
Ufa! A verdade é que é um alívio ver 2009 partir.


Então, finalmente, me despedi do macbook branquinho do senhor bípede e voltei para o meu pretinho básico e um tanto quanto espancado pelo meu pequeno bípede e seus bípedes amigos, mas fiel aos meus dedos e generoso em seu teclado brasileiro e sem mistérios. E voltei no primeiro dia de chuva, chuva de verão, já levemente bronzeada dos três dias de areia e de um mar milagrosamente limpo, movido a pequenos e fartos cardumes de criaturas menores ainda.
E voltei sentada à mesa com vista para o mar e para amar da cidade que me inspira desde as primeiras ondas, daquele tempo em que até o sol sorria mais simpático, e a gente podia andar de bicicleta e se estatelar nas esquinas sem correr o risco de ser assaltada ou ridicularizada por esse um zilhão de gentes que chega para ver os fogos de amanhã. 


bem mais que a tal curva perigosa alardeada pelo Drummond, que não vai entrar nesse post, porque este post não é para iniciados e letrados, o Drummond é sábio e elegante demais para estar nele; este post é para os que acreditaram piamente no mundo Disney e no Papai Noel, entre os quais se inclue a tal criatura que agora escreve, a qual jamais foi loira nem andou de trenó nem nunca usou sapatinhos de cristal, porque, no castelo em que vivia levava vantagem quem fosse de vidro e colasse com ciclete e não quem tivesse cara de princesa ou de rena, com exceção de quem tivesse alma de madrasta, que alma de madrasta é um lance irado,
tipo assim, um vírus imortal e poderoso, e também o negócio era andar de botas, atirando a varinha de condão no gato e, se a situação ficasse assim chique, a opção era um pisante de aço mole, mole feito os corações perfurados daqueles que serviram como molde para armaduras, qualquer modelo até o tipo bailarina, a la Audrey full of grace and classe, e que não entra aqui de jeito nenhum porque, assim, bonecas de luxo não são bem-vindas,
só as de lixo, desde que bem reciclável, que vive uma ecochata na mente de quem agora escreve, e, preste atenção, não venha dizer que é psicografia, que, por falta de pagamento, a companhia fodafone local do alô alô além cortou as linhas e cancelou o número e foi um viva nos acuda porque deus foi embora sem preocupar-se em deixar um duplo fazendo pose de bonzinho, deixou, pensando melhor, alguns companheiros, daqueles que ssssssssibilam, e que, não entram aqui por excesso de mau gosto, porque a coisa toda pode rolar e despencar no grotesco e no bizarro, nunca na maldade; só na leveza de quem suporta ter um espelho e um ego para lá de mágicos.




Estava no shopping. O mundo Noel em uma ataque não mais surpreendente oferecia às ricas almas cristãs uma trilha sonora made in Hollywood. Dava quase para ver o Gene Kelly dançando entre as vitrines. Guardas-chuvas, depois da temporada aquática, não avistava nenhum. Uma bolsa de praia grande e colorida cheia de guarda-sóis desenhados assumia a sua versão verão. Dava-se para dizer que era uma bolsa bacana, mas a criatura que a espiava jamais, nem vivendo cem anos, conseguiria substituir a made in RJ, comprada quase que de graça na feirinha de Ipanema. A criatura estava tentando escolher um presente, de si para si, com todo o seu heróico amor. Antes de sair de casa, havia feito uma vistoria em todos os cômodos, nos armários, até na sapateira, em busca de um desejo. A criatura desejava ter um desejo, uma inspiração mágica que a fizesse ouvir os famosos sininhos e embarcar em um trenó de renas, mas o movimento era intenso, os duendes empurravam-se apressados, boxeando-se com suas sacolas.
A criatura foi ficando assustada e nauseada. Dores nas costas vieram competir com a dorzinha esquerda da perna esquerda. Uma certa paranóia de gripe A também veio fazer companhia, mãos demais deslizavam sobre os corrimões das escadas rolantes. Mãos demais para um único Natal. Então, caminhou para rua, em busca do carro em meio a tantos carros e, mais uma vez, desejou o mesmo presente impossível de todos os anos e ficou parada no estacionamento sob o sol escaldante, olhando pra cima, esperando um super herói qualquer cair do céu.
Havia um tempo em que a pequena criatura juntava-se com a mãe para colocar as bolas vermelhas sobre o pinheiro verde, ouvindo a mãe explicar o resultado perfeito porque as duas cores eram complementares. Havia um tempo em que os embrulhos ficavam guardados no armário do quarto da madrinha Laíde, na parte bem alta, no maleiro sem malas, que a pobre madrinha nunca viajava, e a pequena subia em um banco, subia em uma prateleira e espichava o pescoço e o olhar para tentar acreditar que o Papai Noel existia.