Um Homem e uma Mulher executam a partitura das dúvidas de uma relação amorosa. O momento foi transcrito em pauta musical para ser tocada ao piano, em duo.
Tocaram a melodia
Lelena Terra Camargo (Marfim) e Eleonora Marino Duarte (Ébano), em concerto intimista...
Tocaram a melodia
Lelena Terra Camargo (Marfim) e Eleonora Marino Duarte (Ébano), em concerto intimista...
ÉBANO E MARFIM
Meus dedos não tocam um cemitério de pianos.
«Os pianos não têm cemitérios, eles ficam flutuando em nossos ouvidos, dando aos sentidos um sentido de eternidade, depois de ouvir, por exemplo, Bach, quando você se senta ao meu lado e viaja comigo em silêncio pelas notas ou pela estrada.»
Exceto pelo livro que leio.
«O livro que leio é um “livro policial”, que envolve questões de estado, coisas com o governo e traz regras e jogos que não posso explicar a você, mas você gostaria das frases, as destacaria, as coleccionaria até, pois os detalhes lhe interessam, as minúcias, os pormenores, enquanto que o meu gosto é pela visão geral»
Meus dedos tocam um cemitério de mal entendidos, se é que é assim que
se escreve.
«É assim que se escreve, mas não é assim que deves sentir. Os mal entendidos eu os entendo com um certo lamento, mas não muito, lamento mas não demoro mais do que uma respiração na lamentação. Estamos entendidos?»
E tocam porque não escrevo com os dedos de outra pessoa, nem leio com
o par de olhos dela.
o par de olhos dela.
«Toco com os meus dedos os pianos que não tenho e que não invento, pois os toco através de tocar os seus cabelos quando estas distraída e eu não sei se pensas em mim ou se lembra de outro. Se pensas Nela, perdes os teus pensamentos, desperdiça-os»
«toco os dedos dela»
Dele.
Mãos e olhos dele.
Mãos e olhos dele.
«Os dedos e os cabelos dela foram tocados, transfiro o toque para os teus. Sou um transfigurador de toques, um improvisador de sentimentos… toco-lhe os dedos, os meus dedos tocam-lhe a palma da mão macia, mas ela não sente, está viajando até o passado e pensa se penso nela, na outra, uma outra que já esteve no lugar dela»
Leio e digito com meu par de óculos arranhados e com a solidão do meu
tempo e das minhas palavras.
tempo e das minhas palavras.
«leio e digito com o meu par de óculos usados e com a bendita solidão do meu tempo e das minhas palavras.»
Leio tentando dizer do afeto que sei.
«Leio e acho que sei o afeto que dou.»
Afeto carregado com o seu nome composto de homem e com seu corpo à
prova de silêncio, distância e morte.
«Afeto feito do seu calor, da boca que abres ao vir beijar-me, das vestes que tiras ao cobrir-se comigo, das palavras sussurradas entre um suspiro e uma solidão repentina.»
Afeto voador aprisionado tamanho o peso.
«afeto que me afetas na peso das tuas dúvidas e me afeta mais que não tenhas segurança em ser segura por mim, entre as minhas mãos que não são uma extensão das mãos de um Deus protector!»
Aço em vez de pluma.
«Tu és emoção em vez de razão
eu sou ação, razão e emoção»
Sentimento em que coexistem os verbos de nossas línguas e do nosso
eterno: “eu não sei escrever e você não sabe ler”.
«sinto-me inseguro por sua insegurança. Não quero te ler, quero que te leias e me contes sobre si, de forma breve, entre beijos e alegres sorrisos, sem peso, sem pena. Conta o que sentes e eu te consolo dano-lhe a maior das coisas que tenho, o meu furor, a minha delicada ira desenfreada pela pele do teu corpo, pelo odor do seu amor.»
Dois analfabetos do querer.
«Sou Alfa e Beta do desejo, mas não sei dizer como queres ouvir, só sei penar ao teu ouvido ouvindo o teu gemido..»
Dois gulosos por pedaços seja de felicidade ou de mágoa.
«Não existem mágoas, existem decepções. A mágoa foi inventada pela mulher.
(a minha gula é pela felicidade de saber que nunca te conquistei, que és segura, que és madura e que no fim da noite, me ponhas a dormir, como um bebê…)»
Quando escrevo a ele, tu, ele entende você.
«nada entendo quando me escreves, tudo sei quando me amas...»
Quando ele me diz você, às vezes, entendo ela.
«quando te digo amor, dizes-me que disse a ela. Eu disse a ela, mas o “Ela” agora é você.»
E aí ela sou eu.
Ou ela é ela?
Ou ela é ela?
«Ela são todas as Elas que terei ou tive. Elas são para mim o Elo. És o meu Elo da vez, és a Ela de agora.»
Ele diz que ela não é ninguém.
«Ela e tu são o que somos, partes, desencadear, vida que segue. Não serão ninguém, porém, se alguém amanhã vier a ser uma Ela. Mas se Ela quiser rever-me ou jurar-me amor, a vaidade vai me fazer pensar, não Nela, mas no elo que deixei dentro dela»
Mas se ela não é ninguém por que eu não posso ser eu?
«Ela e tu não são ninguém. Eu e tu somos nós.»
quando o ébano e o marfim se encontram: entre alguém, ninguém, algures ou alhures. E se inscrevem e escrevem a rota de um desassossego,
ResponderExcluirbeijoooos
Assis, vamos teclando e trocando aqui e ali e acolá com boa vontade que com boa vontade se vai ao longe se vence o desassossego (nossa, quanto S nessa palavra!)
Excluirbeijoss
Bipe, se eu fosse coreagrafar essa música começaria com um gentil plié de apresentação mútua. O duo entra numa valsinha, passa logo pro tango forte, pisam no pé um do outro, e vai se arrastando a milonga até terminar num baita vanerão! Aqueles de CTG que dá tiro no final.
ResponderExcluirTati,
Excluirvisualizei o baile rsrs
até parece os lá do Porteira do Rio Grande na minha Vacaria!!
Beijoss
Um dueto que "encena" o diálogo que propõe a poesia e eu amo aquelas que conversam comigo, pois me é quase impossível não respondê-las.rs. Exuberante, Lelena é o mínimo que posso dizer.
ResponderExcluirBeijinhos.
Parole, foi uma experiência praticamente nova. Há algum tempo fiz uma com a Joelma, que também gostei muito.
ExcluirEssa com a Eleo nasceu de uma conversa no facebook a partir de uma frase do Francisco Coimbra sobre o passado.
Eu adorei participar. Foi bem bacana pra mim.
beijoss
Lelena,
ResponderExcluirobrigada por tocar/trocar comigo!
a experiência me encantou, assim como o seu texto.
:)
eu adorei muito, muito, muito...
um beijo!
Eleo, eu também adorei :)
ExcluirVocê é um encanto cheio de energia, talento e afeto.
beijosss
Este seu ebony & ivory coincide com um momento em que, depois de meses, abro meu piano para algumas canções dos Beatles. Que espaço incrível este seu, Lelena. Um beijo de parabéns.
ResponderExcluirMarcelo, escuto no carro ebony & ivory.
ExcluirGosto desde menina.
Fico contente de te encontrar aqui :)
Beijoss
Se eu fosse escolher os instrumentos apostaria no oboé e no fagote, naipes de madeira, falta o osso duro de roer.
ResponderExcluirosso duro de roer aparece na última hora no último momento, não é?
Excluirbeijoss
Ah, li e lerei de novo, porque está aí uma dupla admirável. As duas são de uma originalidade e sensibilidade especiais. Só podia dar coisa boa!
ResponderExcluirbeijos,
Taninha, gostei de escrever a mais mãos.
ExcluirUma hora dessas vamos escrever juntas também??
Beijoss
Olá!
ResponderExcluirO texto uma viagem... Lindo demais!
Abraços!
Tania, bem vinda ao bípede!!
ExcluirViajar é tão bom.
Fico contente que você tenha feito a sua.
beijoss
Um texto perfeito elaborado a duas mãos fictícias e lindamente conseguido.
ResponderExcluirBeijinhos,
obrigada, mfc :)
ExcluirFoi muito bacana escrever com a Eleonora.
Beijoss
nossa... que construção...!
ResponderExcluir(suspiro)
Oi, guria!
ExcluirPor onde você anda??
Fico feliz de te encontrar aqui.
Beijoss
dei voltas e voltas ao teu texto... perdi o fôlego... li do meio, li do inicio, li do fim...
ResponderExcluirno final percebi que no fundo temos diálogos com o nosso outro eu...
beijinho
Laura, o texto funciona inteiro, funciona dividido, pode se ler o ébano, o marfim. Tanto faz.
ExcluirEu gostei muito de escrever com outra blogueira.
Beijoss
Uma fabulosa "tocata" num concerto de sentimentos delicados expostos por mãos finamente talentosas.
ResponderExcluirPARABÉNS, gurias!!!
beijos p'ras duas
Ci, foi super bom escrever com a Eleonora.
ExcluirQualquer hora vamos escrever alguma coisa juntas?
Eu queria escrever com muitos blogueiros que admiro.
Beijoss
Ai, ai, ai! Será que eu consigo?
ExcluirNem tenho um "piano"...! :))
Mas, quem sabe, né?
beijoss
Ci,
ExcluirNão tenho a menor dúvida.
Aliás, vamos começar a pensar um tema.
Eu posso fazer como a Eleo e eu fizemos: escrever um trecho e te mandar.
Aí você continua como quiser.
O que acha?
Beijoss
Gostei, gostei mesmo muito.
ResponderExcluirUm dueto para continuar, embora, por mais que tentem, nunca vislumbrem um fim. A recompensa está no tentar, no ousar, no não desistir. Depois, cada caso é um caso, cada história desenrola-se por si só. Só assim há algum sentido dentro de sentido nenhum. De resto, é um desafio e tanto. Apetecível, diga-se.
Beijo :)
AC, eu não sou de natureza competitiva.
ExcluirGostaria de ser mais. Talvez, andasse mais rápido que a minha bipedice é meio lenta rsrs
Mas eu adoro desafios.
Gosto de me desafiar e me dar os parabéns ou os pêsames rsrs
Beijoss
Voltei para reler. E fui ficando, e fui lendo, e fui lendo/ouvindo, música que sacia delicadamente...
ResponderExcluirBeijo :)
AC, que honra te reencontrar aqui :)
ExcluirBeijoss
Homem e mulher a revelarem que se encontram pela pele e amor, dificilmente na palavra pela palavra.
ResponderExcluirE nós, o que queremos? Queremos tudo! Palavra e emoção, amor falado e corpo.
Beijos e um findi pleno de emoções e palavras inpiradoras de vida!
Anna Amorim
Ops!
ExcluirAcho que entrou duas vezes rsrs
Bom final de semana pra você também.
Eu já estou de volta. Vim pra casa antes do domingo que domingo não é um bom dia para estradas.
beijoss
Meu computador estava engasgando. Pq sou gulosa e ás x ele não dá conta.
ExcluirBom viajar, bom voltar!
Beijos,
Anna, deve ser um computador feliz, cheio de vida :)
Excluirbeijoss
Homem e mulher a revelar que se encontram pela pele e amor, dificilmente pela palavra.
ResponderExcluirE nós, o que queremos? Queremos tudo! Palavra e coração, corpo e amor falado.
Beijos e um findi pleno de emoção e palavra de vida!
Anna, somos gulosos, cheios de quereres, não é?
ExcluirPelo menos alguns de nós.
"Eu gosto dos que têm fome"!!
Beijoss :)
Lena,
ResponderExcluirÉbano e Marfim me lembrou Duas águas, um rio. Um livro de poemas escrito a quatro mãos por António Ramos Rosa e Casimiro de Brito, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1989. Lá, como aqui, se trava "um mágico diálogo" que resulta num texto delicioso. Aliás, quando duas artistas da palavra se juntam é depuração por parte delas e fruição pelo leitor.
bjss,
José Carlos
José Carlos, não conheço esse livro.
ExcluirVou procurar.
Fiquei muito curiosa.
Escrever com a Eleonora foi uma provocação boa, um prazer.
Um dia, vamos escrever juntos??
o que acha?
Beijoss :)
Bão demais, Bípede!!!
ResponderExcluirBão demais é bão demais :)
ExcluirBeijoss
Gurias, ficou muito bom mesmo! super original :)
ResponderExcluireu tava muito curiosa pra ver o resultado e adorei. o texto tem vida própria.
beijosss
Dea, eu gostei também rsrs
ResponderExcluirtou numa modéstia de dar dó hoje! :)
vamos escrever também?
beijosss
li, reli e fui trelendo viajando
ResponderExcluirtrigostei
Parabéns & Parabéns!!!
beijos
Vais, que bom que tri gostou :)
ExcluirFoi tri gostoso escrever.
beijoss :)
Bípede, li e reli.
ResponderExcluirMeu alcance foi o encontro de almas:«nada entendo quando me escreves, tudo sei quando me amas...» e mais:Dois analfabetos do querer.
Concluo que o amor escreveu a Grande Obra e sempre será assim: SENTIR.Parabéns as autoras, aplausos de pé!
Gostaria de ter deixado meu comentario também no espaço da Eleonora mas nao consegui, deixo aqui.Beijos nos corações!
Olara,
Excluiralegra-me te ver aqui relendo.
eu que sou dada a releituras, fico entusiasmada com quem também é.
E, sim, acho que o seu alcance se parece com o meu e com o da Eleo :)
Beijoss