos! Tô com tanta saudade de
tu, minha amiga querida!!!
Ci, também estou com saudades...
ExcluirMuitas.
Mais do que a minha quantidade de medos:)
beijoss
Adorei o texto!!! Beijo!
ResponderExcluirFabi, obrigada :)
ExcluirFico contente.
Tenho gostado muito de ler os seus.
beijoss
Genial, dei boas risadas. beijos.
ResponderExcluirObrigada, Maia.
ExcluirVocê não é de elogiar. Então, um comentário positivo é um comentário positivo!
beijoss
que texto maravilhoso!!!
ResponderExcluirObrigada, Edu.
ExcluirUm domingo por escrito às vezes fica melhor do que um domingo pela gente vivido.
beijos :)
Helena,
ResponderExcluirComo eu gosto deste género de ovelhas negras! :)
Grande texto!
Beijo :)
AC, eu gosto de ovelhas brancas, mas as coloridas...
ExcluirObrigada elogio :)
beijoss
lelena,
ResponderExcluiracho que você achou a sua veia nisto das escrevinhações.
e está contando as coisas de um jeito que é (só!) seu e já dá pra notar que houve avanço de texto pra texto...
no mais, é aprender sem pressa e cada vez mais "no serviço", praticando, observando, exercendo o ofício e deixando que o tempo se encarregue naturalmente de colocar as peças do quebra-cabeça em seus devidos lugares.
celebro a cronista.
R.Primeira pessoa,
ExcluirSem sua contribuição, você não poderia ter me escrito esse comentário. Muito menos, eu poderia tentar cronicar.
Sozinha, teria sido apenas um problema crônico a mais pra eu resolver :)
Obrigada por todas as opiniões e dicas.
Beijoss
magnífica entrada, Lelena!
ResponderExcluirbeijo, de oveja negra a oveja negra*
Rayuela, oveja negra, receba o meu beijo também :)
Excluirrsrsrr, missa, missão...tudo isso é raro, raríssimo.
ResponderExcluirRaro e raríssimo, pelo menos pra mim :)
Excluirbeijoss
Que delícia de crônica, tu escreves com tanta desenvoltura, criatura!
ResponderExcluirOutro beijo*
(Detalhe: embora eu seja uma ovelha desgarrada também fui batizada por um furão)
Obrigada, Cris.
ExcluirTou me divertindo com o mundo das crônicas.
Beijoss :)
Que furão foi esse que te batizou??
acreditas que tenho mais que medo, pavor, de um dia perder o medo?... terá isso que ver com essa história das ovelhas brancas e negras?...
ResponderExcluirsobre o medo que não temes: sempre me meteu uma enorme confusão a contradição de semear a paz pela mão do medo, acreditar no amor de um rosto temível, ou anunciar paraísos de tons claros e nuvens luminosas sobre infernos de línguas de fogo. hum...
beijos, lelena!
Eu não aceito amor pelo medo.
ExcluirPrefiro morrer a adorar quem me ameaça.
Logo, a lógica de um Deus sabe tudo e indiscreto a bisbilhotar e decidir a minha vida, me ofende.
Entendo quem entende e sente diferente.
Mas não consigo sentir de outra forma.
Já me bastam os medos reais para ter ainda de carregar os questionáveis.
Beijoss
Bí,
ResponderExcluirabri lá o trem pra cmentarssss!!!!
beijão na pé das orêi!
(de quem é os ilustramento cabeçalho?)
Carla, irei lá em breve :)
ExcluirO ilustramento é meu rsrs
Eu gosto de desenhar e colorir. Gosto muito!
beijoss
Lelena...esse bloguinho (como chamas) tá um blogão! Eu tô adorando essas crônicas...
ResponderExcluirbj, bj!
Dani, o bloguinho anda mais animado agora com essa versão mais cronicada da vida :)
Excluirbeijoss
tão elegante o teu texto, querida...
ResponderExcluirum beijo.
Obrigada, Eleonora :)
ExcluirBeijoss
revejo-me na tua crónica e nas palavras de Saramago, um Deus castigador não pode ser Deus
ResponderExcluire fim!
beijinho
Laura,
ExcluirPerfeito!!
E fim :)
beijoss
Lelena,
ResponderExcluirO Deus do Antigo Testamento inspira malucos e inflama o ódio de psicopatas [os Anjos Vingadores das Injustiças Sofridas, como o rapaz de Realengo que sofreu bullying na infância, na mesma escola onde assassinou outra geração de alunos, num ato de "vingança póstuma"], não só nos filmes hollywoodianos. A versão de Deus onitroantemente estampada naqueles livros, de Deuteronômio a Reis I e II, passando por aquela preciosidade de conluio/aposta contra Jó [Deus e seu Rival parecem bastante emparelhados em sua Amoralidade, e muito mais interessados no resultado da tal disputa], é mais efetivo para inspirar mentes desequilibradas do que Holden Caulfield, do Apanhador no Campo de Centeio. Ainda que reconheça que este último também é livro de cabeceira de outros malucos.
Um beijo, moça.
Então, eu não negocio com quem não dá as caras.
ExcluirNão gosto de contrato por procuração.
Seja antigo ou seja novo.
Acreditar em gentes já me basta como desafio.
Beijoss
Lelena,
ResponderExcluirFiz meu comentário sem ler os comentários já feitos. Uma vez que acabei de lê-los, e vi tuas respostas a eles, devo dizer algo não-tão -óbvio-ululante: sou essencialmente religioso, bastante religioso, inclusive, mas fundamentalmente anticlerical. Anticlericalismo e religiosidade não costumam convergir. Mas este é o meu caso. Deus é uma presença de fundo inequívoca na minha vida, mas não é um deus trovejante como Jeová/Javé e seus congêneres: Zeus, Adad, Baal, Thor, Perkunnas, Taranis, Júpiter, este deus tribal de povos conquistadores e cheio de "caprichos meteorológicos", quer tais caprichos ribombeiem nos céus ou fumeguem no alto dos montes, ou queimem na sarça ardente. Dá tudo na mesma. Este tal deus dos raios, de terceira categoria, onitroante, eu já exorcizei e mandei pastar em latim castiço. Ele gosta destes preciosismos litúrgicos.
Entonces, ele não está no quadro de meus medos, mas não por desconsiderá-lo, mas sim aos textos demasiado-humanos que pretendem "revelá-lo". Em suma: minha fala acima, crítica e dura "quanto à letra" e ao clero, não é a de um ateu, o que não é tão óbvio-ululante sem este adendo.
Outro beijo!
Eu nunca fui uma pessoa de fé.
ResponderExcluirCresci contando mortos em frente a porta da igreja.
Cresci vendo beatas separando o que é comida de empregados e o que é de patrões.
Cresci vendo deus ficar pequeno.
Até que um dia ele morreu.
Talvez tenha sido essa a minha escolha: entre morrer de desapontamento e matar o senhor da dor, matei.
E espantosamente não fui para a cadeia.
Beijoss
Graças a Deus Deus não existe!
ResponderExcluirGraças!! :)
Excluir