No ano passado, fui ao shopping Barra ver a exposição sobre o Titanic.
O assunto é velho, eu sei. Mas eu sou, de certa forma, uma pessoa repetitiva e antiga.
Muito.
E isso não é porque eu sou tipo assim uma criatura de outro milênio como afirma o meu pequeno bípede. Eu já era antes da virada.
Se houve alguma vida em mim antes da minha, provavelmente, a vivi sob os 25 quilos medievais de uma armadura.
Tenho certa vocação para ser de aço.
Quando eu era criança, passando-me por um ser fora de moda, quebrei o lustre de cristal que havia sobre a cama dos meus pais. Não resisti à haste de metal frio e a balancei de lá para cá, gritando homens ao mar.
Na minha cabeça, naquele quarto havia uma inundação.
E onde há inundação, há afogados.
Na exposição sobre o Titanic, cada ingresso valia um boarding pass.
Já escrevi sobre isso aqui no bloguinho.
O meu dava direito a um beliche na terceira classe.
E o meu me fez de novo mulher. Não foi o Roger Vadim nem Deus, ainda que eu tenha vindo com nome de alma. Alma Cornelia alguma coisa, uma sueca com um monte de filhos, viajando sem o marido e sem falar língua nenhuma além da do desamparo.
Essa fui eu.
Morri, é claro.
Morri também na semana passada.
Na semana passada, entrei em um sonho que se chamava Alice Entalada bem Debaixo do Ventilador de Teto .
No Alice entalada, havia naturalmente um buraco. Vertical e fundo como deve ser um buraco que se preze.
No meu buraco caí fugindo de um Tsunami.
Antes de encontrar um telhado pra subir, eu tinha de encontrar o meu pequeno bípede, a figurinha que agora me data como quinquilharia do passado.
Encontrei o Fifus. O Fifus é o neto do Bono, o melhor cão do mundo. Por dois dias, o Fifus se chamou Tchê. Como não demonstrou talento revolucionário nem espírito gaudério, enfifou.
E vai muito bem, obrigada.
No Alice Entalada bem Debaixo do Ventilador de Teto, assim que recolhi o quadrúpede, pisei sobre umas tábuas e caímos até a metade.
E foi só eu cair para o pequeno bípede mostrar os olhos de curumim lá em cima.
Vai embora, corre que a água está chegando, gritei.
Ele pareceu não entender.
Então, surgiu outro rosto. Rosto que conheço como o meu, que mapeio como o meu.
Salve-o, pedi.
E quase, quase vi em seus olhos o desenho de um sim.
E onde há inundação, há afogados.
Na exposição sobre o Titanic, cada ingresso valia um boarding pass.
Já escrevi sobre isso aqui no bloguinho.
O meu dava direito a um beliche na terceira classe.
E o meu me fez de novo mulher. Não foi o Roger Vadim nem Deus, ainda que eu tenha vindo com nome de alma. Alma Cornelia alguma coisa, uma sueca com um monte de filhos, viajando sem o marido e sem falar língua nenhuma além da do desamparo.
Essa fui eu.
Morri, é claro.
Morri também na semana passada.
Na semana passada, entrei em um sonho que se chamava Alice Entalada bem Debaixo do Ventilador de Teto .
No Alice entalada, havia naturalmente um buraco. Vertical e fundo como deve ser um buraco que se preze.
No meu buraco caí fugindo de um Tsunami.
Antes de encontrar um telhado pra subir, eu tinha de encontrar o meu pequeno bípede, a figurinha que agora me data como quinquilharia do passado.
Encontrei o Fifus. O Fifus é o neto do Bono, o melhor cão do mundo. Por dois dias, o Fifus se chamou Tchê. Como não demonstrou talento revolucionário nem espírito gaudério, enfifou.
E vai muito bem, obrigada.
No Alice Entalada bem Debaixo do Ventilador de Teto, assim que recolhi o quadrúpede, pisei sobre umas tábuas e caímos até a metade.
E foi só eu cair para o pequeno bípede mostrar os olhos de curumim lá em cima.
Vai embora, corre que a água está chegando, gritei.
Ele pareceu não entender.
Então, surgiu outro rosto. Rosto que conheço como o meu, que mapeio como o meu.
Salve-o, pedi.
E quase, quase vi em seus olhos o desenho de um sim.
"Tenho certa vocação para ser de aço" / "E quase, quase vi em seus olhos o desenho de um sim." buscas cristais para uma navegante em imagens.
ResponderExcluir"Titanic.
O assunto é velho" escreve bem quem transformar um velho tempo em algo não chato para leitura de agora.
Como "Alice Entalada bem Debaixo do Ventilador de Teto",
Ediney, obrigada :)
ExcluirA Alice tava entalada também nos meus dedos, por isso, não tive escolha a não ser escrever.
beijoss
Gostava muito do seu registo anterior, mas prefiro este, mais pessoal, a condizer com a sua linda face...))
ResponderExcluirObrigada, Salvador :)
ExcluirBeijoss
Lelena,
ResponderExcluirNão é quase :) é puro talento que sai da sua pena, com uma leveza, que nenhum Titanic afundaria, ainda que chegasse ao fundo. Nada a detém na criatividade, incluindo os sonhos.
beijoss,
José Carlos
José Carlos, será?
ExcluirSerá que a minha pena não pode colidir em mim feito um iceberg? rsrs
Entre tantas formas de morrer, acho que afogamento é umas das piores.
Até nos sonhos, dói.
Beijoss e obrigada :)
Delicioso de ler, Lelena.Não é sempre que se morre duas vezes...
ResponderExcluirBeijinhos.
Parole, obrigada :)
ExcluirEu morro praticamente uma vez por semana.
Sete vidas.
Nine lifes by Paul Varjak ou que for é pouco pra o meu espírito de gato em corpo de gente rsrs
beijoss
lelena,
ResponderExcluirjá ficaria cativada pela escolha da ilustração, é bárbara! ainda vem um texto tão bacana... você é uma cronista de mão cheia!|
um beijo!
Eleonora, também achei incrível a ilustração. Muito expressiva e simbólica, com uma narrativa intensa.
ExcluirQuanto ao cronista, a aventura é recente, mas tou gostando, principalmente, porque, de certa forma, me divirto.
beijoss :)
El agua viene y avisa de repente. La imagen es una maravilla. Un abrazo.
ResponderExcluirA água vem de fora, vem de dentro, congela, desgela, evapora, vai, volta, inunda, hidrata sempre assim de repente!
Excluirbeijoss e bem-vindo ao bloguinho :)
Gostei muito deste texto :))
ResponderExcluirCS, obrigada :)
ExcluirFico contente.
beijoss
um talento para afogamentos, seria isso, ou todos os líquidos em único copo, ou tempestade sob o sol, adorei o sonho da Alice no espelho d'água,
ResponderExcluirbeijo
Assis, talento para me afogar em copo de água, gota de água, partícula de gota de água, eu tenho. Oh, inundação que nunca cessa!
ExcluirBeijoss :)
Entrar no seu blog foi como cair no buraco do coelho da Alice mesmo. Quantas maravilhas!
ResponderExcluirEntão, volte e volte tranquila que aqui não tem rainha de copas nem rolam as cabeças ainda que eu me enrole um pouco na minha :)
Excluirbeijoss
Certamente!
ExcluirTão belo, tão bom de ler; seu texto teve ampla ressonância em minha alma. Bjos
ResponderExcluirAero,
ExcluirOs seus têm na minha.
Fico contente que os meus cheguem em você.
Beijoss :)
Sim, achei muito legal a sua crônica, lelena. cheia de esperança, apesar das conturbaçoes nela contidas, claro, o que denota suas inquietações, suas "pisadeiras", seus receios e inquietações cotidianas.... mas, moça, o que seria da raça humana sem a luta e sem a esperança? o que seria de nós, bípedes, sem a "santa, bendita, esperança"? a beleza da vida tá é na jornada, lelena. a beleza não tá no antes. não tá no depois. portanto, fodam-se os opressores, esses "chacinadores" do porvir. nos resta desejar morte aos ditadores, desprezo aos manipuladorese similares... lembre-se: quem tem a poesia na alma marcha ao som de seu próprio tambor.
ResponderExcluirabração do
r.
Primeira Pessoa, vou precisar da segunda e da terceira do singular e do plural pra te responder. Que os tambores às vezes impõem um ritmo difícil de descrever, ritmo como o da esperança. Então, as perguntas ficarão um pouco sem respostas enquanto penso o que responder.
ExcluirBeijoss :)
Afogar-se no sono e nos sonhos ("dormir é quase morrer").
ResponderExcluirbj
Talvez, desmaiar seja uma pequena morte. A gente vai e volta a algum luga sem lembrar de nada, saber pra onde foi, por quanto tempo e porquê, não é?
ExcluirBeijoss :)
Helena,
ResponderExcluirSe quer que lhe diga, nem sei de qual dos seus géneros de escrita gosto mais. Gosto de todos, pronto. E muito!
Beijo :)
Obrigada, AC :)
ExcluirEu também gosto muito do que você escreve.
Beijos :)
Tô te lendo como se olhasse uma nova Lelena. Lelena em um novo gênero, que não deixa de revelar a criatividade de sempre, mas que revela mostra outros compartimentos da alma. Estás indo muitíssimo bem, por sinal. Aliás, tu vai alguma coisa ruim, só pra variar? rs Onde toca é criativa e original.
ResponderExcluirBeijos,
Cozinho mal.
ExcluirEstaciono mal.
Costuro mal.
Canto mal.
Nado mal.
E por aí vai :)
Beijoss, Taninha.
:-)) Escreve superbem, desenha que é uma maravilha, caminha nas nuvens com a segurança que eu gostaria de ter...enfim, tem mais e mais talentos certamente, pra que mais? :-)
ExcluirBeijos, Lelena
Taninha, a gente caminha em nuvens pra não se atolar em terra firme.
ExcluirO que parece ser uma vantagem, às vezes, é só um disfarce rsrsrs
Beijoss
adoro descobrir-te nestas crónicas...
ResponderExcluirno fim há sempre luz, ainda que seja um ínfimo raio de luz, não
beijinho
Laura, também estou me descobrindo :)
ExcluirE, sim, sempre há luz.
Beijoss
gostei demais Lelena!
ResponderExcluirbeijos
Obrigada :)
ExcluirQue bom te ver aqui!
Beijoss
- basta! - disse um dia. - basta de naufrágios, afogamentos até à raiz do braço nos barcos dos outros, titanics e icebergues para que nunca comprei bilhete e cujas viagens me impõem. descobri que, na maior parte das vezes, é o meu titanic que mete água sem nunca naufragar... alaga-se, inclina-se, faz gemer, mas mantém-se firme, à borda da água. se o comum dos mortais tem 70% de água no corpo, serei eu, já, neptuno ou aquário sem nemos ou alforrecas. e grito de água para água: há imagens que devoram.
ResponderExcluirbeijinho, cronista-poeta!
Jorge, de água para água: há imagens, palavras, gestos, pessoas, pensamentos. Como você disse, Titanics alheios.
ResponderExcluirMuitos.
Alguns inalcançáveis. Insaciáveis. Quase insuportáveis...
beijoss
Bípede,
ResponderExcluirescreves muito bem! Um AC disse aí em cima que gosta de tudo o que você faz, eu concordo que você é fera!
Beijinho.
Coelho, o AC é um exagerado :)
ExcluirE você também!! rs
Beijoss
Bípede, perdoe a minha mente lasciva, mas o titulo 'Vertical e Fundo' remeteu-me imediatamente para outros (con)textos...))
ResponderExcluirE estou cada vez mais parvo... rarar
Salvador, entendo perfeitamente bem sua mente lasciva porque pela minha passam contextos diferentes também.
ExcluirE fico contente que você veja nesse buraco vertical e fundo outros buracos. Que quantos mais buracos maior o texto!
beijoss :)
Eu não digo que estou cada vez mais parvo? Estou, pois? O 'rarar' com que terminou o meu comentário anterior era para ser um 'riso' sob a forma de rsrsrs...
ResponderExcluirSalvador, entendo parvonices como entendo bipedices. Vi o riso :)
ExcluirBeijoss
Se teu rosto não existisse eu mesmo desenhava.
ResponderExcluirBeijo, Lele das nuvens!
Cris, meu rosto não me é tão nítido. Meus olhos não se vêem com muita clareza porque andam cansados e às vezes falta luz sobre o espelho e sobre a minha mente que deveria, se fosse boazinha, manter-se iluminada em mim. Então, pode ir fazendo uns esboços que qualquer hora vou precisar de um desenho, sim!!
ExcluirBeijoss